O término do encontro, nessa sexta-feira (15/8), entre os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia, Donald Trump e Vladimir Putin, sem um acordo, indica a extensão da indefinição sobre um possível fim para a guerra na Ucrânia. Os dois líderes se reuniram no Alasca (EUA).
Putin fez um discurso no qual adotou um tom mais otimista do que Trump em relação ao progresso na conversa. O presidente russo, no entanto, disse existirem “raízes primárias do conflito” que ainda precisam ser eliminadas. Putin afirmou também que, para retomar a paz, é necessário um alinhamento da Ucrânia e de parte da Europa quanto ao ponto de vista dele sobre a segurança no continente, o que envolve diretamente a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Encontro é marco histórico
- O aviso do encontro entre os dois presidentes foi feito por Trump na rede social dele, a Truth Social.
- A reunião entre os dois durou cerca de três horas, mas tinha previsão de que pudesse se estender por até sete horas.
- As negociações diretas entre Rússia e Ucrânia foram retomadas em maio, mas avançaram pouco.
- O encontro no Alasca carregou simbolismo histórico: o território foi vendido pela Rússia aos EUA no século 19 e fica próximo ao território russo, distante do campo de batalha.
- Durante a campanha eleitoral de 2022, quando derrotou Kamala Harris, Trump garantiu que resolveria a guerra na Ucrânia “rapidamente” caso fosse eleito.
Ao longo da guerra no território ucraniano, Putin se mostrou incomodado com a possibilidade de a Ucrânia ingressar na Otan, ou seja, passar a ter a salvaguarda bélica da organização. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem recebido acenos de apoio de líderes europeus para tal movimentação.
Trump, por sua vez, mostrou-se visivelmente incomodado com o resultado do encontro. A expressão facial enquanto ouvia Putin era de chateação. Embora tivesse alertado previamente que havia apenas 25% de chances de a reunião ser bem-sucedida, o fato de não haver uma solução para o cessar-fogo diminui os argumentos de Trump para usar a expressão adotada por ele de “presidente da paz”.
Por outro lado, o líder estadunidense sinalizou e valorizou entendimentos comerciais entre Rússia e EUA. O resultado do encontro, por sua vez, não encaminha diretamente movimentos no sentido de avanços para uma proposta de cessar-fogo à Ucrânia. O presidente do país invadido, lembre-se, não foi sequer convidado para o encontro que viria a tratar, entre outros temas, de uma solução para a guerra.
O presidente norte-americano disse ainda que deve ligar para Zelensky, mas não se referiu a nenhum tipo de proposta que possa vir a fazer para ele.
Trump também sinalizou que irá conversar com a Otan a respeito do assunto.
O que disse Putin
Ao fim da reunião, Putin e Trump fizeram um pronunciamento à imprensa. O presidente russo foi o primeiro a se manifestar. Ao longo da fala, ele ressaltou os laços históricos entre a Rússia e a Ucrânia e chegou a afirmar que “a nação ucraniana é uma nação de irmandade” e classificou o conflito, iniciado após a invasão russa, como “uma tragédia”.
Após várias voltas na própria fala, Putin deixou claro que há pontos importantes a serem resolvidos para que possa haver uma negociação que leve a um cessar-fogo com a Ucrânia.
“Estamos convencidos de que, para fazer um tipo de acordo que tenha uma longa duração, nós precisamos eliminar as raízes primárias do conflito. E já dissemos isso várias vezes. Nós consideramos que reinstalar uma segurança equilibrada na Europa e no mundo como um todo é preocupação legítima da Rússia”, disse Putin.
O presidente russo ainda citou um suposto acordo, sem mencionar especificamente sobre o que se referia. “Eu espero que este acordo que atingimos (nos) traga a um momento mais próximo deste objetivo de paz, para que a gente construa esta paz na Ucrânia. Nós esperamos que Kiev e as capitais europeias percebam que, de forma construtiva, nós poderemos… não vamos ficar atrapalhados pelo nosso trabalho. Queremos fazer um progresso”, frisou.
As palavras de Trump
Trump classificou a reunião como “muito produtiva”, com o atingimento de muitos pontos de concordância, mas considerou que não foi consolidado nenhum tipo de acordo.
“Não há um acordo até que nós consigamos que eu fale com a Otan e eu fale com várias pessoas, e eu acho que isso é apropriado. Eu vou ligar para o presidente (Volodymyr) Zelensky. Eu acho que eles precisam concordar com o (secretário de Estado dos EUA) Marco (Rúbio), o (enviado especial dos EUA) Steve (Witkoff)”, disse Trump sem mais detalhes.
Trump continua a dizer que foi feito um “trabalho fenomenal” em relação a entendimentos sobre comércio.
“Concordamos em muitos pontos e há muito poucos que foram deixados … que não são tão significantes, um provavelmente é o mais significativo. Mas temos uma grande chance de chegar lá”, encaminhou o fim da fala, ao agradecer Putin.
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