Um estudo inédito divulgado nesta quarta-feira (4), o Mapa Histórico dos Grupos Armados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, revela uma reorganização territorial do crime na metrópole carioca. Elaborado pelo GENI/UFF em colaboração com o Instituto Fogo Cruzado, o levantamento estima que, em 2024, aproximadamente 4 milhões de pessoas, o que corresponde a cerca de um terço da população metropolitana, residem em áreas controladas ou influenciadas por facções criminosas e milícias. A pesquisa, que abrange um período de 18 anos, utilizou denúncias anônimas, registros públicos e informações georreferenciadas para mapear a evolução do domínio armado. Os resultados mostram um aumento de mais de 130% na área dominada por grupos armados desde 2007, impactando um número 59% maior de pessoas. O estudo destaca que a distribuição do domínio armado é desigual na cidade, refletindo dinâmicas sociais, econômicas e institucionais específicas de cada região.
Expansão e Retração do Domínio Armado
O relatório distingue duas formas de atuação dos grupos armados: o controle, caracterizado pela extração sistemática de recursos, imposição de normas e uso da força; e a influência, onde esses elementos se manifestam de forma parcial ou intermitente. Em 2024, 29,7% da população metropolitana vivia sob controle direto, enquanto 5,3% residia em áreas de influência. A análise da série histórica revela dois períodos distintos: entre 2016 e 2020, houve uma expansão intensa do domínio armado, coincidindo com a crise fiscal do estado, o enfraquecimento das UPPs e a intervenção federal. A partir de 2020, o estudo registra uma retração moderada, influenciada pela perda de territórios pelas milícias após operações policiais que atingiram suas lideranças. Apesar dessa retração, a presença desses grupos permanece significativa em termos de extensão territorial.
Disputa Territorial e Dinâmicas Regionais
O mapa revela que as milícias controlam quase metade da área dominada na metrópole, enquanto o Comando Vermelho (CV) detém o controle sobre o maior número de moradores. As facções criminosas ampliaram sua presença populacional, com destaque para o crescimento do Terceiro Comando Puro (TCP) desde 2018. Em contrapartida, o Amigo dos Amigos (ADA) apresenta uma retração contínua. O estudo também identifica duas dinâmicas de expansão: a colonização, que ocorre em áreas ainda não dominadas, e a conquista, que envolve a substituição de um grupo por outro em territórios já ocupados. As milícias tendem a avançar pela colonização, enquanto as facções se expandem por meio de disputas diretas. No Leste Fluminense, o domínio é majoritariamente do Comando Vermelho, enquanto a Baixada Fluminense apresenta uma forte disputa entre milícias e facções.
Impacto Social e Desigualdades
No município do Rio de Janeiro, 42,4% da população vive sob controle ou influência de grupos armados, com predominância miliciana na Zona Oeste e maior presença de facções nas zonas Sul, Centro e parte da Zona Norte. Os dados revelam uma forte relação entre o domínio armado e marcadores sociais, como a renda per capita, que é significativamente menor em áreas controladas, e a proporção de moradores não brancos, que é maior nessas regiões. Para os pesquisadores, a compreensão dessa estrutura exige uma abordagem que envolva não apenas ações de segurança pública, mas também políticas de urbanização, redução de desigualdades e fortalecimento de serviços estatais. O governo do Rio de Janeiro foi contatado para comentar a situação e ainda não se pronunciou.
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Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br
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