Com a consciência limpa e a palavra firme, iniciamos mais uma reflexão e esta semana é sobre a situação dos partidos políticos no Brasil que no meu entender, refletem uma crise de identidade e um profundo distanciamento de princípios ideológicos. Onde o que se vê no cenário atual é que partidos que se denominam de esquerda ou direita abandonam suas pautas e princípios históricos para formar alianças que muitas vezes não têm qualquer coerência com suas bandeiras. Essas coligações e alianças eleitorais são feitas não em prol de um projeto ideológico ou de uma visão de sociedade, mas por mera conveniência de poder e oportunidade de vencer as eleições. Esse fenômeno gera não apenas uma enorme confusão ideológica, mas também um desgaste na credibilidade dos partidos e na confiança do eleitor.
Em muitos casos, candidatos que são eleitos por partidos de direita, mas que defendem pautas e posicionamentos de esquerda, assim como candidatos de esquerda que se aproximam de ideais e políticas tradicionais de direita. Essa incoerência vai além das conveniências eleitorais e revela uma desconexão entre os partidos e a própria base filosófica que os define. Essa realidade gera questionamentos entre os eleitores, que se perguntam se ainda faz sentido diferenciar ideologias partidárias no Brasil atual.
Aqui no município de Euclides da Cunha, a situação não é diferente. Temos vereadores que foram eleitos por partidos como PSD, PT e PDT, cada um com uma identidade ideológica específica no cenário nacional. O PT, tradicionalmente identificado com pautas de esquerda, tem uma história de defesa de políticas sociais, enquanto o PSD ocupa uma posição mais central, e o PDT, historicamente trabalhista, também defende uma pauta de centro-esquerda. No entanto, será que os vereadores eleitos por esses partidos realmente conhecem e seguem a ideologia e os princípios das siglas que representam?
O que parece ocorrer é que, muitas vezes, esses partidos funcionam apenas como uma sigla na qual o candidato se filia para viabilizar sua candidatura, sem necessariamente um comprometimento com a ideologia do partido. O eleitor, então, acaba votando em um nome ou em uma figura pública, sem uma noção clara de qual projeto ou visão de cidade essa pessoa representa. Em vez de atuarem como representantes ideológicos, muitos vereadores parecem atuar mais como representantes de interesses pessoais ou de grupos específicos, distantes das pautas partidárias que deveriam defender.
Essa situação reforça a descrença na política e a ideia de que, no Brasil, os partidos são apenas ferramentas para se chegar ao poder, sem um compromisso real com mudanças ou com projetos que beneficiem a população de forma concreta. A flexibilidade exagerada de princípios e ideologias acaba não só confundindo o eleitor, mas também enfraquecendo o próprio sistema partidário, que perde sua função representativa e vira apenas uma máquina burocrática para a conquista de cargos públicos.
A pergunta que surge, portanto, é se os eleitores deveriam se preocupar em diferenciar ideologias partidárias ou se o cenário atual exige uma nova forma de avaliação. Talvez o caminho seja que o eleitor passe a olhar menos para a sigla e mais para o histórico e a postura dos candidatos, para tentar identificar se estão realmente comprometidos com um projeto de cidade, estado ou de país. Afinal, partidos e alianças que não respeitam suas próprias pautas não conseguem cumprir o papel de representar a população e garantir uma política orientada para o bem comum.
Em última análise, o que se espera é que os partidos retomem seu papel ideológico e representativo, trazendo para o centro do debate propostas e valores que tenham coerência com suas histórias e princípios. Caso contrário, a política seguirá sendo um palco de conveniências, no qual os interesses pessoais e grupais falam mais alto do que as necessidades da sociedade. Por esta semana ficamos por aqui e que essas palavras ecoem para quem ainda tem esperança em algo melhor.
Autor: Rubenilson Silva Campos (@rubenilson_campos_)
Advogado, servidor público estadual e atual vice-prefeito de Euclides da Cunha.