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Nova teoria sobre a origem da roda envolve minas antigas

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Um dos artefatos mais emblemáticos da história da humanidade, a roda, pode ter surgido não como uma invenção isolada, mas como o resultado de uma série de pequenas adaptações feitas por mineiros do sudeste europeu há cerca de 6 mil anos. A hipótese é apresentada por Kai James, professor de engenharia aeroespacial no Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA), em artigo publicado no site The Conversation.

Segundo James, a origem da roda pode estar ligada ao cotidiano de trabalho pesado em minas de cobre na região dos Montes Cárpatos — território que hoje faz parte da Hungria. Ali, trabalhadores que precisavam transportar grandes volumes de minério dentro de túneis estreitos podem ter dado início a um processo evolutivo que resultou no surgimento da roda como conhecemos hoje.

Mina de cobre pode ter sido a origem da roda (Imagem: Ziadi Lotfi / iStock)

Modelos em miniatura são ponto de partida da teoria

A teoria ganha força com a descoberta arqueológica de mais de 150 pequenos modelos de carroças com quatro rodas, feitos de argila e datados por carbono como os mais antigos já encontrados. As miniaturas trazem padrões externos semelhantes às cestas usadas por comunidades mineradoras da época, indicando uma ligação direta com o transporte de cargas.

Essa evidência inspirou James e sua equipe a investigar por que civilizações mais avançadas, como a do Egito antigo, não criaram a roda antes, mesmo tendo conhecimentos arquitetônicos e técnicos mais desenvolvidos. Segundo ele, o ambiente controlado das minas oferecia condições ideais para o uso e aprimoramento de tecnologias de transporte, ao contrário dos terrenos irregulares e cheios de curvas das regiões planas externas.

“A descoberta de roletes com encaixes semicirculares representou um ponto de virada na evolução da roda”, afirma James. “Esse tipo de modificação eliminava a necessidade de recolocar os roletes à frente da carga constantemente.”

Simulação por computador e o conceito de vantagem mecânica

Para compreender como o rolete se transformou em roda, os pesquisadores criaram um algoritmo capaz de simular a evolução de formas estruturais com base em dois critérios: vantagem mecânica e resistência estrutural. A vantagem mecânica é o princípio físico que permite, por exemplo, que um alicate multiplique a força aplicada pela mão.

Ao modificar gradualmente o formato dos roletes em centenas de simulações, o programa chegou ao design que mais se destacou em eficiência e durabilidade: o formato clássico da roda com eixo. A transformação, segundo o estudo, ocorreu de maneira incremental, por meio de pequenas mudanças — como o desgaste natural da madeira ou a adaptação intencional para passar por obstáculos.

modelos de roda
Uma simulação computacional da evolução de um rolo para uma estrutura com roda e eixo. Cada imagem representa um design avaliado pelo algoritmo. (Imagem: Kai James via The Conversation)

“Acreditamos que um processo evolutivo semelhante tenha ocorrido entre os mineradores há 6 mil anos”, escreve James. “Com o tempo, os roletes passaram a ser produzidos imitando os modelos que melhor funcionavam.”

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Roda como resultado, não invenção

Diferente da ideia de uma descoberta pontual e revolucionária, James defende que a roda não foi exatamente ‘inventada’, mas sim resultado de uma sequência contínua de aprimoramentos práticos. Assim como ocorre com espécies na natureza, o objeto teria passado por uma evolução funcional até atingir o formato mais eficiente.

A roda passou por diversas transformações até chegar ao que temos hoje em veículos (Imagem: Zhuravlev Andrey / Shutterstock.com)

Curiosamente, a roda viria a sofrer nova transformação milênios depois, com a criação dos rolamentos de esferas por um mecânico de bicicletas em Paris. Essa tecnologia — hoje comum em diversos veículos — reduz o atrito ao redor do eixo e resgata, de certa forma, o princípio original dos roletes utilizados pelos antigos mineradores.

A evolução da roda, assim como sua forma icônica, traça um caminho circular — sem começo claro, sem fim definido, com inúmeras revoluções silenciosas pelo caminho.

Kai James, professor de engenharia aeroespacial no Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA)


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