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Das ondas do mar, para as ondas do som: Revelação do samba, Uel deixou carreira na Marinha para realizar sonho na música

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Das ondas do mar, para as ondas do som: Revelação do samba, Uel deixou carreira na Marinha para realizar sonho na música

“O mar me chamou pra sambar, se tem lua cheia, tem samba na areia do mar…”, a composição de Arlindo Cruz, Acyr Marques e Roge pode muito bem contar a história do jovem Uel, de 25 anos, revelação baiana do samba.

 

O mar chamou Uel para cumprir outra missão antes do samba, mas foi no balanço dele que o artista decidiu deixar a Marinha para seguir o sonho de fazer a voz reverberar no país inteiro através das ondas da internet e tempo depois, através das ondas do rádio e dos alto-falantes em shows ao redor da capital baiana.

 

Neste sábado (8), Uel volta a um dos primeiros palcos da carreira, a festa ‘Embolô‘, a partir das 15h, agora em maiores proporções com um grande show no Terminal Náutico em Salvador. E o retorno as origens só fez o artista ter mais certeza de que seguir na música foi a decisão certa a ser tomada.

 

Foto: Divulgação

 

Nascido e criado em Salvador, mais especificamente na Ribeira, Cidade Baixa, Uelbert dos Santos Conceição, cresceu no samba, ainda que não fosse como músico. De família apaixonada pelo gênero, nasceu a paixão pelo ritmo e ao ingressar da música, não havia dúvidas de qual estilo seguir.

 

“O samba vem desde criança, dentro de casa. Meu pai me ‘forçando’ a ouvir pagode, não poderia ouvir outra coisa. Minha mãe até tentava colocar um sertanejo, mas meu pai sempre ouvia pagode, Revelação, Exaltasamba, Xande de Pilares, essa galera que é referência para mim”, conta ao Bahia Notícias.

 

A música veio para Uel através de um projeto social da LBV (Legião da Boa Vontade). Lá, o jovem aprendeu a tocar diversos instrumentos e a cantar no coral. “Tinha futebol lá também, mas eu quase não ia porque a música era a minha praia”, relembra.

 

 

O jovem ainda participou de outro projeto que o colocou nos palcos, mas ainda não era com o pagode/samba. “Quando eu fiz 15 anos eu fiz parte de um projeto chamado CRIA (Centro de Referência de Criança e Adolescente), no Pelourinho, e passei anos viajando pela Bahia com teatro musical, ali eu comecei a entender que eu queria mesmo seguir na música.”

 

A criação de Uel, no entanto, afastou o artista dos sonhos por um período. O jovem conta que sempre entendeu que precisava trabalhar e ganhar dinheiro, algo que a arte ainda não estava fazendo por ele, e a decisão foi realizar um sonho do pai, o de entrar para as Forças Armadas.

 

“Tive que entrar na Marinha por questão financeira mesmo, na época, e até hoje, o teatro não dava muito dinheiro, as pessoas infelizmente não investem tanto assim, a nossa arte é muito desvalorizada. Entrei na Marinha e segui carreira, mas para não perder o costume com a música, eu comecei a gravar vídeos para as redes sociais.”

 

O auxílio da internet foi essencial para que Uel conseguisse crescer na carreira. Nascido na Geração Z, o jovem confessa que a facilidade com as redes sociais tiveram grande impacto na carreira. A decisão de não abandonar a música mesmo seguindo a carreira militar veio em 2018/2019.

 

“Eu saía do quartel e ia de bicicleta até a Ribeira, com um celular e um tripé e gravava. Os vídeos começaram a repercutir nas redes sociais. O primeiro que me deu visibilidade foi um de Belo, cantando ‘Reinventar’, que deu mais de 2 milhões de visualizações e me fez atingir 10 mil seguidores. O segundo foi a música ‘Só Depois’ de Xande, que bateu 25 milhões de visualizações.”

