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Entrevista – José Carlos Aleluia: “Na Bahia, não há ambiente favorável para nada de expansão, de crescimento, desenvolvimento, de geração de emprego”

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Entrevista – José Carlos Aleluia: “Na Bahia, não há ambiente favorável para nada de expansão, de crescimento, desenvolvimento, de geração de emprego”

Foto: Najara Araújo/Arquivo/Câmara dos Deputados
José Carlos Aleluia 25 de agosto de 2025 | 08:45

Entrevista – José Carlos Aleluia: “Na Bahia, não há ambiente favorável para nada de expansão, de crescimento, desenvolvimento, de geração de emprego”

Personagem importante da época de ouro do carlismo da Bahia, José Carlos Aleluia está de volta ao campo político. E dessa vez, o ex-deputado federal de seis mandatos afirma que quer disputar o governo do Estado, pelo partido Novo. Mesmo antes de haver anúncio oficial, apareceu na recente pesquisa Quaest com 1% das intenções de voto – levantamento que mostrou liderança de ACM Neto (União Brasil) com 41% contra 34% do governador Jerônimo Rodrigues (PT).

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ele critica o ciclo de quase 20 anos seguidos do PT no poder e diz que, com Jerônimo, a Bahia “está descendo a ladeira”, sem oferecer um “ambiente favorável para nada de expansão e desenvolvimento”. “O Brasil não vai bem, mas a Bahia consegue ser pior do que todos os outros estados”, declara, ao apontar também críticas ao terceiro mandato do presidente Lula, que, segundo ele, “demonstra claramente sinais de senilidade”.

Mais à direita do que nunca, Aleluia surge como opção ao eleitor bolsonarista, mas não descarta, contudo, um ambiente de convergência local e nacional com o centro, o que incluiria um arranjo com PSD, cuja presença na chapa majoritária na Bahia está ameaçada em razão do desenho puro-sangue rabiscado pelos petistas baianos, que passa pela indicação de três nomes do PT (um ao governo e dois ao Senado) numa chapa de apenas quatro vagas.

Leia abaixo a entrevista completa:

José Carlos Aleluia – O seu nome voltou ao noticiário político com os rumores de uma pré-candidatura ao governo da Bahia pelo Novo. Ela está posta?

Política Livre – Eu me coloco como pré-candidato ao governo do Estado da Bahia pelo Partido Novo. Já sentei com a diretoria do partido, já estamos começando a organizar e deve ser designado um novo diretório para organizar o partido no Estado.

O senhor é uma figura da época de ouro do carlismo na Bahia e que agora se apresenta justamente no momento em que um herdeiro político do ex-governador ACM, que é ACM Neto, também se coloca para governar a Bahia. Qual foi sua leitura para entrar na disputa?

Olha, a Bahia precisa sair do estado em que se encontra. Os jovens de 30 anos e até um pouco mais não tiveram oportunidade de ver nada diferente do governo atual. O Governo (petista) da Bahia já vai completar 20 anos e a Bahia hoje é o estado com os piores desempenhos do Brasil em todos os campos. O Brasil está perdendo todas as oportunidades de melhorar a vida dos brasileiros, de dar oportunidade aos jovens. E a Bahia está descendo a ladeira em todos os indicadores como pior estado. Não há um ambiente favorável para nada de expansão, de crescimento, desenvolvimento, geração de emprego. O resto é causa e consequência.

“Não vamos fechar a porta para conversar com ninguém, mas nós teremos chapa e teremos a candidatura de governador”

Mesmo sem haver anúncio oficial, a última pesquisa Quaest já incluiu seu nome e verificou 1% das intenções de voto. Como é que o senhor recebeu essa menção? Já tem uma agenda de trabalho como pré-candidato?

Nós vamos organizar um anúncio da nova organização do Novo e da nossa pré-candidatura ao governo do Estado, procurando estabelecer esse ato para deputado federal, deputado estadual, senador, fazer uma chapa. Não vamos fechar a porta para conversar com ninguém, mas nós teremos chapa e teremos a candidatura de governador.

Esse movimento também viabiliza o ingresso do seu filho, o vereador Alexandre Aleluia, como um possível pré-candidato a deputado federal pelo Novo?

Olha, ele se sentiria muito confortável no Partido Novo, que é um partido que defende as mesmas ideias que ele defende e que tem uma posição muito clara a nível federal como um partido que quer renovar a política brasileira, mas ele tem que dialogar com o partido em que ele foi eleito.

Abrigando-se no Novo o senhor passa a prospectar um eleitorado mais conservador que até então caminhava com o PL do ministro João Roma?

