N/A

Lula tenta frear queda de popularidade com ofensiva de WhatsApp usada por João Campos

0 views
Lula tenta frear queda de popularidade com ofensiva de WhatsApp usada por João Campos

Foto: Ricardo Stuckert/PR
O presidente Lula com o prefeito do Recife, João Campos (PSB) 07 de junho de 2025 | 11:20

Lula tenta frear queda de popularidade com ofensiva de WhatsApp usada por João Campos

Em uma ofensiva para frear a queda de popularidade, o governo Lula aposta agora no algoritmo. A nova estratégia de comunicação digital, com o uso frequente e direcionado do aplicativo WhatsApp, vem sendo construída para que ministérios enviem mensagens mais diretas à população.

O modelo é inspirado em um “case” de sucesso adotado pela Prefeitura do Recife, comandada por João Campos (PSB), aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A abordagem com um toque casual tentará capturar a atenção dos eleitores perdidos de um a dois salários mínimos, que se beneficiam dos programas sociais, mas não se sentem contemplados por iniciativas do governo federal. A intenção é mostrar que as entregas estão sendo feitas pela administração de Lula e, além disso, conquistar apoio da classe média e do público jovem.

Com a nova investida, o presidente procura entrar no mundo virtual da oposição, que domina as redes sociais e ganha cada vez mais adeptos no ataque ao governo. No Congresso, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizam o “modo analógico” de Lula, que nem mesmo usa celular.

Agora, os ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social começaram a enviar mensagens “personalizadas”, por WhatsApp, para beneficiários de seus programas sociais.

“Temos um sistema de comunicação que é uma via de mão dupla”, disse ao jornal O Estado de S.Paulo o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias. “Enviamos mensagens institucionais e oferecemos o telefone 121 para dúvidas e encaminhamentos sobre os 48 programas integrados ao Cadastro Único – onde o Bolsa Família é o principal deles – por meio do WhatsApp ou Call Center”, completou.

O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) é uma das bases de dados usada pelo Executivo para o disparo de mensagens em uma operação construída em parceria com a Dataprev e o Serpro.

O governo fez uma consulta à Advocacia-Geral da União (AGU) para saber se a iniciativa esbarraria na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). No entendimento da AGU, porém, não há qualquer tipo de impedimento porque a lei permite o tratamento de dados pessoais pelo governo quando a medida é voltada à execução de políticas públicas.

“Além disso, a Lei de Governo Digital (n.º 14.129/2021) e a Estratégia de Governo Digital (decreto n.º 10.198/2024) reforçam o compromisso da administração com a modernização e a digitalização dos serviços, ampliando o uso de canais digitais, com o WhatsApp, para garantir mais eficiência, acessibilidade e inclusão a direitos e serviços públicos”, destacou, em nota, o Ministério da Saúde.

Comandada por Alexandre Padilha, a pasta da Saúde já está enviando mensagens de WhatsApp para usuários do programa Farmácia Popular. O ministério identificou cerca de 2 milhões de pessoas com diagnóstico de hipertensão que não retiraram os medicamentos gratuitos, nos últimos três meses, e mandou alertas para esses usuários.

A base de dados empregada na ação piloto foi a do DataSUS. Padilha disse que o objetivo da iniciativa é ampliar o acesso da população a políticas públicas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). O programa Agora tem Especialistas, que chegou a mudar de nome para ter mais apelo publicitário – e foi relançado no último dia 30 –, também contará com informações encaminhadas por WhatsApp.

Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira, 4, acendeu o sinal vermelho no Palácio do Planalto. O levantamento indicou que a avaliação de Lula atingiu o pior patamar desde o início de seu terceiro mandato, em 2023. A desaprovação do governo chegou a 57% enquanto as opiniões positivas sobre a gestão petista não passaram de 40%.

Chama a atenção o fato de Lula estar perdendo apoio cada vez mais significativo entre segmentos que tradicionalmente votavam no PT. Estão nesta lista eleitores de classes menos favorecidas, que ganham de um a dois salários mínimos, moradores do Nordeste e mulheres.

A Quaest mostrou, ainda, que 60% dos entrevistados desconhecem propostas do governo. Lula precisa de uma marca para o seu terceiro mandato, mas ainda não a encontrou. Corre contra o tempo neste ano que antecede a disputa de 2026, quando pretende concorrer à reeleição.

