Juliana Araújo 29 de setembro de 2025 | 10:36
Entrevista – Juliana Araújo: “Eu tenho lado, a gente não abandona o barco, a gente fica até o final”
Prefeita de Morro do Chapéu, a ‘Capital do Vinho’ da Chapada Diamantina, Juliana Araújo (PDT) está numa lista rara de prefeitos que mantêm publicamente para 2026 o apoio hipotecado a ACM Neto em 2022. Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ela diz que “tem lado” e “não abandona o barco” em tempos difíceis.
Nem por isso fechou a porta para a relação institucional com o governo do Estado. Na última terça-feira (23), este site antecipou em primeira mão o encontro que ela teve horas depois com o secretário de Relações Institucionais, Adolpho Loyola, principal articulador do governador Jerônimo Rodrigues (PT), para viabilizar recursos ao município – inclusive com registro posterior nas redes sociais.
“Meu partido agora é Morro do Chapéu”, disse a prefeita, buscando separar a gestão do ambiente de campanha pré-eleitoral. Em Salvador, Juliana também participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) sobre a cadeia produtiva do vinho na região, onde listou desafios de infraestrutura para potencializar, inclusive, o turismo que a vitinicultura promove.
Ela ainda fala sobre sua relação com o PDT, depois que o partido regressou à base do governo do Estado, sobre a menção do seu nome para a chapa majoritária e a expectativa de como vai se desenrolar o “nebuloso” cenário nacional, com seus reflexos na Bahia em 2026.
Leia a entrevista completa:
Qual o saldo para sua região da audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa sobre a cadeia produtiva do vinho na Bahia, em especial na Chapada Diamantina?
Foi muito boa a audiência aqui na Assembleia, conduzida pelo presidente [da Comissão de Agricultura] Manuel Rocha, todos os deputado que integram a comissão, inclusive meu deputado Pedro Tavares, que nos concedeu o título de ‘Capital do Vinho’ da Chapada Diamantina, para a gente discutir um pouco o que é bom e o que precisa melhorar para que esse setor venha crescer tanto em Morro do Chapéu quanto na Bahia.
“Quem quiser empreender em Morro do Chapéu a gente está à disposição para conversar e para fechar negócios”
Como está hoje o impacto dessa produção de vinho em Morro do Chapéu e na economia da região?
Nós temos hoje dez vinícolas, já cinco em funcionamento, todas elas, principalmente a vinícola Vaz, a vinícola Reconvexo e a vinícola Sertânia todos os finais de semana estão cheias. Então, elas levam o público para Morro do Chapéu, agregam ao turismo, porque as pessoas muitas vezes vão visitar as vinícolas, mas aproveitam e vão também na fabricação dos queijos, vão nos óleos essenciais, vão nos embutidos, vão as flores, então movimenta a economia da cidade, vai na farmácia, vai num restaurante e com isso a gente vem crescendo. Mas a gente tem um gargalo que são os hotéis. A gente tem em média 400 leitos, não que o Morro do Chapéu não tem hotéis bons, mas a gente precisa de hotéis para todas classes sociais, para as pessoas poderem visitar e querer ficar em Morro do Chapéu. A gente tem muito turista passante hoje. Então, aproveitar aqui esse veículo de comunicação e falar que quem quiser empreender em Morro do Chapéu a gente está à disposição para conversar e para fechar negócios para as pessoas virem à nossa cidade. E falar das estradas também, as empresas de energia eólica são muito boas para a região, mas elas acabam as estradas, tanto as BAs quanto as estradas vicinais. Então, que o governo do Estado venha cobrar dessas empresas que elas façam a manutenção dessas estradas, tanto a BA-144, que é onde fica a maioria das vinícolas, do trecho de Morro do Chapéu a Bonito, quanto também das estradas vicinais, que muitas vezes essas empresas não querem fazer a manutenção, e a gente tem que tomar algumas posições para fazer valer esse direito da população.
“A campanha política é só para o ano. O meu partido agora é Morro do Chapéu”
Como tem sido sua relação com o governo do Estado?
