O vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin, e o CEO da chinesa Didi, Stephen Zhu, em Brasília 17 de abril de 2025 | 08:51
CEO chinês diz que 99Food vai ampliar pool de restaurantes e que, com Trump, ‘tudo ficou volátil’
O empresário Stephen Zhu, CEO da chinesa Didi, controladora da 99 no Brasil, afirmou em entrevista exclusiva à coluna que o lançamento da 99Food, serviço de delivery da empresa, era “a peça que faltava” para as atuações da companhia no país.
A novidade fará parte do que Zhu chama de superaplicativo. Além de intermediar o transporte de passageiros e finanças pessoais por meio do 99Pay, a ferramenta oferecerá o serviço de delivery de comida de restaurantes.
A empresa anunciou na quarta (16) um investimento que pode chegar a R$ 1 bilhão para a nova empreitada. “Queremos construir uma plataforma única em torno desses serviços que as pessoas não vivem sem. Criando pequenas melhorias, tornando-os mais baratos e acessíveis”, disse Zhu.
A expectativa é que a nova ferramenta seja lançada aos clientes ainda neste ano. O objetivo da empresa é competir no segmento com o IFood, tentando oferecer o mesmo serviço a preços menores. Para isso, Zhu afirma que a 99 investirá em logística, uma rede maior de restaurantes e de motoristas.
A ideia também é criar programas para dar descontos aos clientes —”a cada corrida os clientes podem acumular pontos que se tornam descontos”, explica. A 99 possui hoje mais de 1,5 milhão de motoristas e motociclistas parceiros em mais de 3.300 cidades brasileiras.
Questionado sobre o tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, o executivo evitou comentar o assunto. “Fazemos plataformas de serviços locais. Nosso negócio não tem nada a ver com tarifas. É um pouco difícil para mim julgar se Trump está certo ou errado, se essa tarifa poderia ser um problema para todos. Mas o que sabemos é que é um ambiente muito volátil. Então, qualquer coisa pode acontecer”, avalia.
Já sobre as relações entre Brasil e China, Zhu opina que os dois países “definitivamente” deveriam colaborar mais entre si.
O que o senhor vê no Brasil que o encoraja a investir no país? Vê estabilidade? O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, falava muito mal da China. Isso assustou? Vê alguma diferença entre aquele governo e o de Lula?
Sentimos que nosso negócio é diferente de qualquer outro negócio. Estamos aqui para o [mercado] local e não estamos, por exemplo, [investindo] em importações ou exportações. Estamos aqui para capacitar e construir serviços locais. Acreditamos que, enquanto estivermos criando valor para toda a sociedade, desde usuários a proprietários de restaurantes e entregadores, seremos necessários. Não nos preocupamos com nada.
Como o sr. vê as tarifas de Donald Trump? O presidente norte-americano é uma ameaça para o mundo?
Primeiro de tudo, não temos nenhum negócio nos EUA. E, como mencionei, não temos nenhum tipo de negócio de exportação ou importação. Fazemos plataformas de serviços locais. Nosso negócio não tem nada a ver com tarifas.
É um pouco difícil para mim julgar se Trump está certo ou errado, se essa tarifa poderia ser um problema para todos. Mas o que sabemos é que é um ambiente muito volátil. Então, qualquer coisa pode acontecer. As pessoas realmente terão mais necessidades de se sentir seguras, de saber que seu estilo de vida precisa ser sustentável.
Os EUA podem vencer a China? E que oportunidades essa nova realidade mundial traz para as relações entre Brasil e China?
Novamente, nós gerenciamos um negócio em nosso setor. É muito difícil para mim, representando uma empresa, comentar sobre essas questões políticas. Sabemos que as coisas são muito voláteis. É muito difícil prever e é muito difícil para mim comentar.
Mas em relação à China e ao Brasil, sinto que esses dois países têm tantas sinergias. Definitivamente devemos colaborar mais [um país com o outro]. Acredito que o Brasil é um país incrível, com tantos recursos, uma cultura muito rica. E também há empresas de tecnologia de classe mundial como o Nubank.
Devemos aprofundar os relacionamentos entre países. E como empresa, acredito que o que estamos fazendo aqui também é um esforço do segmento de negócios como um exemplo de que somos muito amigáveis com o Brasil. Amamos o país, estamos aqui para o benefício de todos.
Quando o novo serviço ficará disponível no mercado?
Ainda não temos uma data específica, mas o nosso plano é torná-lo disponível ainda neste ano. Em meados de 2025.
E quanto aos planos da empresa em relação à segurança dos motoristas?
Existem dois tipos de desafios de segurança na indústria. O crime definitivamente é um deles, e o outro são os acidentes de trânsito. Com o entregador, teremos esse alerta de excesso de velocidade. Quando a pessoa estiver dirigindo muito rápido, enviaremos um aviso de que devem desacelerar. E também faremos o nosso melhor para fornecer a proteção adequada, incluindo capacete.
Temos, atualmente, uma parceria com a polícia do Rio de Janeiro. Enviamos dados em tempo real sobre os nossos motoristas. Inovações como essa podem protegê-los.
E qual é o objetivo ao investir no mercado de entregas? O sr. fala sobre sinergia entre os serviços. Vocês querem se tornar a maior plataforma?
Não ancoramos nosso objetivo na escala do negócio ou na participação de mercado. Nosso objetivo é nos tornarmos a plataforma mais acessível e que oferece o melhor serviço.
Estamos em uma posição única no mercado hoje para nos tornarmos esse superaplicativo. Tudo em um [lugar só], onde você encontra combinações entre fintech, alimentação e mobilidade. Isso nos dará mais eficiência, não apenas na forma como gerenciamos os negócios, mas em como fazemos a entrega.
Como a 99 planeja ser mais acessível?
Primeiro, [queremos] ampliar o pool geral de restaurantes. Existem restaurantes menores. Alguns são familiares que vendem comida muito acessível com qualidade boa. Nem todos eles estão nas plataformas [de delivery] ainda.
Em segundo lugar, eficiência. Além do valor da comida, há esse custo da entrega. Se pudermos criar um ambiente onde, em uma [única] viagem, eles [motociclistas] possam carregar vários pacotes de comida, as pessoas vão pagar menos. Com esse tipo de melhorias de eficiência, a base de custos geral dessa indústria melhorará gradualmente.
Mônica Bergamo e Manoella Smith/Folhapress