Não há dúvida. O PL e eu somos conservadores e queremos uma aliança dos conservadores com o centro. Nós vamos buscar, conversar com todos, inclusive aqueles que não são de esquerda e que estão alojados no governo federal e no governo estadual.

“Eu não vou descartar o apoio de ninguém […] Eu só não posso ter o apoio do governo do PT. O PT é o grande problema do Brasil e da Bahia”

Isso de alguma forma já sinaliza a possibilidade também de fazer uma composição com ACM Neto futuramente?

Eu não vou descartar o apoio de ninguém, nem do ACM Neto nem do João Roma, nem do do grupo do PSD se eventualmente decidir se afastar do governo atual. Eu só não posso ter o apoio do governo do PT. O PT é o grande problema do Brasil e da Bahia.

Que avaliação faz da gestão do governador Jerônimo Rodrigues, inclusive pensando naquilo que o senhor pretende apresentar aos baianos como uma espécie de alternativa?

O governador Jerônimo dá continuidade a um governo que já vai completar 20 anos e eles não criaram um ambiente favorável na Bahia para o desenvolvimento. Pelo contrário, criaram um ambiente favorável ao retrocesso. A Bahia está atrás em todos os indicadores que você colocar. O Brasil não vai bem, mas a Bahia consegue ser pior do que todos os outros estados. Nós temos que tomar como paradigma Minas Gerais, estado que tem semiárido, que faz fronteira com a Bahia, tomar como paradigma o Espírito Santo, Goiás, e sem falar no Paraná, que é o estado que está florescendo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e até no Nordeste nós temos (na Bahia) desempenho pior do que os outros estados. A ideia é estabelecer um projeto novo. Quem tem em torno de 30 anos não viu nada de diferente na Bahia e pode até achar que isso é bom, pode até achar que é bom ser petista. O PT não tem levado a Bahia para o caminho do desenvolvimento, da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Se não tiver crescimento, vai ter sempre o crescimento da pobreza, como está acontecendo no estado.

Como o senhor vê essa cisão do PSD com o PT na Bahia em torno da candidatura do senador Angelo Coronel? Acha que o partido pode ser o fiel da balança em 2026 na Bahia?

Eu acho o PSD importantíssimo, tem lideranças importantes como o senador Otto Alencar, com quem tenho boa relação, que também teve origem política semelhante à minha, tem o deputado Antônio Brito, que é um grande líder nacional hoje, e tem o senador Coronel que pretende ir à reeleição. Eu espero que eles busquem o alinhamento nacional, mas é uma decisão deles. Se o candidato escolhido nacionalmente para convergir for o governador Ratinho, eu estarei na primeira fila da candidatura se o meu partido estiver. E da mesma maneira eu espero ter o PSD nessa mesma fileira.

“O Brasil não vai bem, mas a Bahia consegue ser pior do que todos os outros estados”

E sobre a possível chapa puro-sangue que o PT articula? ACM Neto tem dito que gostaria, inclusive, de disputar contra uma chapa nessa configuração. Essa também é a sua visão?

É claro que se houver a chapa puro-sangue nós vamos ter uma aliança ampla na Bahia envolvendo o PSD, que tem dito claramente que não vai ficar no governo, e nós vamos ter que dialogar com o PSD porque ele é importante na Bahia, que está estruturado no interior, tem lideranças boas que não podem ser deixadas de lado. Não vamos provocar a cisão, mas se ela ocorrer, será muito bem vista para mudar a Bahia, porque não dá para continuar como nós estamos. Foi isso que motivou a minha disposição de voltar à política –  o desastre baiano e a tragédia nacional que está sendo provocada pelo presidente Lula, que demonstra claramente sinais de senilidade.

“Eu já vi esse filme muitas vezes […] o governador João Durval e ACM tinham um poder muito grande no interior. [em 1986] Todos os prefeitos praticamente estavam alinhados com o governo do Estado e Waldir Pires teve uma vitória consagradora. Da mesma forma, na primeira vitória [em 2006] Wagner obteve a vitória mesmo com o governador à época tendo aparentemente o apoio de todos os prefeitos”

O governo tem exercido uma forte pressão sobre os prefeitos e até usado essa agenda para sustentar que ACM Neto peca em não dar atenção a lideranças do interior. Como é que o senhor vai se comportar com relação a isso?

