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A COP30 é na Amazônia, mas a Caatinga também fala

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Em novembro, o Brasil vai sediar a COP30, a grande conferência mundial sobre clima, que acontecerá em Belém do Pará, será um marco histórico. Naturalmente, as atenções se voltam para a Amazônia, que é símbolo global de biodiversidade e equilíbrio climático. Mas, enquanto o mundo enxerga a floresta, nós aqui no Nordeste sabemos que a crise climática também se expressa de forma dura e concreta na Caatinga: chuvas cada vez mais irregulares, solo mais frágil e comunidades que dependem de muita resiliência para se manter em seus territórios. Não estamos apenas observando um debate global, somos parte dele.

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A COP30 deve discutir temas que já deveriam estar no centro do debate público há muito tempo: redução de emissões, investimentos para adaptação, transição energética e o chamado “financiamento climático”, ou seja, quem vai pagar a conta da crise. Países em desenvolvimento, como o Brasil, cobram que as nações ricas assumam suas responsabilidades históricas. E estão certos. Mas, ao mesmo tempo, também precisamos olhar para dentro: de que adianta exigir do mundo o que ainda não garantimos aqui?

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O Brasil chega a essa conferência com um discurso forte de proteção ambiental, mas com contradições que nós, que estamos no território, percebemos claramente. De um lado, há sinais positivos: redução do desmatamento na Amazônia, fortalecimento de órgãos ambientais e retomada do diálogo internacional. De outro, continuam os conflitos em áreas indígenas, a pressão sobre o Cerrado, a expansão desordenada sobre a Caatinga e a tentativa recorrente de flexibilizar o licenciamento ambiental. Não existe coerência climática se cada avanço vier acompanhado de três retrocessos.

Como advogada ambientalista atuando em projeto de conservação no bioma Caatinga, vejo diariamente o valor daquilo que muitas vezes o Brasil insiste em ignorar. A Caatinga é resistente, sim, mas não é infinita. Ela guarda espécies únicas no mundo, conhecimentos ancestrais e um modo de vida que ensina a conviver com a seca, e não a combatê-la como inimiga. Porém, ainda é tratada como bioma “menor”, como se sua perda fosse menos grave. É esse olhar que precisa mudar, e a COP30 é o momento ideal para fazer essa virada.

Também é indispensável reconhecer o papel dos povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e agricultores familiares. Esses grupos não estão “à margem” da solução: eles são a solução. São eles que preservam, manejam, cuidam e protegem territórios essenciais para regular o clima. Na COP30, suas vozes precisam ser levadas a sério, não apenas fotografadas para discursos bonitos.

Quando o mundo se reunir em Belém, não estaremos apenas “assistindo” de longe. O futuro discutido lá também passa por nossas estradas de terra, nossos quintais, nossos umbuzeiros e mandacarus. Se o Brasil quer mesmo liderar a luta climática, precisa reconhecer todos os seus biomas. A Amazônia é gigante, mas a Caatinga também importa, e quem vive nela sabe que o tempo da mudança não é amanhã. É agora!

DRª MARLENE REIS


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