A situação da Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) voltou a causar forte preocupação. Testes recentes apontam que todas as aves reintroduzidas — que viviam livres em áreas protegidas na Bahia — estariam infectadas com o circovírus, uma doença grave e quase sempre fatal para psitacídeos, o que ameaça o futuro dessa espécie já considerada uma das mais raras do mundo. Apesar das evidências, a empresa responsável pelo criadouro contesta os resultados e nega negligência.
Detecção do vírus e extensão da contaminação
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), exames realizados em 11 ararinhas-azuis recapturadas no início de novembro confirmaram infecção por circovírus. A totalidade dessas aves — consideradas as últimas da espécie em vida livre no país — testou positivo, o que representa um revés crítico para os esforços de reintrodução iniciados em 2022. As ararinhas testadas haviam sido soltas na natureza como parte de um programa de recuperação da espécie, que buscava restaurar populações na Caatinga baiana.

Biossegurança, negligência e multas
Falhas no manejo
Inspeções realizadas pelo ICMBio, com apoio do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e da Polícia Federal apontaram descumprimento de protocolos mínimos de biossegurança no criadouro: comedouros sujos, acúmulo de fezes ressecadas, falta de desinfecção diária, e funcionários manejando as aves com chinelos, bermudas e camisetas.
Como consequência, foi aplicada uma multa de cerca de R$ 1,8 milhão à empresa responsável.
Críticas de especialistas
Para especialistas em ornitologia e conservação, o fato de todas as aves recapturadas terem testado positivo indica que o vírus provavelmente já circulava entre os cativos — o que transforma o caso em um surto generalizado, não um incidente isolado.
Segundo eles, a contaminação pode ter começado há meses, o que agrava o risco de contágio para outras ararinhas mantidas em cativeiro ou, pior, para espécies nativas da fauna local.
Empresa responsável contesta acusações
A empresa Criadouro Ararinha-Azul (anteriormente identificada como BlueSky), responsável pelo manejo das aves em Curaçá (BA), negou negligência. Em nota, afirma seguir “protocolos rígidos de biossegurança e bem-estar animal” e questiona a validade dos laudos laboratoriais que apontaram o vírus.
Segundo o criadouro, apenas 5 aves teriam testado positivo em exames mais recentes — e não o lote completo, como afirmam as autoridades. Alega ainda que a contaminação poderia ter ocorrido em vida livre, fora do controle da empresa.
Consequências para a conservação da espécie
A ararinha-azul é uma espécie endêmica da Caatinga baiana e considerada “criticamente ameaçada” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O surto deste vírus representa um retrocesso grave no plano de reintrodução da espécie — que dependia fortemente de manejo cuidadoso e rígido controle sanitário. O risco não atinge apenas essas ararinhas, mas também outros psitacídeos da região, conforme alertam veterinários e biólogos.
Próximos passos e incertezas
As autoridades ambientais agora trabalham na separação dos animais infectados dos saudáveis e na adoção de protocolos mais rigorosos de biossegurança. Também estão em curso investigações para identificar a origem da contaminação — se dentro do próprio criadouro ou fora, em vida livre — o que pode redefinir responsabilidades. O futuro do programa de reintrodução permanece incerto: para que novas solturas retornem a ocorrer, será necessário garantir ambientes totalmente seguros e livres do vírus.
DA REDAÇÃO DO EUCLIDES DIÁRIO
*Com informações da Folha com contribuição de DRª MARLENE REIS
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