Eu dou muita importância a lideranças municipais, aos prefeitos, aos ex-prefeitos, aos vereadores e nós vamos buscar organizar o Novo com o respeito e com o apoio, onde for possível, das lideranças municipais do interior. A Bahia é um estado onde a capital não tem a mesma relação de poder que tem, por exemplo, o estado de Pernambuco, onde a capital é muito grande em relação ao estado. Hoje você vê que a capital da Bahia é importante, continua sendo a maior cidade e continua sendo a maior economia, mas o estado se desenvolve. E é por isso que eu fico muito triste de ver que a Bahia vai mal, uma Bahia que tem um Oeste pujante, que tem um Extremo Sul pujante, um Sul com muitas qualificações. Nós vamos dar importância aos prefeitos e, mais, eu reconheço que os prefeitos atuais precisam dialogar com o governo do Estado nesse momento para governar. Esse assunto vai ser tratado lá na frente. Eu já vi esse filme muitas vezes. Eu acompanhei de perto a eleição do governador Waldir Pires, naquele momento o meu querido amigo governador João Durval e Antônio Carlos Magalhães tinham um poder muito grande no interior. Todos os prefeitos praticamente estavam alinhados com o governo do estado e Waldir Pires teve uma vitória consagradora. Da mesma forma, na primeira vitória do senador Wagner para o governo do estado da Bahia, ele obteve a vitória mesmo com o governador à época tendo aparentemente o apoio de todos os prefeitos. O prefeito vai buscar o interesse do seu município, ele não vai ficar contra o município. Então, não vamos desconsiderar nem vamos condenar nenhum prefeito por estar alinhado com o governador, porque eles estão procurando a forma de melhor governar o seu município. Mas vamos buscá-los.

“Eu sou amigo do presidente Bolsonaro, mas defendo ideias”

Enquanto representante do conservadorismo, o senhor vai buscar o apoio da família Bolsonaro?

Nós estamos defendendo ideias. Eu sou amigo do presidente Bolsonaro, mas defendo ideias. E por isso eu estou indo para um partido que defende ideias, defende a ideia de que deve ter liberdade para as pessoas. Nós não podemos viver num momento onde a Justiça se impõe sobre os outros poderes. A Justiça hoje no Brasil tem uma militância política exagerada. Isso tem que ser combatido, tem que voltar todo mundo à sua casinha. Os Poderes estão desalinhados, o Poder Legislativo sendo frequentemente… não há no Brasil o chamado freios e contrapesos. Hoje o peso é só do Judiciário. O Judiciário virou um ativismo exagerado, sob o pretexto de salvar a democracia, está enfraquecendo e tentando destruir a democracia.

No cenário nacional o Novo vai ter um candidato ou o senhor faz coro ao nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas?

O Novo tem pré-candidato a presidente da República, que é o governador Zema, de Minas Gerais. Então, eu estou alinhado com o meu partido, vou dialogar a nível nacional com o meu partido. Vamos buscar a nível nacional o que vamos procurar a nível estadual, não vou fazer política só na Bahia. Para mim é importante a decisão federal. Nós teremos candidato a presidente e vamos buscar caminhos que levem a uma candidatura sólida à presidência da República. Por isso, que o nosso partido lançou o governador de Minas, que tem hoje aprovação disparada. Basta ver o desempenho de Minas comparado com o da Bahia. Minas é um estado que está em paz com o seu governador, por isso nós lançamos ele como pré-candidato. Mas eu tenho um grande carinho pelo governador Ratinho, que é meu amigo, eu trabalhei no Paraná e pude testemunhar e ajudar o governo dele quando fui conselheiro em Itaipu, tenho uma boa relação e uma grande admiração também pelo governador de São Paulo, sou amigo pessoal do governador Caiado. Existem vários candidatos colocados, mas nós precisamos derrotar Lula, esse é o objetivo.

Então o senhor aponta para um ambiente de convergência total da centro-direita?

É possível, mas eu não posso assegurar que ela vai ocorrer.

Mas o senhor é entusiasta disso?

Eu sou entusiasta de que haja uma candidatura consistente, que tenha o apoio de todos os partidos, inclusive do PL, que é o partido do presidente Bolsonaro, que é uma grande liderança.

Já tem data para anunciar sua chegada no Novo e a pré-candidatura ao governo?

Não, eu estou aguardando a direção nacional, mas quero trazer lideranças nacionais para o lançamento. Por exemplo, meu amigo Marcel van Hattem, que é um grande deputado, um grande político, será eleito pelo Novo senador do Rio Grande do Sul. Eu quero trazer lideranças importantes, inclusive se puder trazer também o governador Zema.

Bom conversar contigo, agora que o senhor está de volta ao jogo.

Eu voltei pro jogo porque o time estava perdendo demais.

Política Livre




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