Em 1906, um dos jornais mais respeitados do mundo, o New York Times, estampou em letras garrafais: “HÁ VIDA NO PLANETA MARTE”. O que parecia a descoberta do século era, na verdade, fruto de uma imaginação aguçada e de uma febre marciana que tomou conta de cientistas, inventores e até da sociedade da época.
A reportagem, assinada pela jornalista Lilian Whiting, descrevia com entusiasmo as observações de Percival Lowell, um importante astrônomo que afirmava ter visto redes de canais gigantescos cruzando os desertos marcianos.
Na opinião do cientista, aquelas marcas vistas em Marte eram mais do que coincidências naturais: formavam, em sua visão, uma rede monumental de canais planejados para sustentar vida. Coube a Lilian Whiting transformar essa convicção em manchete, levando ao grande público a ideia de que o planeta vermelho abrigava uma civilização avançada.
Quando manchetes sobre Marte viram notícia
Curiosamente, mais de um século depois de ter alimentado o imaginário popular com relatos de vida em Marte, o mesmo jornal voltou a se envolver em outra “descoberta” marciana. Em 2021, em plena era digital, uma publicação acidental fez leitores acreditarem, ainda que por poucos minutos, que o planeta vermelho escondia frutas exóticas em seus desertos.

A notícia, publicada por engano, afirmava com tom de seriedade que “autoridades diziam que o aumento de frutas alienígenas era o responsável por uma superprodução de melancias no espaço”. O texto seguia descrevendo até mesmo a intervenção do FBI, que teria interceptado kiwis cósmicos. A peça, evidentemente absurda, foi deletada em menos de uma hora, mas já havia se tornado viral.
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Se em 1906 a certeza de um astrônomo já foi motivo para o jornal apostar na existência de vida fora da Terra, em 2021 bastou um rascunho publicado por engano para reavivar a mesma tradição. Dos canais marcianos às melancias espaciais, o New York Times acabou mostrando, ainda que sem querer, que Marte continua sendo o cenário ideal para histórias que misturam ciência, imaginação e uma boa dose de humor.
A febre marciana que nunca passa
As ideias de Percival Lowell sobre os canais em Marte podem ter incendiado a imaginação popular, mas também despertaram fortes críticas entre cientistas de sua época. Alguns colegas chegaram a ironizar seus desenhos astronômicos, insinuando que ele estaria tão obcecado pelo planeta a ponto de projetar seus delírios em outros mundos.

Apesar das contestações, o fascínio por Marte logo ultrapassou os círculos acadêmicos e se espalhou pela sociedade. A chamada ‘febre marciana’ tomou conta da cultura no final do século, marcando presença em peças publicitárias, espetáculos da Broadway e até em debates acadêmicos e sociais
Com o passar do tempo, a ciência desmontou as interpretações mais fantasiosas, mas o legado cultural permaneceu. Mais de um século depois, a mesma mistura de curiosidade, exagero e imaginação ainda permeia tanto descobertas legítimas quanto manchetes enganosas. Marte continua sendo um espelho das nossas esperanças, medos e narrativas, sempre aberto a novas interpretações. Com informações do portal Futurism.
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