Kleber Herculano de Jesus, conhecido como Charutinho, foi executado com 16 tiros na Avenida Nóide Cerqueira, próximo ao viaduto da BR-324, em Feira de Santana, na noite desta segunda-feira (14). Ele foi alvo da Operação El Patrón, que investiga a atuação de uma milícia na Princesa do Sertão, e havia acabado de ser liberado do presídio de Mata Escura.
Segundo informações do Acorda Cidade, parceiro do Bahia Notícias, o veículo em que Kleber estava foi interceptado pelos criminosos, que se fingiram de policiais. Ele retornava para casa com a esposa, a advogada e o motorista, quando os atiradores mandaram todos descerem do carro e efetuaram os disparos. Os tiros atingiram a cabeça da vítima.
Kleber era um dos alvos da Operação El Patrón, que desarticulou uma organização criminosa especializada na lavagem de capitais de atividades ilícitas como jogo do bicho, agiotagem, extorsão e receptação qualificada. O suspeito também tinha envolvimento com milicianos.
A delegada Claudine Passos, coordenadora adjunta da Polícia Civil, realizou o levantamento cadavérico e informou ao Acorda Cidade como o crime ocorreu.
“Kleber Herculano de Jesus saiu do presídio da Mata Escura por volta das 16h, em um Corolla Cross da advogada dele, que também estava no veículo, juntamente com o motorista e a esposa. Acreditamos, pela dinâmica, que estavam sendo perseguidos por dois veículos, provavelmente. Um veículo acaba ultrapassando o Corolla Cross e se posicionando na frente, quando um outro então encurrala o Corolla e o ocupante do último veículo acaba fingindo tratar-se de polícia. Kleber percebe que se tratava de uma emboscada, pede que o motorista dê ré, o motorista tenta dar ré, mas sem êxito. Então, eles desembarcaram do veículo”, detalhou a delegada.
Foto: Ed Santos / Acorda Cidade
Em seguida, conforme relatou a delegada ao Acorda Cidade, a advogada, o motorista e a esposa de Kleber se jogaram no matagal. “Os ocupantes do veículo da frente tiraram Kleber do veículo e deram cerca de 16 a 17 tiros. Todos, basicamente, na região da cabeça, todos de 9 milímetros.”
A prisão de Charutinho, devido ao envolvimento na Operação El Patrón, ocorreu no dia 20 de agosto de 2024. Segundo a polícia, ele também era um dos “cabeças” de uma das principais facções do país e tinha envolvimento direto com o grupo miliciano investigado na operação.
EL PATRÓN
A organização criminosa atuante em Feira de Santana é apontada pelo Ministério Público (MP) como atuante na prática de receptação, contravenção do jogo do bicho, extorsão, agiotagem, lavagem de capitais e outros delitos. Tudo teria se dado ainda na década de 1990, quando a organização criminosa foi constituída.
O deputado Binho Galinha (PRD) teria assumido a liderança do grupo em 2013, a partir do homicídio do bicheiro Oldair José da Silva Mascarenhas, conhecido como Dainho, e ex-sócio de Kléber Cristian.
O monopólio de Galinha no comando das atividades se estabeleceria até os dias atuais, de acordo com o MP. A investigação apontou que a prática da contravenção seria uma das “exclusividades” de Binho Galinha, com o domínio da prática do jogo do bicho, por meio da entidade “ParaTodos”, ampliando a execução de outras atividades, segundo a investigação.
Com atuação em Feira de Santana e em cidades circunvizinhas, o grupo de Binho Galinha teria uma larga extensão. De acordo com o MP foram identificadas pelo menos 13 pessoas, de codinomes “Macaco”, “Vini”, “Charuto”, “Vaguinho”, “Galego” e “Ninito”, entre outros que não teriam sido identificados ainda pelo MP.
No final de junho, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou os efeitos da Operação El Patrón. A decisão foi tomada pelo relator do caso no STJ, Joel Ilan Paciornik, e se deve a argumentos de problemas processuais.
O habeas corpus foi concedido em um recurso impetrado pelo deputado, pela esposa dele, Mayana Cerqueira da Silva, e pelo filho do parlamentar, João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano. Todavia, beneficia os demais réus no processo. Cabe recurso e é aguardado que o órgão denunciante tente reverter o entendimento do STJ.
Segundo o ministro, o relatório do Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], que embasou o início da investigação, não poderia ter sido solicitado diretamente pela autoridade policial sem a devida autorização judicial.
A decisão do ministro relator usou por base o entendimento da Terceira Turma do STJ, que aponta que “o compartilhamento de dados financeiros por meio de solicitação direta pelos órgãos de persecução penal sem autorização judicial é impossível” e que “a autorização judicial é necessária para a solicitação direta de informações sigilosas do COA”. A matéria ainda não tem decisão uniforme no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).
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