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Lula tem vitórias na ONU, mas governo modera otimismo diante de Trump imprevisível

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Lula tem vitórias na ONU, mas governo modera otimismo diante de Trump imprevisível

Foto: Ricardo Stuckert/PR/Arquivo
O presidente Lula (PT) 28 de setembro de 2025 | 07:41
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Lula tem vitórias na ONU, mas governo modera otimismo diante de Trump imprevisível

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornou da Assembleia-Geral da ONU com o trunfo de uma promessa de reunião futura com Donald Trump, que pode lançar as bases de negociação sobre o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil.

O balanço dos quatro dias de Lula em Nova York, segundo aliados, é considerado positivo por diferentes razões.

Primeiro, a breve interação com Trump nos bastidores da ONU sinalizou que o governo brasileiro e representantes do setor empresarial conseguiram acessar figuras-chave do alto escalão americano, rompendo o bloqueio articulado pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) e pelo apresentador Paulo Figueiredo, que buscavam evitar esse tipo de contato.

Com isso, Lula se posicionou como um líder que não cedeu a pressões, manteve um discurso de soberania e, ainda assim, abriu caminho para um diálogo com o presidente dos Estados Unidos.

Um possível entendimento na área tarifária também é apontado como fator que aprofundou divisões na direita brasileira e contribuiu para o sinal de desânimo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em relação a uma eventual candidatura presidencial em 2026.

Além disso, a passagem de Lula por Nova York não foi marcada por episódios diplomáticos negativos repercutidos pela imprensa ou nas redes sociais —bem diferente do que ocorreu durante viagem à China, em maio, quando veio à tona que a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, havia feito críticas ao TikTok durante um encontro com o dirigente Xi Jinping. O episódio acabou sendo o fato político de maior repercussão da visita.

Lula e Trump conversaram por menos de um minuto nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU. O encontro aconteceu logo após o discurso do petista —recheado de críticas a políticas defendidas por Trump— e antes de o republicano iniciar sua fala.

A possibilidade de diálogo vinha sendo construída havia meses, por meio de contatos discretos entre os dois governos e da atuação de empresários brasileiros e americanos.

Ainda assim, a forma como Trump se referiu a Lula surpreendeu até os auxiliares mais otimistas do presidente brasileiro. O republicano chegou a dizer que teve “excelente química” com Lula.

“Ele pareceu um homem muito bom. Ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, declarou Trump na plenária da ONU.

Lula, por sua vez, disse numa entrevista coletiva acreditar que Trump havia sido mal informado sobre o Brasil. “Quando ele tiver as informações corretas, pode mudar de posição”, avaliou.

Diplomatas brasileiros ouvidos pela reportagem relatam que uma ala da atual administração americana acreditava que sanções e tarifas contra o Brasil pudessem reabilitar politicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou até mesmo levar à destituição do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo esses interlocutores, a Casa Branca ajustou sua postura à medida que integrantes do governo Trump concluíram que tais objetivos dificilmente seriam atingidos.

Já bolsonaristas com acesso a representantes do governo Trump afirmam que os atores que articularam sanções ao Brasil não mudaram de posição e continuarão levando ao presidente americano a leitura de que há uma série de abusos no Brasil por parte de Moraes e com o apoio do governo Lula.

Apesar da avaliação positiva da viagem, auxiliares de Lula afirmam que o momento exige cautela, sobretudo devido à imprevisibilidade do presidente americano.

Nesse contexto, uma eventual reunião entre Lula e Trump deverá ser cuidadosamente planejada, a fim de evitar armadilhas semelhantes às enfrentadas pelos presidentes Volodimir Zelenski, da Ucrânia, e Cyril Ramaphosa, da África do Sul —ambos submetidos a audiências consideradas constrangedoras no Salão Oval.

Por essa razão, assessores do presidente brasileiro trabalham com a perspectiva de uma aproximação gradual.

A primeira etapa seria uma ligação telefônica entre os dois líderes nos próximos dias, permitindo que suas equipes mantenham contato com mais liberdade —até agora, os diálogos entre enviados dos dois governos têm ocorrido sob sigilo.

Seguindo essa estratégia de aproximação progressiva, um encontro presencial poderia acontecer em um terceiro país. A opção mais provável, neste momento, é a Malásia, sede da próxima cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), que ocorrerá de 26 a 28 de outubro.

Julia Chaib/Ricardo Della Coletta/Folhapress



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