Tarcísio Freitas, governador de São Paulo 05 de outubro de 2025 | 11:14
Negativas de Tarcísio fazem Ratinho, Caiado e Zema voltarem a sonhar com 2026 a um ano da eleição
A um ano da eleição, Tarcísio de Freitas (Republicanos) virou um fantasma no tabuleiro da direita, e a sua candidatura presidencial tem assombrado governadores que tentam se viabilizar, mas são tratados como plano B do paulista. Mas as notícias de um suposto recuo de Tarcísio, com negativas públicas sobre a disposição de concorrer ao Planalto, reacenderam o ânimo de Ratinho Júnior (PSD), Ronaldo Caiado (União) e Romeu Zema (Novo), que viram seus nomes de volta ao radar de lideranças do Centrão.
O otimismo, porém, é discreto, e ainda perdura no entorno desses presidenciáveis certo ceticismo em relação a se Tarcísio realmente recuou ou se é uma opção tática para se blindar das críticas que sofreu após o 7 de Setembro. A avaliação é que o governador paulista continuará sendo uma ameaça às suas pretensões eleitorais, com poder de embaralhar ainda mais a sucessão a qualquer momento.
Nas últimas semanas, políticos do grupo de Tarcísio passaram a circular a informação de que ele havia dado um passo atrás na disputa presidencial. O movimento é associado à melhora na popularidade de Lula (PT) e à sequência de erros da direita, que vai desde o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) trabalhando pelo tarifaço de Donald Trump ao Brasil até os partidos do campo apoiando a PEC da Blindagem, proposta que dificulta a prisão de parlamentares e que levou milhares de manifestantes às ruas.
Auxiliares de Tarcísio negam essa versão e argumentam que a prioridade do governador sempre foi disputar a reeleição em São Paulo. Ele avalia que ainda não concluiu seu trabalho no Estado e que a recondução é um caminho mais seguro do que arriscar um voo presidencial. Em reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na semana passada, Tarcísio demonstrou interesse em permanecer em São Paulo, segundo relatou um interlocutor do governador ao Estadão.
Ao mesmo tempo, aliados de Bolsonaro dizem estarem confusos porque o ex-presidente teria sugerido Michelle Bolsonaro (PL) como vice de Tarcísio e, dias depois, afirmado que a ex-primeira-dama será candidata a senadora pelo Distrito Federal.
Pessoas que convivem com Tarcísio são unânimes ao dizer que só um pedido direto de Bolsonaro poderia fazê-lo mudar de ideia. Mesmo assim, correligionários avaliam que o ex-ministro da Infraestrutura teria argumentos para tentar demover o ex-chefe, alegando que a sucessão em São Paulo ficaria em risco, já que as pesquisas mostram o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) competitivo numa disputa sem o atual governador.
O cientista político Antônio Lavareda afirma que uma diferença da eleição de 2026 é que, a um ano do primeiro turno, não há definição sobre as candidaturas de oposição. “Qual é o problema de nomes como Zema, Ratinho, etc? Eles são candidatos situados como plano B. Se Tarcísio não for, eles são candidatos. Isso também os deprecia aos olhos do eleitorado”, diz ele.
Centrão vê Ratinho como nome mais viável sem Tarcísio
Recuando ou não, a incerteza em torno da candidatura de Tarcísio serviu de alento aos demais presidenciáveis, embora pese a avaliação de que os tropeços da direita tenham favorecido Lula.
Lideranças do Centrão ouvidas reservadamente avaliam que, sem Tarcísio na disputa, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, é quem teria mais chances de se viabilizar e atrair apoios. Bem avaliado em seu Estado, ele aparece com desempenho semelhante ao do paulista nas simulações de segundo turno. No último levantamento Genial/Quaest, divulgado em agosto, Tarcísio marcou 35% de intenção de voto contra 43% de Lula, enquanto Ratinho registrou 34% a 44%.
