O comércio local sempre foi a espinha dorsal da economia nas cidades do interior, gerando empregos, renda e fortalecendo os laços sociais da comunidade. Em municípios como Euclides da Cunha, na Bahia, os pequenos mercados, lojas familiares e prestadores de serviços foram, por décadas, os principais responsáveis por sustentar a economia local. No entanto, a chegada recente de grandes redes nacionais ao município tem causado apreensão entre os comerciantes locais, diante da ameaça de uma concorrência desigual.
Supermercados de rede operam com poder de compra superior, logística mais eficiente e marketing agressivo, o que pode atrair boa parte dos consumidores, fragilizando os pequenos negócios. Embora a livre iniciativa seja um princípio constitucional garantido, ela deve coexistir com outros valores fundamentais, como a função social da atividade econômica e a redução das desigualdades regionais. Em um cenário assimétrico, sem políticas públicas de equilíbrio, a livre concorrência pode aprofundar desigualdades e provocar o fechamento de comércios locais.
Além da concorrência direta, há impactos fiscais relevantes. Enquanto os pequenos comerciantes recolhem tributos municipais e contribuem ativamente com a economia da cidade, grandes redes frequentemente centralizam suas operações fiscais em outras localidades ou se beneficiam de incentivos estaduais. Isso enfraquece a arrecadação municipal e sobrecarrega os serviços públicos locais sem a devida compensação tributária.
Por outro lado, um comércio local forte é peça-chave no desenvolvimento regional. Quando bem estruturado, o setor comercial de uma cidade atrai consumidores de municípios vizinhos, movimenta a economia, estimula novos investimentos e gera um ciclo virtuoso de crescimento. Em cidades-polo como Euclides da Cunha, esse dinamismo é essencial não apenas para o crescimento interno, mas para a integração econômica de toda a região.
A valorização do comércio local, portanto, depende de uma atuação conjunta do poder público, da classe empresarial e, sobretudo, dos consumidores. É fundamental que a população — especialmente as pessoas com maior poder aquisitivo — compreenda que escolher comprar no comércio local, em vez de optar pelas plataformas virtuais, significa investir na própria cidade, manter empregos e fortalecer a economia comunitária. Mais do que isso: comprar no bairro e priorizar produtos da agricultura familiar é uma forma consciente de ajudar quem produz a se manter na atividade, gerando renda, autoestima e dignidade para os pequenos empreendedores e agricultores. Cada compra feita perto de casa também contribui para o desenvolvimento e valorização do próprio bairro.
Proteger o comércio local não é ser contra o progresso, mas sim garantir que o desenvolvimento seja justo, equilibrado e sustentável. Cabe ao poder público e às entidades representativas do comércio, além dos próprios empresários, dialogarem com responsabilidade sobre os problemas enfrentados e buscarem soluções conjuntas. Quanto mais empresas se instalarem em Euclides da Cunha, melhor para o desenvolvimento como um todo — principalmente porque isso representa mais oportunidades de emprego, renda e crescimento econômico para toda a população.
Drª Marlene Reis
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