“Ando devagar porque já tive pressa…”, opa, movimento musical errado. Esse, inclusive, já é considerado patrimônio cultural imaterial de Goiás em 2023, com um projeto de lei apresentado pelo ex-deputado Chico KGL (UB), que pediu pelo reconhecimento da música sertaneja como um patrimônio do estado.
O reconhecimento nacional da Axé Music deu um grande passo em direção a um final feliz no Senado. A proposta apresentada pela deputada Lídice da Mata (PSB-BA) para a criação de um dia exclusivo para celebrar o movimento identitário da cultura baiana foi aprovada pelo Senado Federal.
Foto: Valter Ponter/ Secom PMS
A partir de agora, o caminho que será feito pelo Projeto de Lei (PL 4187/2024), que sugere o dia 17 de fevereiro como a data a ser marcada no calendário de forma oficial para celebrar o movimento musical, é aguardar pela sanção do Presidente da República.
Em entrevista ao Bahia Notícias no início do ano, a deputada reforçou a importância do reconhecimento nacional de um movimento que conquistou o país nos anos 90, se tornando um dos principais estilos executado em todos os quatro cantos do Brasil.
Para se ter uma ideia do impacto, os grupos baianos que se dedicavam ao movimento Axé Music, chegaram a vender mais de um milhão de discos por ano, durante muitos anos, o auge do Axé. As informações são do estudioso e músico Jonga Cunha.
Foto: YouTube
“Nunca aconteceu isso no mundo, sobretudo por uma cidade. É sensacional, o Axé é uma coisa sensacional. Ter passado não é nada para se entristecer, é a história da vida”, contou ao BN.
Para Lídice, a aprovação do PL é necessária para que o país entenda a grandeza do movimento iniciado em Salvador e a importância dele para a construção da identidade brasileira.
“O Dia Nacional da Axé Música vem no sentido de homenagear a música baiana. Num grande momento que foi nesse período mais recente, em que novos cantores e compositores se lançaram no espaço da música nacional. É um gênero que surgiu na década de 80 e que surge no Carnaval e lança muitos novos cantores, a exemplo daquele que foi considerado o pai da axé, que é Luiz Caldas, nós temos cantoras como Ivete Sangalo, Daniela Mercury, a própria Margareth Menezes, que se lançaram nesse período e se tornaram nomes nacionais e internacionais com esse estilo musical.”
De acordo com o músico do MUDEIdeNOME, o Brasil ainda não viu um movimento tão impactante quanto o Axé.
Foto: Victor Hernandes/ Bahia Notícias
“Dentro dos últimos movimentos musicais, nos dois últimos séculos no Brasil, foi o maior, o mais importante, o que varreu o país, porque além de ser um movimento musical, ele é um movimento social e econômico, um jeito de uma cidade totalmente africana no Brasil. De se comportar, de fazer festa, de dançar, de sair no meio da rua atrás de um caminhão, vestidos com o mesmo abadá. É um jeito baiano que varreu o país durante muito tempo. Então é assim, foi um movimento musical, um movimento social, um movimento econômico, um jeito de ser do baiano que tomou conta do país de forma muito aguda.”
Mas e no âmbito municipal e estadual? A quantas andam a movimentação pelo reconhecimento de um dos estilos mais característicos do Carnaval de Salvador?
ACELERA AÊ?
Em uma pesquisa feita pelo Bahia Notícias pelas proposições criadas por deputados estaduais após 19/01/2021 na Assembleia Legislativa da Bahia, só foi possível encontrar três proposições que citam o Axé Music, sendo elas: um Projeto de Resolução (PRS) para conceder a Comenda Dois de Julho ao cantor Bell Marques; um requerimento para a apreciação do PRS envolvendo Bell Marques; e uma moção de Aplauso ao Governo do Estado da Bahia pela escolha do tema do Carnaval de Salvador 2025 homenageando o Axé.
Foto: Enaldo Pinto/ Bahia Notícias
No âmbito municipal, a proposição mais recente foi feita pelo vereador André Fraga com projetos de indicação para o governador, Jerônimo Rodrigues, o prefeito Bruno Reis e o presidente Lula, para proceder com a transformação do Axé Music como patrimônio imaterial do Brasil.
O Projeto de Indicação reforça o papel do Axé na promoção e preservação das tradições musicais; culturais da região e a forma como o movimento se tornou um ícone da cultura brasileira; além de citar o potencial do Axé Music como atrativo cultural para impulsionar o turismo cultural na Bahia.
“Ao reconhecê-lo como patrimônio imaterial, estamos contribuindo para a salvaguarda de uma parte importante da identidade baiana. […] Reconhecê-lo como patrimônio imaterial valoriza não apenas a herança cultural da Bahia, mas também seu impacto na formação da identidade nacional brasileira. Considerando que o Axé é uma fusão de várias influências culturais, incluindo a música afro-brasileira, o carnaval e o candomblé, reconhecê-lo como patrimônio imaterial contribui para a preservação e documentação dessas tradições musicais únicas.”
Foto: Mateus Ross
O Bahia Notícias entrou em contato com o vereador André Fraga, responsável pela proposta de indicação. Ao site, o edil afirmou que iria solicitar o status atualizado do projeto.
“O Axé Music teve e ainda tem relevância cultural nacional, revelou grandes nomes, produziu grandes sucessos e embalou milhões de pessoas”, afirmou o vereador.
Para Fraga, o avanço do projeto apresentado por Lídice no Senado irá ajudar a proposta apresentada por ele em âmbito municipal e estadual. “Acho que contribuí, afinal é um reconhecimento nacional”.
Outros estilos musicais já conseguiram o feito em suas cidades, a exemplo do funk no Rio de Janeiro, o hip-hop em São Paulo. O que impede que o movimento baiano, que em 2025 celebrou 40 anos de história, receba o título?
O processo para obter o título de patrimônio imaterial é burocrático e envolve diversas etapas de avaliação e aprovação em diferentes esferas governamentais.
Para que uma manifestação cultural, como a Axé Music, seja reconhecida como Patrimônio Imaterial no Brasil, principalmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ela precisa seguir o seguinte caminho:
Já é de conhecimento público a importância do movimento para a cultura baiana e nacional. Desta forma, é necessário iniciar a fase de pesquisa aprofundada, levantando sua história, significados e práticas. Tudo é documentado, seja com fotos, vídeos, gravações ou entrevistas.
Foto: Divulgação
O passo seguinte é a elaboração de um dossiê detalhado, que é submetido ao Iphan. O instituto faz uma análise técnica da proposta e consulta a comunidade envolvida para garantir o apoio.
Se a avaliação for positiva, a manifestação é aprovada e inscrita em um Livro de Registro, e com isso o movimento passa a ser monitorado para a criação de ações para a salvaguarda do Axé, isto é, valorizar e assegurar que essa parte da cultura baiana seja transmitida para as futuras gerações.
O processo em busca do reconhecimento como Patrimônio Imaterial da Cidade de Salvador já é feito por outro estilo musical nascido na Bahia, o samba-reggae.
O gênero teve registrado em 2024 um projeto de indicação na Câmara Municipal de Salvador pelo vereador Silvio Humberto (PSB), que voltou a ser movimentado em 2025.
E então, a fantasia do Axé será eterna para além de ‘Baianidade Nagô’, música de Evandro Rodrigues e um hino do Carnaval de Salvador, ou o nosso “Carnaval” terá um fim, como na música da banda de rock Los Hermanos e a nossa festa será sazonal, com uma quarta-feira de cinzas marcando o fim de mais um ciclo do movimento Axé Music a cada verão?
Descubra mais sobre Euclides Diário
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.