Em um discurso inflamado proferido na Praça de Bolívar, em Bogotá, nesta sexta-feira (24), o presidente colombiano, Gustavo Petro, manifestou sua esperança de que a tensa crise diplomática com os Estados Unidos chegue ao fim. A crise resultou na perda de ajudas financeiras americanas, na revogação de seu visto e na inclusão de seu nome e de familiares na temida Lista Clinton.
Segundo a imprensa local, Petro não apenas atacou as ações do presidente Donald Trump, mas também antecipou sua intenção de retornar ao país norte-americano:
“Talvez quando eu volte aos Estados Unidos, porque voltaremos, porque a ameaça será derrotada, chegaremos carregados de livros de García Márquez, talvez naquela mesma rua onde falei em Nova York e os distribuirei gratuitamente aos cidadãos que passarem por lá.”
Crítica à Censura e Defesa de Gabo
O presidente colombiano questionou a lógica das sanções, traçando um paralelo inusitado entre o combate às drogas e a literatura.
“…E ao mesmo tempo censuram os livros de Gabriel García Márquez. Digo-lhe, Trump, haverá menos gente que consuma fentanil e cocaína se aprenderem a ler e lerem os livros de Gabriel García Márquez.”
Ele ainda criticou a incoerência das ações americanas: “Disparam mísseis e censuram Gabo. Estão no caminho errado, porque o que deveriam fazer é apagar os mísseis e deixar de censurar a literatura caribenha de Gabriel García Márquez.”
“Me Castigam e Hoje Zombo do Castigo”
Em sua intervenção, Petro enfatizou que as sanções americanas não o afetam pessoalmente, já que ele não possui bens ou contas nos Estados Unidos, desafiando a lógica da punição.
“Não há nenhuma conta para me congelar. Não tenho nem vontade, nem nunca no futuro, de fazer negócios nos Estados Unidos da América”, declarou, reforçando não ter “um dólar nos Estados Unidos”.
O mandatário atribuiu a decisão de Trump a um desconhecimento sobre a realidade colombiana e sobre sua trajetória de luta contra o narcotráfico. Segundo Petro, essa falta de informação impede o presidente americano de distinguir entre aqueles que promovem o narcotráfico e aqueles que o combatem.
“O senhor Trump ataca o líder colombiano que mais se opôs ao narcotráfico, sedento de poder político e de sangue na Colômbia,” sustentou, acrescentando que Trump se cerca de “a máfia da Colômbia.”
Defesa da Paz Total e Aliança com a Paz
Petro defendeu sua política de Paz Total, que busca negociar com grupos armados, alguns ligados ao narcotráfico, como um esforço para reduzir a violência, e não como uma aliança com criminosos:
“Se nos acusa como se essa tentativa de evitar mais violência na Colômbia, fosse uma aliança com o narcotráfico e o único que posso dizer com a verdade do meu coração, é que este Governo tenta fazer, é uma aliança com a paz,” esclareceu.
O presidente também reiterou a denúncia que fez sobre a compra irregular do software espião Pegasus na Colômbia. Embora o Departamento do Tesouro dos EUA tenha classificado a informação como confidencial, Petro defendeu a necessidade de a cidadania tomar conhecimento das supostas anomalias.
O líder colombiano concluiu seu discurso questionando o apoio americano à segurança da Colômbia e afirmou que o poder de Washington controla as forças públicas do seu país: “Nos dominam.” Ele finalizou o desafio pessoal: “Nunca tive comportamentos mafiosos (…). Me castigam e hoje zombo do castigo.”
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