Às vésperas do ano eleitoral, o governo Lula (PT) utilizou o segundo semestre de 2025 para acelerar a implementação e a divulgação de ações com apelo popular, incluindo promessas de campanha do petista da disputa de 2022. Os últimos meses deste terceiro ano de mandato foram aproveitados para agilizar entregas voltadas principalmente para públicos de baixa renda, além de preparar o terreno para propostas que ainda não foram aprovadas, mas que devem ser centrais na campanha à reeleição no próximo ano.
O Palácio do Planalto intensificou a divulgação do aumento da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e mobilizou esforços para avançar com propostas de redução da jornada 6×1, ampliação do crédito imobiliário e retomada de medidas voltadas a trabalhadores de aplicativo. Esses temas devem ser abordados nos debates de 2026. Recentemente, o governo alterou o processo de emissão da Carteira Nacional de Habilitação, eliminando a obrigatoriedade de matrícula em autoescolas e instituindo a renovação automática para condutores sem infrações.
O objetivo declarado da gestão era reduzir custos, visando públicos específicos como entregadores e motoristas de aplicativo que enfrentavam barreiras devido ao alto custo de aulas, exames e documentação. A pauta foi tratada principalmente pela Secretaria-Geral da Presidência, que desde o final de outubro é chefiada por Guilherme Boulos (PSOL). Uma das propostas que ganhou destaque com a nova gestão foi o fim da jornada 6×1. Para destravar essa proposta, que estava em tramitação no Congresso, Boulos foi à Câmara dos Deputados defender o tema.
Lula também promoveu ações voltadas à moradia popular, lançando o programa Reforma Casa Brasil, destinado à reforma de casas, e anunciando ações de crédito imobiliário focadas na classe média. A maioria desses anúncios foi acompanhada de campanhas na mídia e eventos no Palácio do Planalto, com forte presença de representantes da sociedade civil e movimentos sociais. Nesse contexto, o governo Lula alterou seu slogan de "União e Reconstrução" para "Governo no Brasil: do Lado do Povo Brasileiro", refletindo um novo momento do mandato.
Isabel Mota, advogada eleitoral, destacou que a concentração de ações antes do início do calendário de campanha é uma estratégia para evitar a exploração da máquina pública por governantes. Ela explicou que a lei busca equilibrar as oportunidades entre candidatos, e que grandes investimentos e propagandas com apelo eleitoral podem ser considerados formas de abuso de poder, mesmo antes do período eleitoral. A Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) afirmou que não há relação entre as ações e o calendário eleitoral, ressaltando que as entregas fazem parte de um esforço contínuo e planejado.
A relação de Lula com os movimentos sociais na segunda metade do ano foi marcada pela mudança na Secretaria-Geral, com a substituição de Márcio Macêdo por Guilherme Boulos, que recebeu a orientação do presidente para levar o "governo na rua". Esse programa visa levar serviços federais às cidades, com mutirões de atendimento a programas como Reforma Casa Brasil, Gás do Povo e Registro Nacional de Animais Domésticos.
Em um encontro com jornalistas em dezembro, Boulos expressou preocupação de que as entregas do programa fossem confundidas com campanha eleitoral irregular. Ele afirmou que, embora se trate de serviço social, poderia haver questionamentos sobre a legislação eleitoral. A meta para 2026 é realizar o "Governo do Brasil na Rua" até junho, a menos que haja um parecer dos órgãos de controle que permita a continuidade.
O governo também planeja iniciar em janeiro de 2026 um programa de orçamento popular, chamado Brasil Participativo, que permitirá aos cidadãos escolher as áreas de investimento da União. Segundo o ministro, essa proposta será testada nos primeiros meses de 2026 e não deve enfrentar restrições das regras eleitorais.
As ações do governo nos últimos meses contrastaram com um primeiro semestre marcado por crises na imagem pública, que afetaram a avaliação do presidente. Entre janeiro e junho, o governo enfrentou escândalos que exigiram reações para mitigar seus efeitos negativos. Em janeiro, uma portaria sobre o monitoramento de transações via Pix gerou notícias falsas sobre a taxação do sistema. Em seguida, surgiram desvios de benefícios de aposentados e pensionistas do INSS, resultando na demissão de Carlos Lupi, então ministro da Previdência, e do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. O governo também lidou com a crise do IOF, após a publicação de um decreto que elevou o imposto sobre operações de crédito específicas, gerando descontentamento entre empresários e levando a recuos da gestão.
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