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Como um “cometa de Natal” mudou o que se sabia sobre o espaço

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Como um “cometa de Natal” mudou o que se sabia sobre o espaço

Em 1758, na Alemanha, o fazendeiro e astrônomo amador Johann Georg Palitzsch observou o céu em uma noite fria de inverno, aguardando a aparição de um cometa previsto para aquele ano. No dia 25 de dezembro, ele avistou uma luz no horizonte, confirmando as previsões de que o cometa apareceria exatamente onde os cálculos indicavam. O cometa observado por Palitzsch era o 1P/Halley, conhecido como Cometa Halley. Essa observação foi significativa, pois pela primeira vez um cometa foi visto em um local previsto, desafiando a crença anterior de que esses corpos celestes apareciam de forma aleatória.

Edmond Halley, um astrônomo inglês, havia calculado o retorno do cometa 50 anos antes, utilizando registros históricos de avistamentos desde o século XIV. Ele identificou padrões orbitais em passagens anteriores do cometa em 1531, 1607 e 1682, levando em conta a influência gravitacional de Júpiter e Saturno. Palitzsch foi o primeiro a observar o retorno do cometa, e outros astrônomos, como Francis Williams, também registraram avistamentos independentes. Essa confirmação reforçou a lei da gravidade de Isaac Newton, demonstrando que ela se aplicava não apenas a planetas, mas também a cometas, permitindo previsões mais precisas sobre o movimento de corpos celestes.

O Cometa Halley é único por seu período orbital de 75 a 76 anos, o que possibilita que uma pessoa o veja duas vezes na vida. Ele é o cometa mais observado da história, aparecendo repetidamente ao longo dos séculos. Sua presença também influenciou a arte e a cultura, sendo associado à Estrela de Belém, que aparece em obras como "A Adoração dos Magos", de Giotto, em 1305. O cometa não apenas avançou o conhecimento científico, mas também deixou uma marca na história e nas tradições natalinas.

Apesar de ser amplamente conhecido, foi somente no final do século XVII que se percebeu que várias aparições do Halley eram do mesmo objeto. Halley, que previu corretamente o retorno do cometa em 1758, faleceu em 1742, sem ver sua teoria confirmada. A observação de Palitzsch, no Natal, foi a prova que consolidou Halley como um pioneiro na previsão de cometas. Em 1986, a passagem mais recente do cometa possibilitou novas descobertas, quando a Agência Espacial Europeia enviou a sonda Giotto para observar o Halley. A missão revelou dados sobre a composição do cometa e a presença de material orgânico, contribuindo para a compreensão da origem do Sistema Solar e dos elementos que podem ter dado origem à vida na Terra.

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O próximo retorno do Halley está previsto para 2061, e espera-se que seja mais próximo e brilhante do que em 1986. A passagem de 1986 foi considerada uma das piores observações em dois mil anos, aumentando a expectativa para a próxima visita. Para astrônomos e entusiastas, o Halley continua sendo um cometa emblemático.

A Estrela de Belém, mencionada no Evangelho de Mateus, é frequentemente comparada ao Cometa Halley. De acordo com a narrativa bíblica, três reis magos foram guiados até Jesus por uma estrela que parecia "parar" sobre o local de seu nascimento. Esse comportamento é incomum para uma estrela, levando a questionamentos sobre a natureza astronômica do objeto. Cientistas consideram várias hipóteses, incluindo alinhamentos de planetas, meteoros ou explosões estelares, mas esses fenômenos não se comportam como a estrela descrita na Bíblia.

Mark Matney, cientista planetário da NASA, sugere que um cometa de longo período poderia explicar a história. Cometas dessa categoria vêm da Nuvem de Oort, uma região gelada que envolve o Sistema Solar. Matney analisou registros antigos e encontrou relatos de uma estrela estranha na China, no ano 5 a.C., que brilhou por mais de 70 dias. Ele concluiu que um cometa poderia ter se movido de forma a parecer "parado" para observadores viajando de Jerusalém a Belém, oferecendo uma explicação plausível para o relato bíblico.

Embora a hipótese do cometa permaneça sem comprovação definitiva, a pesquisa de Matney destaca a possibilidade de que fenômenos celestes possam ter sido observados de maneiras extraordinárias. A história da Estrela de Belém ilustra como relatos antigos podem ser reinterpretados à luz da ciência moderna, mostrando que o que parecia milagroso pode ter explicações naturais, mantendo seu encanto e mistério.

Cometas, como o Halley e outros de longo período, continuam a fascinar a humanidade, ampliando a compreensão do cosmos e influenciando a arte, lendas e crenças. O retorno periódico do Halley demonstra que o espaço opera sob leis previsíveis, enquanto a Estrela de Belém exemplifica como fenômenos celestes podem ser percebidos de formas extraordinárias.

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