O deputado federal Gabriel Nunes (PSD), um dos mais jovens parlamentares da bancada baiana no Congresso Nacional, mantém a convicção de que o partido dele seguirá aliado do presidente Lula (PT) e do governador Jerônimo Rodrigues (PT) nas eleições de 2026 na Bahia. Mesmo em meio a disputas internas sobre a composição da chapa governista ao Senado, ele não enxerga a possibilidade de a legenda caminhar com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (UB).
Filho do ex-deputado federal José Nunes (PSD), Gabriel diz que constrói sua trajetória buscando equilibrar pautas de interesse nacional e demandas regionais. Na avaliação dele, a liderança do senador Otto Alencar garante a unidade do PSD no Estado, afastando, por ora, qualquer possibilidade de migração para a oposição liderada pelo provável candidato do União Brasil.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, o deputado pessedista faz elogios tanto ao senador Angelo Coronel (PSD) quanto ao ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), que disputam uma das duas vagas ao Senado na chapa de Jerônimo. Ele também faz uma avaliação do momento político conturbado em Brasília por conta da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e critica a atuação do colega Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Política Livre – Deputado, como o senhor avalia o clima atual no Congresso, marcado por confrontos no plenário e nos corredores, com a oposição tentando travar votações e, em alguns momentos, ultrapassando os limites regimentais por conta do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo?
Gabriel Nunes – Vejo com muita preocupação. A obstrução é um instrumento legítimo, previsto no regimento, mas a oposição extrapolou ao ocupar as mesas diretoras da Câmara e do Senado, algo que não está previsto nas regras. Foi uma atitude ilegal e a Mesa Diretora da Câmara precisará se posicionar. Essa polarização exacerbada atrapalha o andamento de pautas relevantes para o país, como a reforma administrativa, a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, e a modernização da Lei dos Portos. Este é um ano anterior às eleições, quando o ritmo de votações costuma ser mais intenso e espero que as coisas se acalmem para que possamos trabalhar pelo desenvolvimento econômico e pelo que interessa à população.
“Não concordo em anistiar quem cometeu crimes, invadiu ou depredou prédios dos Poderes. Essas pessoas precisam ser punidas”
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu suspender por até seis meses o mandato de quem insistir nesse tipo de obstrução. O senhor concorda?
Acho que a Câmara precisa dar uma resposta. Como foi a primeira vez que aconteceu algo assim, acredito que deva haver punição, mas não de forma exagerada. Uma medida muito severa pode piorar ainda mais o clima. É preciso encontrar um equilíbrio: punir de forma exemplar, mas sem acirrar a beligerância.
Os aliados de Bolsonaro defendem que a pauta da anistia avance no Congresso. Alguns integrantes da base do governo também são simpáticos à ideia. O senhor, que é aliado do Palácio do Planalto, é a favor?
É preciso equilíbrio. Não concordo em anistiar quem cometeu crimes, invadiu ou depredou prédios dos poderes. Essas pessoas precisam ser punidas. Por outro lado, acho que penas de 14 ou 17 anos para quem foi usado como massa de manobra são excessivas. Já se discutiu alterar a tipificação de alguns crimes para evitar acúmulo de penas, mas o tema parou e agora voltou à pauta. Defendo redução de pena para quem teve participação menor, mas não anistia. E, claro, quem financiou e organizou os atos deve receber penas proporcionais à gravidade do que ocorreu.
Qual sua avaliação sobre a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro?
Eu acho que isso é um assunto do Judiciário, que deve ser respeitado como qualquer outro Poder. Só espero que os três Poderes tenham a mesma preocupação e atuem de forma a baixar a temperatura política no país, a pacificar o Brasil. Estamos pagando um preço alto por conta dessa polarização e devemos evitar, a todo custo, medidas extremas.
Como o senhor vê a questão do chamado “tarifaço” dos Estados Unidos contra produtos brasileiros e a atuação de parlamentares brasileiros incentivando medidas contra o país, como é o caso do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP)?
