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Filhotes de 14 mil anos eram lobos caçadores de rinocerontes

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Em 2011, caçadores de marfim encontraram os restos mortais de um “filhotinho” canino abaixo do solo congelado a 40km da vila de Tumat, no norte da Sibéria. Quatro anos depois, outro espécime foi encontrado, durante uma escavação no mesmo lugar. Paleontólogos acreditavam se tratar de exemplares dos primeiros cães domesticados, mas uma nova pesquisa de cientistas de Universidade de York trouxe uma perspectiva inédita.

O estudo revelou que os dois filhotinhos caninos de 14 mil anos se pareciam mais com lobos do que com os cachorros domésticos. A análise genética demonstrou que eram uma dupla de fêmeas irmãs com cerca de dois meses de idade. Sua alimentação era baseada em carnes e vegetais, assim como os lobos modernos.

Mesmo assim, a equipe se surpreendeu ao encontrar evidências de carne de rinoceronte-lanudo — espécie de rinoceronte adaptada a climas mais frios — no estômago dos espécimes. Isso levou o grupo a propor que esses lobos do Pleistoceno Superior (130 a 11 mil anos atrás), seriam consideravelmente maiores que seus parentes modernos.

“A caça de um animal tão grande quanto um rinoceronte-lanoso, mesmo um filhote, sugere que esses lobos são talvez maiores do que os que vemos hoje, mas ainda são consistentes em muitos aspectos, porque os lobos ainda tendem a caçar presas fáceis enquanto parte da matilha está envolvida na criação de filhotes”, disse o Dr. Nathan Wales, do Departamento de Arqueologia da Universidade de York, em um comunicado.

Ilustração do rinoceronte-lanudo feita por Benjamin Langlois. (Imagem: Mr Langlois10)

Filhotes não eram domesticados

Os Filhotes de Tumat, como ficaram conhecidos, estavam preservados no gelo, ao lado de ossos de mamute com marcas de terem sido queimados e processados por humanos primitivos. Esses rastros levaram os pesquisadores a propor que os caninos teriam alguma conexão com os hominídeos, sendo como cães em processo de aproximação dos humanos para conseguir comida.

Outra evidência para a antiga hipótese de serem os primeiros caninos domesticados foi o pelo escuro dos espécimes. Acreditava-se que essa mutação estava presente apenas em cachorros, porém, os filhotes se mostraram como uma exceção por não serem relacionados aos cães modernos.

“Embora muitos fiquem desapontados ao saber que esses animais são quase certamente lobos e não os primeiros cães domesticados, eles nos ajudaram a chegar mais perto da compreensão do ambiente da época, como esses animais viviam e quão notavelmente semelhantes os lobos de mais de 14.000 anos atrás são aos lobos modernos”, explicou Anne Kathrine Runge, que analisou os filhotes como parte de seu doutorado.

Pesquisadores analisaram os componentes químicos no estômago dos restos mortais dos filhotes. (Imagem: Mietje Germonpré Royal Belgian Institute of Natural Sciences

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Análise revelou passado do ambiente

Na busca pela causa da morte dos Filhotes de Tumar, a análise revelou que não há marcas de ataque nos espécimes. Os pesquisadores propõem que eles estivessem descansando após uma caça em um abrigo subterrâneo, quando um deslizamento de terra aconteceu e tampou o local. Os lobos teriam morrido aterrados e ficaram preservados no solo congelado.

Além da carne de rinoceronte, os cientistas estudaram outros elementos no estômago dos dois caninos. Eles encontraram restos de plantas fossilizados, evidência de que o ambiente tinha uma variedade de vegetais e animais a disposição.

“Podemos ver que suas dietas eram diversas, consistindo tanto em carne animal quanto de vida vegetal, muito semelhante à dos lobos modernos, e também temos uma ideia de seus comportamentos reprodutivos. As duas eram irmãs, provavelmente criadas em uma toca e cuidadas por sua matilha – todas características comuns na reprodução e criação de filhotes em lobos hoje em dia”, explicou Wales.

Embora os Filhotes de Turmat não sejam os ancestrais dos cães domésticos, eles podem ser fundamentais para pesquisas sobre a história dos lobos.

“Sabemos que os lobos cinzentos existem como espécie há centenas de milhares de anos com base em restos esqueléticos de sítios paleontológicos. Cientistas realizaram testes de DNA em alguns desses restos para entender como a população mudou ao longo do tempo. Os tecidos moles preservados nos Filhotes de Tumat, no entanto, nos dão acesso a outras maneiras de investigar os lobos e sua linha evolutiva”, concluiu o pesquisador.


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