Um dos entusiastas da candidatura de Ratinho é o presidente do PSD e secretário de Governo de Tarcísio, Gilberto Kassab. Como mostrou o Estadão, Kassab tem atuado para que Tarcísio dispute a reeleição em São Paulo para, assim, se colocar como vice e, no futuro, assumir o Palácio dos Bandeirantes. O governador, no entanto, rejeita a composição.
Nos últimos dias, numa tentativa de manter Tarcísio no xadrez estadual, Kassab intensificou o apoio à candidatura presidencial de Ratinho e chegou a reunir empresários em sua casa em São Paulo para reforçar que o paranaense é seu candidato ao Planalto.
Outro fator que pesa a favor de Ratinho é que, apesar de não ser bolsonarista, tem um bom relacionamento com o grupo e com o próprio ex-presidente. Diferente, por exemplo, de Ronaldo Caiado, cuja relação com o ex-presidente e o grupo tem oscilado nos últimos anos. O próprio Tarcísio, segundo aliados, vê o paranaense com bons olhos.
Enquanto Ratinho Júnior se fortalece como alternativa a Tarcísio, Caiado e Zema enfrentam obstáculos que vão além do governador paulista. O goiano repete que será candidato a qualquer custo, mas encontra resistência dentro do próprio partido. Ele tem feito acenos ao bolsonarismo, por exemplo dizendo que a anistia será seu primeiro ato de governo, mas até correligionários avaliam que nenhum gesto será suficiente para garantir o apoio do grupo.
Aliados de Caiado acreditam que, sem Tarcísio, a direita tende a chegar dividida no primeiro turno, mas que, num eventual segundo turno, todos do campo se uniriam em torno de um único nome. Creomar de Souza, CEO da consultoria política Dharma, faz a mesma avaliação:
“Há um sentimento entre esses nomes da direita de que qualquer um deles consegue vencer o Lula e ganhar a eleição. Todos dizem que, mesmo terminando atrás do petista no primeiro turno, no segundo a união garantiria a vitória, sobretudo por conta da alta rejeição do presidente. Esse cálculo alimenta a possibilidade de um palanque dividido”, diz Creomar, acrescentando que lançar um candidato à Presidência fortalece os partidos na eleição para o Congresso, que está diretamente ligada ao aumento do fundo eleitoral.
Outro fator que, na opinião dele, pode contribuir para a fragmentação de candidaturas é o caráter de transição desta eleição: será a última disputa de Lula. “É muito útil para alguns candidatos se lançarem neste momento pensando em 2030. Qual a projeção de 2030? Será uma eleição sem Lula, principal ator político da Nova República, e sem Bolsonaro, que foi o mais capaz de fazer esse enfrentamento ao Lula no passado recente”, acrescenta o consultor político.
Romeu Zema, governador de Minas, chegou a dizer em entrevista coletiva na quinta-feira que a candidatura de Tarcísio “não faz nenhum sentido” e que a direita deve lançar mais de um nome na disputa. Um aliado do governador disse ao Estadão que Tarcísio representa uma espécie de sombra sobre os demais e sua saída do jogo melhora a perspectiva eleitoral não apenas do mineiro, mas também a de Ratinho e de Caiado.
“Tarcísio tem deixado claro que ele é candidato à reeleição e eu concordo. Deixar de lado uma reeleição garantida para tentar algo incerto e ainda deixar São Paulo aberto a um eventual candidato de esquerda não é algo que deva se arriscar, na minha opinião”, disse o governador de Minas Gerais no mesmo dia à Rádio Eldorado.
A principal dificuldade de Zema é a falta de estrutura partidária, recursos para a campanha e apoio em outras siglas para se tornar conhecido fora de seu Estado natal. Por outro lado, a aposta de sua equipe é que, em um cenário fragmentado, ele leve vantagem sobre outros nomes da direita e consiga ir para o segundo turno a partir de uma forte votação em Minas Gerais.
Bianca Gomes e Pedro Augusto Figueiredo/Estadão Conteúdo
Descubra mais sobre Euclides Diário
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.