É péssimo. Nenhum brasileiro deve agir contra o seu país. Questões internas precisam ser resolvidas aqui. O Brasil é soberano e independente e nenhum país pode impor medidas contra nós. Esse tipo de atitude atenta contra o Estado Democrático de Direito e contra os poderes brasileiros. O tarifaço pode ter impacto econômico grave, especialmente na Bahia, que exporta muito para os Estados Unidos, sobretudo frutas. Atinge cadeias produtivas que dependem desse comércio. É preocupante ver ações que afrontam a soberania nacional e a independência dos Poderes, apenas porque uma decisão desagradou parte da população. Isso não pode ser tolerado.
As pesquisas, como a última do Datafolha, mostram que a avaliação positiva do governo e do presidente não melhoraram mesmo após o “tarifaço”. Como aliado, o que o senhor acha que deve ser feito para que isso mude?
O governo tem números econômicos muito positivos: redução histórica do desemprego, crescimento econômico, inflação dentro da meta e avanços sociais importantes. O presidente Lula herdou um país desorganizado e vem reconstruindo programas essenciais, como o Minha Casa, Minha Vida, e ampliando políticas sociais, como a isenção da tarifa de energia para 60 milhões de brasileiros e a ampliação do auxílio para o gás de cozinha. O Brasil saiu novamente do mapa da fome, o que é um marco. Temos pela frente pautas relevantes, como a correção da tabela do Imposto de Renda, para isentar quem ganha até R$ 5 mil, garantindo justiça tributária. Não se trata de uma disputa entre ricos e pobres, mas de corrigir distorções. Acredito que, com esses avanços, o governo vai chegar muito fortalecido no próximo ano.
Um dos desafios do governo é manter a base unida na Câmara. Recentemente, houve derrotas como na votação do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), da qual o senhor se ausentou. Como vê essa relação com a base e qual é o grau de fidelidade do PSD e do senhor ao governo?
Minhas votações têm sido alinhadas com o governo. O Brasil é muito plural e, no governo de coalizão que temos hoje, as realidades estaduais influenciam bastante. No PSD, por exemplo, parte da bancada é oposição e isso também ocorre em outros partidos da base. É natural haver divergências, mas, na maioria das pautas, o diálogo tem prevalecido e os projetos importantes foram aprovados. Em temas sensíveis, como aumento de carga tributária, a Câmara já demonstrou resistência.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, já sinalizou que o partido pode seguir um caminho diferente do de Lula na eleição presidencial, possivelmente acompanhando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou lançando um nome próprio ao Planalto. Na Bahia, o senhor acredita que haverá liberdade da sigla para apoiar Lula?
Sim. O presidente Kassab sempre deixou as decisões sobre a Bahia a cargo do nosso líder, o senador Otto Alencar. Ele já declarou que estará com Lula na próxima eleição. O senador Otto tem uma trajetória de liderança no Senado, já foi líder do partido e hoje preside a CCJ, a comissão mais importante da Casa, se conduzindo com serenidade e equilíbrio. Foi fundamental na construção do PSD na Bahia, que hoje é o estado com maior número de prefeitos do partido e uma das principais forças políticas nacionais. O PSD é hoje a quarta maior bancada na Câmara e a maior no Senado. É um partido forte, em crescimento e com papel importante nas pautas do país. Tenho orgulho de fazer parte dessa história.
“Claro que torcemos para que o senador Coronel esteja na chapa. Ele tem um protagonismo importante no Senado, principalmente em pautas municipalistas”
A aliança do PSD com Lula e o PT na Bahia pode ser afetada caso o senador Ângelo Coronel, do seu partido, não seja confirmado na chapa para a reeleição?
O presidente estadual do PSD, senador Otto Alencar, sempre conduziu com maestria o partido na Bahia e acredito que continuará assim. Claro que torcemos para que o senador Coronel esteja na chapa. Ele tem um protagonismo importante no Senado, principalmente em pautas municipalistas, defendendo prefeitos e pequenos municípios. Foi fundamental, por exemplo, na redução da alíquota do INSS para os municípios e desempenhou com excelência a relatoria do Orçamento de 2025, conduzindo um processo complexo junto aos ministérios. Tem todos os predicados para integrar a chapa.
Coronel estaria pagando o preço por ser um político rebelde, que nunca seguiu a cartilha petista?
Coronel é um político habilidoso, com longa trajetória: foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa, prefeito e tem dois filhos parlamentares. Ele sempre fez política com seu estilo próprio e com bons resultados. Não me cabe, no meu primeiro mandato, fazer esse tipo de avaliação.
