Presidente da Assembleia Legislativa por duas vezes e deputado estadual desde 2007, Adolfo Menezes, do PSD, é conhecido por sua franqueza e pelo estilo direto, sem “papas na língua”. Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ele demonstra isso mais uma vez ao falar sobre temas como a Operação Overclean e o uso da máquina pública municipais por ex-prefeitos que miram as eleições de 2026.
Na conversa, Adolfo falou ainda sobre temas como a disputa pelas vagas ao Senado dentro da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), o possível rompimento do senador Angelo Coronel (PSD) com o grupo e a relação entre pessedistas e petistas. Para ele, não haverá racha entre os dois maiores partidos que dão sustentação ao governo baiano, mesmo se Coronel migrar para a oposição.
Com mais de 30 anos de vida pública, Adolfo avalia o cenário político da Bahia com o olhar de quem já viu muitos ciclos começarem e terminarem. Ele afirma que “a política é dinâmica” e cita Maquiavel para defender que “os homens devem mudar com os tempos”. Questionado sobre os rumores de que pode deixar a Assembleia para assumir um cargo em tribunal de contas, o deputado desconversa, mas admite que o futuro dependerá das circunstâncias.
Confira abaixo a íntegra da entrevista.
Ao mesmo tempo em que reforçou a candidatura à reeleição, o senador Jaques Wagner (PT) descartou, na semana passada, que haverá racha com o PSD por conta da chapa das eleições do ano que vem. Wagner garantiu que a disputa por espaço entre ele, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e o senador Angelo Coronel (PSD) será equacionada. O senhor acredita numa solução sem arranhões?
Acredito. Acho que muita coisa ainda pode acontecer, mas acredito. Na minha opinião, isso será resolvido lá para março do ano que vem, como costuma ocorrer em ano eleitoral. É um bom problema. Temos aí cinco nomes para quatro vagas. Acredito que a única que está garantida é a do governador Jerônimo Rodrigues (PT), o líder atual do nosso grupo. Tem ainda a vaga do vice, que o MDB pleiteia, o que é legítimo. E tem a briga maior pelas duas cadeiras no Senado, que é mais intensa pela importância. Aí temos três nomes para duas cadeiras, como você citou aí. Todos os três têm legitimidade e capacidade para pleitear, evidentemente. Rui foi um excelente governador. Disse que até o final ano decide se vai concorrer ao Senado, o que depende de conversas também com o presidente Lula (PT), afinal o ministro é braço direito do governo federal. Wagner e Coronel são excelentes senadores, e querem a reeleição. Mas alguém vai sobrar. E ser compensado de alguma forma.
“A direita no Brasil está muito dividida. Tem um monte de candidato a presidente. E eles não se entendem.”
Coronel sinaliza que se ficar de fora pode migrar para a oposição. Ele tem boas relações com o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), e tem dialogado com forças oposicionistas. O senhor acredita nessa possibilidade?
Ele (Coronel) tem dito isso, sim. Tem manifestado isso. Mas uma coisa é Coronel, que é meu amigo, ir para a oposição, e outra é o partido, o PSD, liderado na Bahia pelo senador Otto Alencar (PSD). Então, quem vai dar a palavra final sobre o posicionamento do partido em 2026 será Otto, e certamente fará isso ouvindo todos os deputados estaduais, federais, os prefeitos, nossas lideranças.
O senhor iria para a oposição se o PSD tomar esse rumo por conta de Coronel?
Veja, como eu disse, quem fala pelo partido é o senador Otto Alencar. Posso falar por mim. Você perguntou sobre mim. Eu não me vejo na oposição. Estou muito bem na base do governador Jerônimo. Tenho muitos amigos na oposição. Bruno também é meu amigo. O irmão dele, Michel Reis, é um dos meus melhores amigos. Mas isso não tem nada a ver com política, com eleição. Estamos bem colocados em campos opostos, e nos respeitamos desse jeito.
Sabemos que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, defende a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência. Ou seja, o PSD não vai apoiar a reeleição de Lula. Isso pode afetar a aliança da legenda com o PT na Bahia em um cenário em que Coronel fique de fora da chapa?
Eu acho que não. Kassab criou o PSD, mas o partido nasceu aqui na Bahia, com Otto. E Kassab sempre respeitou a autonomia do partido aqui na Bahia. Nunca interferiu nisso. E não acho que vá fazer isso agora, entende? Além disso, a direita no Brasil está muito dividida. Tem um monte de candidato a presidente. E eles não se entendem. E mais: ficam fazendo besteira. Veja aí o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está na nos EUA trabalhando contra o próprio Brasil. Um verdadeiro tiro no pé. O que eu vejo no cenário nacional é o presidente Lula se recuperando, crescendo, enquanto a direita erra, erra e erra.
O Avante também pleiteia um espaço na majoritária de Jerônimo. Acha que tem chances?
Aí então não seriam mais cinco disputando quatro vagas. Vão querer a vice? O Senado? É complicado porque a disputa já é grande. Mas veja que a chapa também tem as suplências. Quem não quer ser primeiro suplente de Rui ou de Wagner? Se Lula estiver forte em 2026, chegar bem na eleição, e se for eleito, pode chamar um dos dois ex-governadores para o ministério. Wagner hoje é líder de Lula no Senado, e Rui já é ministro. Nesse caso, assumiria o suplente. Também é um bom negócio.
O senhor, que está na política há tanto tempo, acredita na possibilidade da adesão do prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo de Carvalho (União), à base de Jerônimo, dentro dessa estratégia do governador e do secretário Adolpho Loyola (Relações Institucionais) de atrair gestores municipais da oposição?
