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O Canto das Gaiolas e o Silêncio das Matas

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Ainda é comum, nas cidades do interior, encontrar varandas adornadas por gaiolas, onde canários-da-terra, sabiás e cardeais tentam reproduzir, em cativeiro, o canto da liberdade. Para muitos, essa prática parece inofensiva, uma herança cultural. No entanto, manter aves silvestres em gaiolas é uma das faces mais persistentes do tráfico de animais, crime ambiental que empobrece a biodiversidade e revela o quanto ainda precisamos amadurecer em nossa relação com a natureza.

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O tráfico de fauna silvestre é um dos maiores do mundo, e as aves estão entre suas principais vítimas. Milhões são retiradas de seus habitats todos os anos, alimentando uma cadeia ilegal que começa com o caçador e termina no comprador urbano“colecionador”, muitas vezes movido por ignorância ou falso afeto. O resultado é devastador: perda de espécies, desequilíbrio ecológico e sofrimento animal (crime de maus-tratos).

A Lei de Crimes Ambientais criminaliza a captura, manutenção e comercialização de animais silvestres sem autorização, o Decreto nº 6.514/2008 prevê sanções administrativas que podem chegar a R$ 5.000,00 por exemplar, além da obrigação de reparar o dano ambiental e responder por outros crimes, como associação criminosa com aumento de pena, conforme previsão legal.

Mas o enfrentamento do tráfico não se limita à repressão. É também uma questão de consciência ética e cultural. Amar um pássaro não é privá-lo do voo; é permitir que ele viva em seu ambiente natural. O verdadeiro canto das aves não deve ser um som preso entre grades, mas um símbolo da liberdade que precisamos aprender a respeitar.

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A educação ambiental, prevista na legislação brasileira, é o caminho para romper com práticas enraizadas. Campanhas públicas, ações escolares e o fortalecimento dos Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) ajudam a ressignificar a relação entre o ser humano e a fauna, estimulando o respeito à vida e o combate à exploração.

Mais do que cumprir a lei, combater o tráfico de aves é um ato de civilidade e empatia. Que as matas voltem a ser o palco do canto livre dos pássaros e não o eco triste das gaiolas. Denuncie os maus-tratos e o tráfico de animais silvestres. A liberdade deles depende de nós.

DRª MARLENE REIS


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