Tudo sobre China
Depois de semanas de incerteza no setor automotivo, o governo brasileiro conseguiu garantir com a China o fornecimento de chips usados na produção de carros. A medida evita que o país enfrente uma nova crise de desabastecimento, como a que paralisou fábricas durante a pandemia de Covid-19.
O acordo foi articulado após o alerta da Anfavea, associação que representa as montadoras, sobre a possibilidade de falta de semicondutores. O risco surgiu por causa de uma disputa entre a China e a Holanda envolvendo a fabricante Nexperia, subsidiária da Wingtech e uma das maiores fornecedoras do mundo.
Diplomacia rápida: como o Brasil evitou uma nova crise de chips para carros
O alerta começou na última semana de outubro, quando o governo holandês interveio na Nexperia, afastando executivos chineses da direção.
A decisão, tomada por razões de segurança econômica, gerou forte reação de Pequim — que suspendeu temporariamente exportações de semicondutores.

A notícia acendeu o sinal vermelho no Brasil. Isso porque a Nexperia é a principal fornecedora dos chips usados em carros flex.
Para evitar o pior, o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSD), se reuniu com o embaixador chinês Zhu Qingqiao e pediu prioridade nas exportações ao Brasil.
O pedido foi atendido. Pequim prometeu manter o fornecimento, garantindo que as montadoras brasileiras continuem produzindo normalmente, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O conflito global pelos semicondutores
A crise começou na Europa, quando o governo da Holanda interveio na Nexperia. As autoridades holandesas alegaram risco à segurança econômica e assumiram parte do controle da empresa, afastando o fundador da Wingtech da direção.
Pequim reagiu de imediato, acusando a Holanda de “interferir em assuntos internos” e de agir de forma unilateral. Em resposta, suspendeu temporariamente as exportações de semicondutores produzidos na China, o que reduziu pela metade a capacidade global da Nexperia.
O efeito foi rápido. Montadoras europeias, como Volkswagen e BMW, começaram a reduzir o ritmo de produção, com receio de ficar sem componentes essenciais, como transistores e chips de controle.
- Para você ter ideia: cada carro moderno usa de mil a três mil semicondutores — peças que coordenam desde o motor e os freios até o sistema multimídia.
Com o impasse, o mercado automotivo global entrou em alerta, temendo uma nova onda de desabastecimento semelhante à vivida durante a pandemia de Covid-19.
O papel do Brasil nas negociações
No Brasil, a Anfavea alertou o governo sobre o risco de paralisação nas linhas de produção. Alckmin, então, convocou uma reunião de emergência com representantes da cadeia automotiva. Em seguida, procurou o embaixador chinês Zhu Qingqiao.

O movimento deu resultado. O governo chinês prometeu abrir “canais de diálogo” com as montadoras e priorizar o envio de semicondutores ao Brasil, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A medida foi celebrada pelo setor automotivo, que emprega 1,3 milhão de pessoas. Para o presidente da Anfavea, Igor Calvet, a rápida reação do governo evitou que o país revivesse o cenário de 2021, quando a falta de chips obrigou fábricas a suspender turnos e atrasar lançamentos.
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Alívio momentâneo e futuros desafios
Com o acordo firmado, o Brasil afastou o risco imediato de paralisação. Montadoras como Volkswagen e Stellantis confirmaram que seguem produzindo normalmente, embora mantenham atenção ao desenrolar do impasse entre China e Holanda.
O presidente da Stellantis na América do Sul, Herlander Zola, disse à revista Quatro Rodas que acompanha o caso todos os dias e que há um risco iminente de parar a produção pela falta de chips.
Alexander Seitz, chairman da Volkswagen no continente, disse ao site AutoData que a montadora não tem semicondutores em estoque para muito mais tempo de produção. Seitz frisou que o país precisa buscar soluções de longo prazo.
Ou seja: o acordo com a China é um alívio temporário, não uma solução definitiva. Enquanto as tensões entre Pequim e Haia continuam sem resolução, a indústria automotiva brasileira volta a operar em ritmo normal. Mas em alerta.
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