Os preparativos para o 2 de Julho, data que celebra a Independência da Bahia, seguem a todo vapor em Salvador. Entre as ações que antecedem o tradicional cortejo cívico, destaca-se a restauração dos carros do Caboclo e da Cabocla, figuras centrais da celebração e símbolos da resistência dos baianos contra as tropas portuguesas em 1823.
Em entrevista ao BN Hall, o restaurador José Dirson Argolo, responsável pela conservação das peças desde 1997, explicou o processo minucioso que antecede o desfile. “O que fazemos hoje é um trabalho de limpeza química, fixação das policromias que estão se soltando e consolidação das fissuras e rachaduras”, detalhou. Segundo ele, esse cuidado é essencial para preservar a integridade dos carros, que já passaram por diversas intervenções ao longo dos séculos.
O carro do Caboclo foi construído em 1826, apenas três anos após a vitória baiana, e completará 200 anos de existência em 2026. Já o da Cabocla surgiu cerca de duas décadas depois. Dirson lembrou que uma grande restauração foi realizada entre 1997 e 1998, quando os adornos históricos apresentavam acúmulo de camadas de tinta e massa aplicadas de forma inadequada ao longo do tempo.
“Quando fui convidado para restaurar as peças, os traços originais tinham desaparecido. Pareciam figuras deformadas. Tivemos que remover camada por camada com bisturis cirúrgicos e produtos químicos, até revelar novamente a anatomia do Caboclo e da Cabocla”, afirmou.
José Dirson Argolo, restaurador de obras de arte (Foto: Manuela Meneses / BN Hall)
Durante o processo, a equipe também encontrou fragmentos de jornais antigos usados, no passado, para tapar buracos causados por cupins. Alguns desses papéis datam de 1890, 1911 e 1923.
Devido à restauração, o Pavilhão 2 de Julho, localizado no Largo da Lapinha, em Salvador, onde os carros ficam expostos ao público, passou por um período de fechamento. A reabertura oficial será no próximo dia 11, com o anúncio de uma ação especial voltada ao público e programação divulgada nas redes sociais.
Na conversa, Dirson também ressaltou o valor cultural dos carros e como, ao longo dos anos, as figuras do Caboclo e da Cabocla foram incorporadas como divindades nas religiões de matriz africana. “Durante o desfile e nos dias em que ficam no Campo Grande, as pessoas fazem homenagens, levam flores, frutas, bilhetes de agradecimento ou pedidos de graças. É como acontece no Bonfim, uma manifestação genuína do nosso povo”, declarou.
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