A gente vota no deputado Ângelo Almeida, que é secretário de Desenvolvimento Econômico, e vem ajudando muito a gente, inclusive o Governo do Estado tem um projeto piloto em Morro do Chapéu, que a gente está fazendo um sistema de comunicação que é pioneiro e por meio dele a gente vai poder vender os hotéis, vender passeios, vai agregar todo o estado da Bahia, começando por Morro do Chapéu. Isso é uma iniciativa muito boa do governo do Estado. Eu vinha falando antes, eu sou de lado, então na eleição quatro anos atrás eu tive uma posição e acho que a gente tem que continuar com o mesmo lado. Alguns prefeitos, e eu não estou aqui para falar deles, migraram do primeiro para o segundo turno para a base do governo, e na minha concepção a gente tem que estar junto na alegria e na tristeza, no amor e na dor, e eu não ia passar para os meus eleitores que no período de dificuldade a gente abandona o barco, a gente fica até o final. Agora, passados quatro anos, a gente tem que governar, a gente tem uma conversa institucional, inclusive em primeira mão vou dar aqui um spoiler para vocês, agora à tarde tem uma conversa com Adolpho Loyola [secretário de Relações Institucionais] para a gente conversar o melhor para Morro do Chapéu. Ninguém trabalha sozinho, a gente tem que dar as mãos para fazer o Morro e a Bahia crescerem, mas a campanha política é só para o ano. E meu partido agora é Morro do Chapéu.
“Fico lisonjeada [de ser cotada para (a chapa) majoritária], mas eu já tenho o meu planejamento estratégico até o final de 2028, tudo o que eu vou fazer na cidade”
Falando sobre a campanha do próximo ano, seu nome é citado nos bastidores com potencial para compor a chapa majoritária, até em razão do próprio ACM Neto apontar a necessidade de ter um nome do interior. Seu nome está à disposição, tem interesse numa eventual vaga de vice?
Eu fico muito orgulhosa, uma prefeita de uma cidade de 33 mil habitantes no interior da Bahia, ter sido cogitada para fazer parte da majoritária, mas eu amo a minha cidade, tenho muita coisa para fazer na minha cidade ainda. Fico lisonjeada, mas eu já tenho o meu planejamento estratégico até o final de 2028, tudo que eu vou fazer na cidade. Já estou trabalhando minha sucessão, justamente porque as pessoas que querem empreender lá tem que saber que a gente tem uma continuidade para ter uma confiabilidade maior na cidade. Mas eu estou aqui torcendo para que a gente tenha o melhor para a Bahia.
“Eu acabei de ganhar a eleição, então não tenho muito com o que me preocupar, eu não tenho janela partidária, eu estou governando Morro do Chapéu”
Como fica sua situação agora que seu partido, o PDT, decidiu migrar de volta para a base do governo do Estado?
Olha, eu estou no partido, meu pai é vice-presidente do partido, é o eterno deputado José Carlos Araújo, eu tenho um carinho imenso por Félix Mendonça Júnior, que me viu pequena, é uma história de amizade de família, o pai dele fez política com meu pai, depois Félix Júnior está fazendo política com ele, e aí Félix me trata como uma filha também, então é um carinho que a gente tem pelo partido. Eu acabei de ganhar a eleição, então não tenho muito com o que me preocupar, eu não tenho janela partidária, eu estou governando Morro do Chapéu.
Para finalizar, como está lendo o cenário nacional? Acha que dessa vez vai ter um impacto diferente aqui na Bahia?
Está muito conturbado o cenário federal. Em Morro do Chapéu Lula tinha oitenta e poucos por cento, hoje tem cerca de cinquenta e poucos por cento, mas essa questão de Bolsonaro, questão dos Estados Unidos, está tudo muito indefinido. A gente vai ter uma leitura melhor, como se fala na Bahia que a vida começa depois do Carnaval, eu acho que depois do Carnaval a gente vai ter um cenário melhor para poder avaliar como vai ser, porque hoje está tudo muito nebuloso.
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