O imbróglio sobre a falta de um espaço seguro para motoristas de aplicativo próximo ao aeroporto de Salvador pode finalmente chegar ao fim. A Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob) e a Vinci Airports, concessionária responsável pelo Salvador Bahia Airport, possuem um projeto de revitalização de um estacionamento desativado para receber aqueles que aguardam o chamado dos passageiros que desembarcam todos os dias na capital baiana.
O local escolhido fica na Avenida Tenente Frederico Gustavo dos Santos, pouco antes do famoso bambuzal soteropolitano. Atualmente, os motoristas de plataformas como Uber e 99 já utilizam uma via interna, exatamente em frente ao estacionamento. A informação foi revelada pelo secretário de Mobilidade, Pablo Souza, aos âncoras do programa Bahia Notícias no Ar, da Antena 1 Salvador 100.1 FM, Mauricio Leiro e Rebeca Menezes.
“Nós fizemos um projeto junto com a Vinci pra acomodar os motoristas de aplicativo que ficam naquele acesso do aeroporto. Anexo à região onde eles ficam tem o antigo estacionamento, então aquela região vai ser revitalizada para que esses motoristas por aplicativo possam ter ali uma condição bacana de acolhimento, com toda a estrutura que eles precisam para poder estarem bem acomodados e desenvolverem o seu trabalho”, apontou o gestor.
Estacionamento ficará antes do bambuzal | Foto: Reprodução / Google Street View
Segundo Souza, a gestão do estacionamento será feita pela própria Vinci, mas a ideia é que os motoristas não precisem pagar por sua utilização. “Não vai ser cobrado nada dos motoristas de aplicativo pra estarem lá. Esse modelo de remuneração, a Vinci tem trazido uma referência de outras cidades em que o passageiro pagaria uma taxa simbólica, no valor de um ou dois reais, pra puder ajudar a fazer a manutenção desse espaço, e a gente ofereceria aí todas as condições, da melhor maneira possível”, explicou. “Mas essa questão da taxa ainda está em estudo, em avaliação por parte da Vinci. A regra básica é que não vai onerar em nada aos trabalhadores”, completou o secretário.
O titular da Semob ainda apontou que os projetos já foram aprovados pela Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), e que a Vinci já deu início a intervenções próximo à área de desembarque, mas que ainda não há previsão de quando o estacionamento será liberado para os motoristas. “Essas obras já se iniciaram, mas as obras que se referem ao projeto que eles chamam de ‘Kiss & Fly’, que é uma zona de embarque e desembarque dos passageiros no aeroporto. Na sequência, eles vão atacar essa área dos motoristas de aplicativo, pra poder oferecer uma condição melhor pros trabalhadores daquela região com todo o conforto, com toda a comodidade, e sem não é um tipo de cobrança”, concluiu.
O Bahia Notícias procurou a assessoria da Vinci Airports para confirmar detalhes do projeto. Em nota, a concessionária confirmou que está desenvolvendo um projeto contemplando um estacionamento para motoristas de aplicativo no Aeroporto de Salvador. “A iniciativa tem como objetivo contribuir com a organização da operação e a melhoria da experiência de passageiros e motoristas. Paralelamente, o aeroporto também implantará um projeto de reorganização do meio-fio para melhorar o tráfego da área de embarque e desembarque, aponta a nota.
Placa do sistema Kiss & Fly do Aeroporto de Ponta Delgada, em Portugal | Foto: Divulgação
SISTEMA KISS & FLY
Apesar de não dstalhar na resposta enviada ao BN, a empresa já teria compartilhado em reuniões realizadas nas últimas semanas a instalação de um novo modelo de embarque e desembarque.
Adotado em diversos aeroportos ao redor do mundo, como o de Lisboa ou o de Ponta Delgada, em Portugal – ambos também sob administração da Vinci -, o sistema “Kiss & Fly” visa otimizar o fluxo de embarque e desembarque com maior segurança e fluidez, especialmente em horários de pico, além de coibir o transporte clandestino.
O projeto adotado em outros equipamentos funciona por meio de cancelas com tempo de permanência limitado – em média 10 minutos – para que condutores deixem ou busquem passageiros. Após esse período, seria cobrada uma taxa fixa.
A proposta, contudo, já tem gerado um burburinho. De acordo com o site Ei Táxi, ao tomar conhecimento do projeto na última semana, o presidente da Associação Geral dos Taxistas, Denis Paim, criticou o fato de apenas parte da categoria ter participado das discussões sobre a mudança, e que é preciso diálogo para evitar problemas para os profissionais. “E se for um passageiro cadeirante, por exemplo? Vai haver tempo extra? Como fica o pagamento? Tudo isso ainda não está esclarecido”, destacou.
IMPASSE ANTIGO
O debate sobre a falta de um espaço adequado para os motoristas de aplicativo é antigo, e envolve uma série de polêmicas.
A Uber, primeira empresa do setor a atuar na Bahia, chegou à cidade em 2016 sob forte fiscalização da prefeitura de Salvador – à época, o então prefeito de Salvador, ACM Neto, se disse contra o serviço, mas pregou cautela. Em abril daquele ano, a Câmara de Vereadores chegou a aprovar um projeto de Lei, proposto pelo vereador Alfredo Mangueira (PMDB), proibindo a atuação da plataforma.
Desde então, plataformas similares ganharam cada vez mais força, e se tornaram comuns na cidade. Estima-se que a capital e a Região Metropolitana de Salvador já contem com uma frota de aproximadamente 40 mil motoristas de aplicativo ativos. O número, inclusive, está bem acima do limite definido pela lei que regulamentou a atividade na cidade, aprovada pela Câmara de Salvador em 2019. De acordo com o PLE 258/18, o número máximo de motoristas que poderiam atuar nas vias da cidade era de 7.200, mesma quantidade de licenças de taxistas.
Ao longo dos últimos anos, a fila de carros na via interna da na Avenida Tenente Frederico Gustavo dos Santos apenas cresceu, e diversas barracas de alimentos, bebidas e até serviços se espalharam pela calçada. Porém, a ocupação nunca foi exatamente pacífica.
Motoristas criticam frequentemente as multas aplicadas pela Transalvador na região, que geraram protestos da categoria nos últimos anos. Além disso, as barracas instaladas em frente ao estacionamento também foram alvo de órgãos da prefeitura. Em 2023, por exemplo, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e a Guarda Municipal retiraram as estruturas de ambulantes que não possuíam autorização dos órgãos municipais.
Em outubro do mesmo ano, o então vereador Átila do Congo, que foi eleito como representante da categoria, informou que tentou alugar o estacionamento desativado, mas que a proposta foi rejeitada pela Vinci, que já teria um projeto para o local. Procurada pelo Bahia Notícias, a Vinci explicou à época que não aceitou a proposta de aluguel porque “tem como premissa estabelecer contratos comerciais com pessoas jurídicas”. “Mantemos um canal de diálogo constante com empresas de transporte por aplicativo em busca de viabilizar a melhoria contínua na experiência dos motoristas e passageiros”, disse o grupo em nota.
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