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A cidade de Campo Formoso (BA), que recentemente entrou na mira da Polícia Federal (PF), no âmbito da Operação Overclean, tem cerca de R$ 144 milhões em contratos, fechados desde 2021, com duas empresas que estão no centro da investigação da PF e outra que aparece em auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) que identificou potencial prejuízo de R$ 1,4 milhão em uma de suas obras.
As informações são do Portal da Transparência do município.
A Overclean, deflagrada no fim de 2024, apura supostos desvios milionários em obras bancadas com emendas. Um dos investigados, que fez o caso subir para o Supremo Tribunal Federal, é o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA). O irmão do parlamentar, Elmo Nascimento, é o prefeito de Campo Formoso.
Uma das investigadas na operação, a Allpha Pavimentações, é responsável por contratos na cidade que somam R$ 64,7 milhões, contabilizando os aditivos – quando há alguma alteração no contrato, normalmente aumentando o valor a ser pago pelo serviço.
A Allpha tem como sócios Fábio e Alex Parente, ambos investigados na Overclean.
Dentre os serviços contratados com a Allpha por Campo Formoso, estão a pavimentação e manutenção de ruas do município e o fornecimento de insumos para a pavimentação de vias públicas.
A Larclean Saúde Ambiental é outra empresa dos irmãos Parentes que está na mira da PF. Ela possui apenas um contrato com Campo Formoso registrado na plataforma do município. Somando os aditivos, o valor chega a R$ 8,3 milhões, sendo que o montante inicial foi de R$ 2,8 milhões.
O contrato, que é de 2022, tinha o objetivo de adquirir serviços de sanitização, controle de pragas e combate ao mosquito da dengue em todas as áreas internas e externas dos prédios pertencentes ao município.
A terceira empresa, que mais lucrou em contratos com Campo Formoso, foi a Liga Engenharia. Apesar de não ser investigada na Overclean, a empresa já foi citada em uma auditoria da CGU que identificou um prejuízo milionário em uma obra de asfaltamento da empresa em Lagarto (SE).
Foram R$ 70,8 milhões em três contratos e seus aditivos, entre 2022 e 2024, para recapeamento asfáltico de vias do município e a construção de pátio de eventos.
Como mostrou a coluna, a Liga já recebeu cerca de R$ 74 milhões em emendas cuja rubrica ficou conhecida como “orçamento secreto”.
Overclean
A investigação teve início para apurar desvios em um contrato do Dnocs, mas expandiu seu foco após quebras de sigilo telemático e gravações ambientais que mostraram a atuação de um grupo de empresas em contratos milionários firmados com o governo federal e administrações estaduais e municipais.
Apesar de estar nas ruas há pouco tempo, a Overclean tem causado tensão entre políticos dado seu potencial em atingir padrinhos de emendas parlamentares que bancaram contratos milionários sob suspeita.
Como mostrou a coluna, uma citação ao deputado Elmar Nascimento (União Brasil) fez com que o caso subisse da 1ª instância da Justiça Federal para o STF.
Alex Parente foi alvo de uma ação da PF em 3 de dezembro de 2024. Foi quando a corporação abordou um avião em que ele se deslocava de Salvador para Brasília junto com Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-coordenador do Dnocs na Bahia.
Com eles, foi encontrada o que a PF chamou de “contabilidade clandestina” do grupo. Em 10 de dezembro, sete dias após a apreensão dos documentos, a PF deflagrou a primeira fase da Overclean.
Defesa
A coluna entrou em contato com a cidade de Campo Formoso e com as empresas citadas na reportagem, mas não obteve resposta.