Na política tudo pode acontecer. Eu acho que Zé Ronaldo foi maltratado em 2022 quando não foi chamado para participar da chapa do ex-prefeito ACM Neto (União). E Zé Ronaldo é um homem de valor, que sempre caminhou do lado de lá. É um grande gestor. Não sei se, mesmo que ele não venha para o lado de cá, e ele ainda não declarou nada sobre 2026, se entrará de corpo e alma na campanha da oposição.
“Não sei se, mesmo que ele (José Ronaldo) não venha para o lado de cá, e ele ainda não declarou nada sobre 2026, se entrará de corpo e alma na campanha de Neto.”
Alguns deputados colegas seus reclamam que o governador tem tratado melhor novos aliados, a exemplo de prefeitos que estavam na oposição, do que os antigos. Isso tem acontecido?
Comigo não. Mas sei que alguns se queixam disso. Não tenho nada contra o governador trazer novos aliados, mas não pode esquecer dos antigos. Porque os antigos estão no projeto desde o princípio e devem ter um tratamento melhor do que quem está chegando agora, concorda? Quem está chegando agora não pode exigir o mesmo tratamento, até porque não votou em Jerônimo em 2022. Que vote primeiro, em 2026.
O senhor acredita que vai haver uma renovação grande na Assembleia Legislativa nas próximas eleições? Muitos ex-prefeitos estão chegando fortes na disputa…
Acho que vai, sim, ter uma renovação. Tem muito ex-prefeito gastando R$15 milhões para se eleger deputado desde já. E o pior é que não é dinheiro deles não, é público, das prefeituras. Eles colocaram lá um sucessor que só obedece e, na prática, mandam e desmandam nas prefeituras. Usam descaradamente a máquina. Colocaram um fantoche. Alguns sequer mudaram o secretariado quando assumiram e trabalham exclusivamente para eleger o antecessor deputado. Não vou citar nomes, mas todo mundo na Bahia sabe que isso está acontecendo. E o povo precisa ficar atento.
Há especulações de que o senhor não vai disputar a reeleição, ganhará uma das vagas abertas em um dos tribunais de contas e apoiará a esposa para uma cadeira na Assembleia. É verdade?
Eu já disse que a política é dinâmica. Nada está descartado. Aliás, uma coisa está descartada: não serei candidato a deputado federal. Vou ficar na Bahia. Sobre vaga em tribunal, isso é uma decisão do governador, que também passa pelo meu partido, pela Assembleia, pelos deputados que irão votar pela aprovação ou não. Nunca fui convidado para nenhuma dessas vagas que estão abertas. Só posso falar sobre isso se houver um convite, entendeu? Minha esposa Denise foi candidata a prefeita de Campo Formoso em 2024. Ou seja, ela tem esse desejo também de servir o nosso município e a Bahia de uma forma geral. Mas se isso será agora ou não, temos que aguardar as conjunturas. Como dizia Maquiavel, “os tempos mudam, e os homens devem mudar com eles”. A política segue esse mesmo princípio. É feita de momentos, circunstâncias e decisões que precisam ser tomadas com serenidade e responsabilidade no momento certo.
“Tem deputado (federal) aí que gasta, nos quatro anos, R$300 milhões em emendas. Isso é um desvio total da função parlamentar. Aí tem compra de voto, de apoio político e corrupção.”
A Operação Overclen, da Polícia Federal, que investiga a prática de corrupção na destinação de emendas parlamentares no interior da Bahia, está no encalço de um adversário do senhor, o deputado federal Elmar Nascimento (União), também de Campo Formoso. Como o senhor avalia esse cenário e o impacto dessas investigações na política baiana?
Eu não quero nominar ninguém. Não fico feliz com isso. É muito triste o que está acontecendo com o Brasil. A maioria dos deputados federais não está nem aí para o país e só defendem os próprios interesses. É muita maracutaia com essas emendas, e as coisas estão aparecendo, mas é preciso que haja punição, cadeia. Somente em 2025 os deputados terão, no total, mais de R$50 bilhões para gastar com emendas. Tem deputado aí que gasta, nos quatro anos, R$300 milhões em emendas. Isso é um desvio total da função parlamentar. Aí tem compra de voto, de apoio político e corrupção, como a Polícia Federal, o Judiciário e o Ministério Público estão revelando. E o mais triste é que não há expectativa de renovação da Câmara. Afinal, quem não está lá dentro não tem como competir com isso, não é mesmo? Mesmo deputado envolvido com corrupção e que vota contra a taxação das bets, das fintechs, como aconteceu outro dia só para prejudicar o governo, é reeleito. A politica em Brasília virou um grande balcão de negócios. Ninguém está nem aí para o povo.
O senhor se refere à Medida Provisória (MP) do IOF. O Planalto exonerou aliados de deputados que votaram contra a proposta, inclusive na Bahia, tirando arrecadação do governo em 2026. Acha que isso demorou de acontecer, sobretudo com os parlamentares do União Brasil ligados a ACM Neto?
Não acho que demorou. Acho que o governo sempre tem a esperança de poder negociar no Congresso a aprovação de matérias de interesse do governo. A gente sabe que o presidente Lula não foi eleito com uma boa base na Câmara. Então, precisou negociar. Esperava que esses deputados que têm cargos retribuíssem, ajudassem o governo. Agora, já perto da eleição, viu que isso não ocorreu com todos e começou a tirar essas pessoas.
Fonte: política livre
Descubra mais sobre Euclides Diário
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.