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Advogado que trabalha para poderosos e milionários mostra rotina de luxo nas redes

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Advogado que trabalha para poderosos e milionários mostra rotina de luxo nas redes

Foto: Divulgação
Nelson Wilians na porta de seu escritório ao lado de cartum feito para ele por Laerte 15 de fevereiro de 2025 | 11:40

Advogado que trabalha para poderosos e milionários mostra rotina de luxo nas redes

Faz 37 anos, mas a frase do pai ainda está na cabeça de Nelson Wilians Fratoni Rodrigues, 53:

“Você nunca vai me decepcionar. De você, só espero o pior.”

“Isso me deu resiliência. Meu pai não colocava nenhuma fé que eu seria alguém”, afirma.

A vida do advogado Nelson Wilians é um acerto de contas com o passado. Ele relembra a história no escritório que ocupa um dos sete andares que possui em prédio no Brooklin, zona sul de São Paulo.

Na profissão em que seus colegas preferem agir nos bastidores, muitas vezes não gostam de falar com a imprensa ou aparecer nas redes sociais, Wilians faz do cultivo da sua imagem uma marca registrada.

“Eu estou na advocacia e tenho o que todo mundo que almeja sucesso gostaria de ter. Pensei: vou fazer da minha vida um reality show”, relata.

Fez. Vídeos no Instagram e Tik Tok mostram o dia a dia em sua mansão no Jardim Europa, um dos bairros mais caros na cidade, ao lado da mulher Anne e dos quatro filhos. Posta imagens de seu caminho para o trabalho, viagens de helicóptero ou jato e momentos no escritório.

A captação é profissional, com drone, se necessário.

Ele acumula 1,2 milhão de seguidores no Instagram, onde exibe orgulhoso a estatística de 177 milhões de visualizações de seu perfil em um mês. No TikTok, são 1,6 milhão de fãs. A frase “bom dia, Giba”, que aparece em algumas postagens, fez com que seu motorista, Gilberto, criasse uma conta no Instagram. Ele hoje tem 392 mil seguidores.

“Passei a ser um referencial para jovens. Não só advogados. Todas as carreiras. Eu saio na rua, as pessoas começam a tirar foto comigo”, conta.

No ambiente jurídico, o comportamento é reprovado. Quando seus vídeos de autopromoção vão longe demais na opinião da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ele recebe notificações. Advogados ouvidos reportagem consideram pitorescas as ações de Wilians nas redes sociais. Alguns dizem ir contra o espírito do direito. Ganhou apelido de ostentador. Nada que o preocupe.

Trata-se de estratégia em área que considera ir muito bem: vender a própria imagem.

“Exibido, eu sempre fui. Nunca tive vergonha das minhas conquistas. Não basta ser bom. Tem de parecer bom”, completa.

Nenhum outro advogado do país tem uma linha própria de funko pops, bonecos de vinil colecionáveis. Não são vendidos. Ele dá de presente para amigos ou admiradores. Em sua mesa, está o protótipo que será produzido para o Carnaval, em que está com uma cuíca na mão. Nas festas juninas, estará segurando uma enxada.

Nelson Wilians mandou fazer um boneco de Olinda inspirado em si mesmo. O seu personagem alter ego, o “Dr. Nelsinho”, foi desenhado pela cartunista Laerte. Tudo o que seu escritório produz tem a imagem do advogado, em fotos, desenhos ou bustos.

Na sala de espera, a TV não está sintonizada em nenhum canal. Repete vídeos de Nelson Wilians. O seu nome ou iniciais estão em tudo. Canetas, blocos, caixa de charutos, calendários e barril de cachaça…

Ele abre o iMac e mostra vídeo que é paródia da abertura do desenho “Os Simpsons”. Mas, em vez dos famosos personagens Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie, estão Nelson, Anne e os filhos Benjamin, 6; Adam, 5; Tina, 3; e Helena, 2.

Reforçar a marca nunca é demais para quem na juventude jamais ouviu o pai chamá-lo pelo nome. Na faculdade, em Bauru, ele não era Nelson Wilians. Sempre foi apenas “alemão”, por causa da cor do cabelo loiro, hoje escasso. Diz que, entre os professores, não era aposta para ser “alguém na vida”. Seu colega de turma era André Mendonça, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Um dos docentes lhe recomendava voltar para Jaguapitã, a cidade de 13 mil habitantes no interior do Paraná, de onde tinha saído para estudar direito. Mas Wilians não deveria esquecer de, no caminho, comprar uma enxada.

Quando sua turma completou 30 anos de formatura, ele fez questão de chegar à festa de confraternização de helicóptero. Não consegue disfarçar o sorriso ao contar a história.