O escândalo envolvendo os descontos indevidos em aposentadorias do INSS e o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) contribuíram para piorar a avaliação do presidente.

Nesta semana, mensagens por WhatsApp e pela caixa postal do app Gov.BR também começaram a ser enviadas pelo Ministério da Educação, dirigido por Camilo Santana, para estudantes que participam do programa Pé-de-Meia e ainda não acessaram suas contas bancárias.

Aproximadamente 650 mil beneficiários se encontram nesta condição. Menores de idade precisam de consentimento de um responsável legal para movimentar os valores depositados na conta.

O Pé-de-Meia é direcionado a estudantes matriculados no ensino médio que são beneficiários do CadÚnico. Na prática, funciona como uma poupança para incentivar a permanência dos alunos na escola, mas pesquisas em poder do governo mostram que o programa ainda não emplacou.

A pedido do ministro de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, o secretário de Transformação Digital, Ciência e Tecnologia do Recife, Rafael Cunha, apresentou ao Planalto o modelo adotado na capital de Pernambuco para interação com os moradores.

Desde que Sidônio entrou no governo, em janeiro, integrantes da equipe de João Campos têm sido acionados e quase toda semana desembarcam em Brasília. A jornalista Mariah Queiroz, por exemplo, trabalhava com Campos e hoje é secretária de Estratégia e Redes da Presidência.

“A nossa estratégia contribui para dar mais informação e clareza sobre os serviços públicos e evitar que o cidadão caia em golpes”, afirmou o secretário Rafael Cunha. “A melhor propaganda de um governo é o trabalho e o que a gente faz na plataforma digital é prestar serviço. Trata-se de um instrumento de participação popular”, emendou ele.

Campos é aposta para o pós-Lula

Eleito presidente nacional do PSB no domingo, 1.º, João Campos é uma aposta de setores da esquerda para o período pós-Lula. Tem 2,9 milhões de seguidores no Instagram, mais de 900 mil no TikTok e virou um fenômeno nas redes sociais com linguagem popular.

Embora Lula domine esse tipo de comunicação no tête-à-tête, o palanque virtual não tem produzido dividendos políticos ao petista. Além disso, o governo não consegue carimbar a paternidade de seus programas, que acabam confundidos com medidas adotadas por administrações municipais e estaduais.

A versão para WhatsApp da plataforma Conecta Recife, popularmente chamada de Conecta Zap, tem mais de 500 mil pessoas cadastradas. Ali, os usuários autorizam o recebimento das mensagens com o código de verificação e escolhem os temas sobre os quais querem ser informados.

Desde 2021, a conta oficial da prefeitura do Recife já disparou mais de 60 milhões de mensagens, todas com foco na prestação de serviços, que vão de avisos sobre descontos na conta de luz e abatimentos no IPTU até oportunidades de emprego.

A ferramenta começou a ser utilizada durante a pandemia de covid-19, quando Campos exercia o seu primeiro mandato de prefeito, e vem sendo ampliada. Depois dos avisos por WhatsApp, a cobertura de vacinas de todos os tipos, para crianças, saltou de 68% para 86%.

Com 860 serviços digitalizados, Recife é hoje a cidade que mais recorre ao aplicativo, segundo a empresa Meta, administradora do WhatsApp. Faz até enquete com moradores sobre bandas que devem tocar no carnaval e preferência de moradores para seus bairros.

“Diz pra gente: o que deve ter nessa praça? Bora nessa? A cidade vai ganhar mais um espaço massa!”, destaca uma das mensagens encaminhadas por WhatsApp pela prefeitura.

“Nós também usamos a ferramenta digital para fazer campanhas, como a de vacinação e mutirões”, contou Rafael Cunha. “E agora vamos começar a mandar informações sobre o desempenho dos alunos para os pais, que precisarão justificar a ausência de seus filhos às aulas”.

O governo Lula não só gostou da ideia como está copiando a experiência do Recife, capital onde João Campos desfruta de altos índices de aprovação.

Vera Rosa/ Estadão




Descubra mais sobre Euclides Diário

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Rolar para cima