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Investigação do Greenpeace acusa JBS de comprar gado de fazenda com desmatamento ilegal e histórico de trabalho escravo

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Uma investigação do Greenpeace Brasil atrelou a JBS, gigante global do setor de carnes, a uma série de irregularidades ambientais na Amazônia. O levantamento divulgado à imprensa nesta segunda-feira (29) detalha como a empresa teria comprado gado, durante anos, de uma fazenda no sudeste do Pará, a Chácara Rancho Alegre, que não só apresenta desmatamento ilegal, mas também funcionava como um “hub de triangulação” para gado vindo de uma propriedade vizinha, a Fazenda Nova Orleans, que acumula embargos do Ibama, multas milionárias e um passado na “lista suja” do trabalho escravo.

 

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As duas propriedades, localizadas no município de Santana do Araguaia, pertencem à mesma família: a Fazenda Nova Orleans está registrada em nome de Mário Biernaski, e a Chácara Rancho Alegre, em nome de Tania Biernaski. Segundo o Greenpeace, essa relação familiar facilitou um esquema conhecido como “lavagem de gado”: animais criados em uma área com graves pendências ambientais são transferidos para uma propriedade “limpa” antes de serem vendidos ao frigorífico, burlando os sistemas de controle.

 

FAZENDA NOVA ORLEANS
O ponto de partida do esquema, segundo a investigação, é a Fazenda Nova Orleans, uma propriedade de mais de 10 mil hectares. O terreno é equivalente a 74 vezes o tamanho do Hyde Park em Londres ou 48 vezes o Parque Ibirapuera em São Paulo.



Imagens aéreas da Fazenda Nova Orleans | Fotos: Greenpeace Brasil

 

Conforme a acusação do Greenpeace, o histórico da fazenda é extenso, recebendo embargos do Ibama, presença na Lista do Desmatamento Ilegal e lista suja do trabalho escravo. Confira: 

  • Embargos do IBAMA: Foi embargada em 2011 por desmatar ilegalmente mais de 1.168 hectares, resultando em uma multa de R$ 8,7 milhões na época. Um segundo embargo foi aplicado em 2018, bloqueando atividades em outros 534 hectares.
  • Desmatamento Ilegal: A propriedade consta na Lista do Desmatamento Ilegal (LDI) do Pará por um desmate de 164 hectares em 2013.
  • Trabalho Escravo: O nome de Mário Biernaski e a Fazenda Nova Orleans foram incluídos na “lista suja” do trabalho escravo após o resgate de 29 trabalhadores em 2005, que eram explorados justamente para desmatar e ampliar a área de pastagem.
  • Manipulação de Cadastro: A fazenda alterou os limites do seu Cadastro Ambiental Rural (CAR) em algum momento entre 2018 e 2019, reduzindo a sobreposição com áreas de desmatamento em 31%, numa aparente tentativa de ocultar irregularidades.

 

Conforme a investigação, devido a essas e outras pendências, a fazenda é classificada como “inapta” pela plataforma Selo Verde, do governo do Pará.

 

A investigação também aponta que a Chácara Rancho Alegre, com apenas 64 hectares, serviu de fachada para legalizar o gado da Nova Orleans. Entre dezembro de 2018 e agosto de 2023, 1.901 bois foram transferidos da fazenda embargada para a chácara.

 

A própria Chácara Rancho Alegre, no entanto, também possui irregularidades. A propriedade tem um desmatamento de 17,6 hectares posterior a 2008 sem a devida autorização legal. Essa condição, por si só, viola os critérios do Compromisso Público da Pecuária e do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne, acordos dos quais a JBS é signatária e que proíbem a compra de gado de áreas com desmatamento ilegal.

 

Além disso, a produtividade da chácara é considerada suspeita. Com um fluxo de mais de 4.174 animais entre 2018 e 2023, sua taxa de lotação média foi de 10,08 cabeças por hectare ao ano, mais de três vezes o limite de 3 cabeças/ha/ano usado pelo Ministério Público Federal como indicador de risco de triangulação de gado.

 

DESTINO A JBS
Com o gado “lavado”, a Chácara Rancho Alegre se tornou uma fornecedora constante da unidade da JBS em Santana do Araguaia. Dados da própria Friboi, marca da JBS, confirmam que a chácara realizou 129 entregas para o frigorífico entre 2018 e 2024. Apenas entre maio de 2022 e março de 2023, foram enviados 841 bois da chácara para o abate na JBS.

 


Detalhamento do esquema | Imagem: Greenpeace Brasil

 

Em resposta ao Greenpeace, a JBS afirmou que todas as compras mencionadas estavam em conformidade com suas políticas e com o protocolo do setor. A empresa acrescentou que bloqueou preventivamente a Chácara Rancho Alegre e solicitou esclarecimentos ao produtor. Informou também que a Fazenda Nova Orleans já estava bloqueada em seu sistema desde 2014.

 

A JBS declarou ainda que monitora 100% de seus fornecedores diretos e que investe em programas de rastreabilidade no Pará.

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