Outros advogados, embora não falem mal abertamente do colega, se dividem. Há os que o consideram um personagem curioso. Um deles, ouvido pela reportagem, definiu o estilo de ostentação como “cafona”. Também existem os que se mostram perplexos com a questão financeira. Até mesmo sócios de grandes bancas de São Paulo dizem que Nelson Wilians ganha “muito dinheiro”.

Seu escritório tem o maior número de casos de contencioso de massa da América Latina, um tipo de processo comum em empresas com grande volume de causas judiciais. Ele conta que se preparou por cinco anos para participar de licitação do Banco do Brasil que seria a maior da história de serviços jurídicos do país, em 2013. Ganhou em quase todos os estados.

“Era quase R$ 1 bilhão [de contrato]”, afirma.

Ele aparece também em disputas milionárias de heranças. Representou Rose Miriam di Matteo, viúva de Gugu Liberato. Cuida dos interesses das irmãs Ana Carolina e Ana Luiza Aguiar no inventário da mãe delas, Maria Ângela Aguiar, herdeira do Bradesco.

Outra crítica que recebe é por atuar em todos os ramos do direito. Afirma ter 50 sócios e mais de mil advogados à disposição. Isso lhe permite, acredita, se concentrar no que é melhor: o relacionamento pessoal, a conversa. Um juiz, enquanto despachava com ele um processo, chegou a perguntar se Wilians ainda advogava.

Ele hoje tem outras cinco empresas e coleciona, assegura, clientes no mercado de bets.

“Eu não fazia nenhuma questão de agradar outros advogados ou manter um [bom] relacionamento. Um dos motivos é que eu os via como concorrentes, não como colegas. Precisava abrir um mercado. Lógico que, com o tempo, isso mudou”, explica.

Faz marketing de ser o único escritório de advocacia do país a estar em todos os estados. A concorrência torce o nariz e opina que só podem ser franquias. Wilians nega. Todas as unidades são dele e com a mesma identidade visual. Isso significa que, ao chegar, o cliente dá de cara com a caricatura do advogado na porta.

Calcula ter hoje 450 mil processos em andamento em todas as comarcas brasileiras. Seriam 3.000 audiências por mês. Garante já ter sido pior.

Um advogado de Brasília conta ter ido a uma festa promovida por Wilians, na capital federal, em 2023. Cristiano Zanin, então cotado para ser ministro do STF, estava presente, assim como muitos representantes do agronegócio, o que se encaixa no estilo de cultivar amizades e cativar quem pode se tornar cliente. Para chamar a atenção, na porta havia uma Ferrari.

Em São Paulo, os eventos podem acontecer na mansão do Jardim Europa, onde tem 25 carros de luxo na garagem (outros estão no estacionamento do prédio empresarial) e uma adega com 4.500 vinhos. Ele não bebe desde que emagreceu 30 quilos. Só uísque.

Há também a NW Experience no final de cada ano ou em outras datas do calendário, quando julgar necessário. É uma festa da firma elevada à décima potência. A celebração de 2024 reuniu 2.300 pessoas, informa. Havia bandas, decoração de luxo, comida e bebida. Mas a principal atração era Nelson Wilians.

Ele tem um helicóptero com suas iniciais. Recita a marca e modelo dos três aviões que utiliza. O principal é um Legacy 650, fabricado pela Embraer, com valor de mercado de US$ 26 milhões (R$ 157 milhões pela cotação atual).

Anne, sua mulher, cuida do Instituto Nelson Wilians, que advoga gratuitamente para ONGs e instituições filantrópicas.

“Eu nem preciso usar óculos. Mas faz parte do meu personagem”, afirma, ao posar para foto ao lado do cartum com sua imagem.

Antes de ser clicado, ele se lembra de algo.

“Quando eu estava na república da faculdade em Bauru e vivia sem dinheiro, cheguei a estar prestes a voltar para Jaguapitã. Os colegas ouviam sem parar uma música chamada ‘Fogão de Lenha’, do Chitãozinho e Xororó. Eu odiava. Sabe a letra?”

Sem esperar a resposta, ele recita.

“Espere, minha mãe, eu tô voltando. O sonho de grandeza separou você e eu, queria tanto ser alguém na vida, apenas sou mais um que se perdeu.”

Nelson Wilians nem aguarda resposta para finalizar:

“Aquilo era tudo o que não poderia acontecer comigo”.

Nas festas de hoje em dia, faz questão de pedir que a música seja tocada. É mais um acerto de contas com o passado.

Alex Sabino/Folhapress



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