Dólar bate R$ 6,20 e recua com intervenção do Banco Central, mas ainda fecha em nível recorde

Dólar bate R$ 6,20 e recua com intervenção do Banco Central, mas ainda fecha em nível recorde

O dólar renovou o recorde histórico nominal nesta terça-feira (17), com variação positiva de 0,07%, a R$ 6,095.

O BC (Banco Central) realizou dois leilões extraordinários nesta terça, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o pacote de corte de gastos do governo será votado até quarta-feira (18). Mesmo assim, as medidas não contiveram a alta da moeda pela terceira sessão consecutiva.

Na máxima do dia, a moeda norte-americana chegou a ser cotada a R$ 6,208. A Bolsa, às 17h06, acelerava alta para 0,83%, aos 124.586 pontos.

De pano de fundo, há a confirmação de que a Câmara dos Deputados irá votar o pacote de contenção de gastos do governo Lula (PT) até quarta-feira.

O anúncio veio do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que fez a ressalva de que a votação não garante a aprovação nem a rejeição das matérias.

Ele afirmou que a ideia é que a Câmara vote nesta terça o projeto de lei complementar e, na quarta, a PEC (proposta de emenda à Constituição) e o projeto de lei.

“Nós vamos votar. Não estou garantindo aprovação nem rejeição. Nós vamos votar, estamos discutindo, conversando, dialogando, encontrando textos para votar. Mas o calendário de votação é esse”, disse Lira a jornalistas ao chegar à Câmara.

A decisão ocorre após a divisa renovar o recorde nominal nesta segunda-feira, quando chegou a R$ 6,091.

Nesta terça pela manhã, o BC vendeu US$ 1,272 bilhão em leilão extraordinário. A primeira intervenção foi anunciada depois de o dólar subir em reação à divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária), que prevê alta dos juros para 2025.

A segunda intervenção ocorreu depois de a moeda norte-americana saltar para o patamar de R$ 6,20. No segundo leilão do dia, vendeu US$ 2,015 bilhões, somando US$ 3,287 bilhões apenas nesta terça, mas o dólar seguia em patamares recordes mesmo após as atuações do BC.

Com os dois novos leilões, o BC já injetou US$ 12,76 bilhões no mercado de câmbio desde a última quinta-feira (12).

Os leilões são intervenções do BC no câmbio. Na prática, eles servem para aumentar a quantidade de dólares disponíveis para os investidores, seguindo a lei da oferta e demanda. Ou seja, quanto mais moeda puder ser comprada, menor vai ser a cotação dela.

Analistas consultados pela reportagem avaliam que a alta do dólar persiste devido às incertezas fiscais e à falta de confiança dos investidores na condução econômica do governo brasileiro.

“Essas intervenções têm apenas um efeito paliativo. Elas amenizam a alta, mas não resolvem o problema”, afirma Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Para Freitas, o problema central está na questão fiscal e na ausência de medidas efetivas para reduzir as incertezas.

“Sem um pacote eficiente para lidar com essas questões, não há consistência que permita a redução da incerteza. Como resultado, o dólar sobe, a taxa de juros aumenta e a confiança do mercado diminui, criando um ciclo preocupante que afeta diversos setores e traz apreensão para o futuro”, diz.

Entre os principais obstáculos na tramitação do pacote fiscal estão a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) das articulações, à medida que se recupera de uma cirurgia em São Paulo, e a questão do pagamento de emendas parlamentares, com investidores apostando que ambos devem travar as medidas.

“Atualmente, o que fortalece tendência de valorização da moeda norte-americana frente ao real é a grande expectativa do mercado para a votação do pacote de corte de gastos”, disse João Duarte, sócio da One Investimentos.

Apesar de o BC não ter dito o motivo dos leilões, eles ocorrem em meio à crescente desvalorização do real, com o dólar fechando acima de R$ 6 na maior parte das sessões deste mês em meio à reação negativa do mercado ao duplo anúncio do governo de um pacote fiscal e de uma reforma do Imposto de Renda.

“O ajuste fiscal é o verdadeiro caminho, porém as medidas apresentadas até agora são tímidas e insuficientes, enquanto o governo demonstra resistência a avançar com novas ações. Essa combinação de fraqueza política e falta de vontade para promover o ajuste necessário coloca o país em um beco sem saída”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Ao fim de novembro, o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o BC interviria apenas se houvesse disfuncionalidades no mercado cambial.

“O câmbio flutuante é uma ferramenta muito importante dentro do que é a matriz da política econômica brasileira para poder absorver choques como esse que estamos assistindo. O Banco Central está sempre acompanhando para entender se existe algum tipo de disfuncionalidade, mas não mira qualquer tipo de nível de câmbio”, disse à época.

Operadores afirmam que o leilão foi necessário para driblar a falta de dólares no país, comum nesta época do ano devido a remessas de dinheiro de empresas estrangeiras para as matrizes.

Os bancos estão com aproximadamente US$ 30 bilhões em caixa, segundo dados da Bloomberg, um valor relativamente baixo. Em setembro, por exemplo, o saldo era de US$ 50,6 bilhões.

Geralmente, com o dólar alto e poucos recursos em caixa, bancos relatam a dificuldade ao Banco Central, que faz a venda de dólares à vista.

No cenário interno, os investidores avaliam a ata do Copom do BC, divulgada nesta manhã, que aponta que a piora da inflação de curto e médio prazo exigiu postura mais tempestiva e o cenário se tornou mais adverso com a materialização de riscos.

Os juros futuros, em resposta, voltaram a saltar nesta terça. A taxa para outubro de 2027 subiu 0,36 ponto percentual, de 15,33% para 15,69%. O contrato para janeiro de 2033 estava em 14,85%, ante 14,55% no ajuste anterior, com variação de 0,29 ponto percentual.

Na última quarta (11), em seu último encontro de 2024, o Copom elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano.

O comitê prevê um aumento de juros de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025.

Se o cenário se concretizar, a Selic chegará ao patamar de 14,25% ao ano –pico da taxa básica na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

No mercado exterior, os investidores aguardam a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre a taxa de juros do país, que será divulgada nesta quarta. Os mercados esperam uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros.

Fonte: política livre

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