 

 

Para Uel, apesar de ter viralizado com covers, imprimir a própria identidade nas versões foi o que conquistou o público e fez com que os números convertessem de views para público em show. No entanto, migrar das versões para as músicas originais é um dos maiores desafios do sambista.

 

“Eu meio que criei sem perceber por causa do Instagram, e pela voz, mas é muito difícil você acreditar no que você faz, independente se você tem talento, mas você escrever uma música, produzir e tal e tentar colocar nos shows é um desafio. Uma coisa que ninguém nunca ouviu. E aí você vai, tem que ensinar a galera a cantar em cada show e aos pouquinhos vamos conquistando nosso espaço.”

 

Os números podem enganar, e para os mais velhos, a internet consegue ser bem traiçoeira. Uel conta ao BN que os pais, apesar de serem os maiores apoiadores da carreira do filho atualmente, tiveram medo dele trocar o certo, a carreira na Marinha, pelo duvidoso, que seria seguir na música.

 

“Tiveram algumas propostas que não deram certo, eu fui para o Rio, fui para São Paulo, até encontrar meus empresários de hoje, que são os donos da Audioplay. Eu não tinha expectativa nenhuma de entrar para uma produtora. Meus pais apoiam agora, mas quando as coisas começaram era bem difícil, porque a gente vem de uma base que era ‘escola, faculdade e trabalho’, e sair dessa linha para viver de algo incerto como a música, deu um susto, mas a gente precisa arriscar. Mas hoje eles estão na primeira fila, pedem para ir aos shows.”

 


Foto: Acervo pessoal

 

Uel conta que também teve apoio dos grandes ídolos. Neste ano, o artista foi o responsável por abrir o Sambazin Salvador, show de Jorge Aragão na capital baiana, e relembrou ao BN o encontro com o gigante do samba.

 

“Eu tenho um ano de carreira, mais ou menos. Só que na rua são seis meses, trabalhando, cantando, fazendo show. E a gente busca sempre estar em alguns lugares pontuais, para que a gente seja visto melhor e tal. E o dia que fui abrir o show de Jorge Aragão, foi um choque de verdade. Quando eu vi ele, não conseguia nem falar direito com ele. Teve outras referências que fiquei conversando, e eles me chamando de sobrinho, me aconselhando a ter persistência. É muito legal, só que é um choque danado.”

 

Mesmo com pouco tempo de carreira, o jovem já conquistou grandes feitos e atualmente consegue viver da música. Para Uel, ainda falta muito a conquistar, especialmente na música, entre eles, a gravação de um feat com o ídolo, Thiaguinho, e um espaço no Samba Salvador e Samba Recife, um dos maiores eventos dedicados ao gênero do mundo.

 

“Eu saí da Marinha para a produtora já com essa decisão de conseguir viver do meu sonho, do meu talento. E agora que consigo, eu continuo sonhado e trabalhando. Um dos maiores sonhos hoje, é fazer uma participação com o meu maior ídolo, que é o Thiaguinho. E quero também estar nesses dois palcos, acho que esse ano ainda pode acontecer.”

 

Em 2025, o público vai poder ver Uel nos trios. O jovem fará a estreia no Carnaval de Salvador: “Eu estou me preparando, mas tô nervoso que só. Porque é um desafio, normalmente nos shows a gente faz duas horas, no máximo três. Com os nossos ensaios que a gente fez de verão, a gente tocou três horas, mas ali você consegue parar um pouco. Agora imagine um repertório para seis horas? Estou empolgado.”

 

Por ser novo na área, Uel se torna uma inspiração para os jovens que também pensam em seguir a carreira na música. Ao BN, o artista deixou um conselho para a nova geração e um lembrete para ele também: “acredite, tenha paciência e foco. Porque não é fácil, eu passei, sei lá, uns cinco anos gravando vídeo para a internet para ter essa primeira oportunidade, e de fato, para viver da música. Tudo é tempo, persistência e muito estudo. É foco e pé no chão, porque pode demorar, mas uma hora vai chegar.”


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