E sobre o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), seria um bom candidato ao Senado?
Sem dúvida. Rui Costa foi um excelente governador, bem avaliado, fez o sucessor e hoje desempenha um papel fundamental como ministro da Casa Civil, coordenando pautas centrais do governo Lula. Tem todas as qualidades para ser senador. Naturalmente, haverá conversas entre as lideranças, pois há três nomes para duas vagas, e esperamos que haja equilíbrio para atender aos interesses da Bahia e do Brasil.
Há possibilidade de o PSD migrar para a oposição? Você se vê no palanque do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) em 2026?
Não me vejo no palanque de ACM Neto e nem vejo o PSD. Não vejo motivação para isso e não vejo motivação para isso em relação ao partido. Sigo no grupo liderado pelo senador Otto Alencar. O governador Jerônimo Rodrigues tem sido correto e atencioso com as demandas dos municípios que represento e do nosso partido.
Pesquisas mostram ACM Neto na liderança, enquanto o governador tenta atrair cada vez mais prefeitos da oposição para a base aliada. Como avalia esse cenário?
Pesquisa, neste momento, serve apenas como termômetro para governos e oposição ajustarem seus discursos. Historicamente, na Bahia, os resultados mudam bastante até a eleição. Falta mais de um ano e o momento é de focar nas pautas do Estado e do Brasil, deixando a construção política para mais perto da janela partidária.
O senhor, que tentará a renovação do primeiro mandato, faz política em uma região da Bahia onde a disputa promete ser acirrada em 2026 para a Câmara e a Assembleia. Um dos seus principais adversários, o ex-prefeito de Euclides da Cunha Luciano Pinheiro (PDT), por exemplo, quer ser deputado estadual. Está pronto para a guerra?
Sou pré-candidato à reeleição e estou trabalhando para consolidar o meu mandato. Sucedi o deputado federal José Nunes (PSD), meu pai, que também foi prefeito de Euclides da Cunha e construí uma base nova. Hoje, há uma polarização entre mim e o deputado federal Ricardo Maia (MDB), que também está no seu primeiro mandato. Outros quadros aparecem na corrida por uma cadeira na Câmara, como o do ex-prefeito de Serrinha Adriano Lima (PP), mas não vejo tantos novos nomes assim com força significativa para deputado federal. Para a Assembleia, sim, vejo um cenário mais competitivo. Além de Luciano, que você citou aí, tem também o ex-prefeito de Araci Silva Neto (PDT), tem o ex-prefeito de Coronel João Sá Carlinhos Sobral (MDB)… Ali no semiárido tem ainda Thiago Gileno, ex-prefeito de Ponto Novo, e outros nomes que estão surgindo lá na região que disputarão e eleição com outros que já exercem os mandatos. Mas acho que, apesar da disputa, tem espaço para todo mundo.
“Rui Costa foi um excelente governador, bem avaliado, fez sucessor e hoje desempenha um papel fundamental como ministro da Casa Civil. Tem todas as qualidades para ser senador”
O senhor pensa em disputar, um dia, a prefeitura da sua terra natal, Euclides da Cunha? Está satisfeito como deputado federal?
Seria uma grande honra um dia poder governar a minha cidade natal, mas neste momento meu foco é totalmente voltado para renovar o mandato de deputado federal e continuar entregando resultados para a Bahia. Tenho muito orgulho do que já conseguimos avançar na Câmara. Lutamos pela redução da alíquota do INSS para pequenos e médios municípios, pauta que já foi superada, e aprovamos na Câmara a PEC 66, que trata da regularização de débitos previdenciários e viabiliza que os municípios consigam amortizar dívidas sem comprometer totalmente a gestão, além de tratar também da questão dos precatórios. Agora, estou dedicado ao PL 733/2025, que busca modernizar os portos brasileiros. Apesar de a legislação atual ter apenas 12 anos, já apresenta gargalos que travam o setor produtivo, responsável por mais de 70% das exportações do país. O projeto começou a tramitar e estou na comissão especial articulando por sua aprovação ainda neste semestre. É assim, com foco no trabalho e em resultados concretos, que pretendo seguir representando a minha região e todo o estado.
Fonte: Política Livre
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