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O poder  e a responsabilidade  de não divulgar mortes por suicídio

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A prática de não divulgar casos de suicídio, adotada por veículos de comunicação e órgãos oficiais em diversos países, tem gerado debates sobre liberdade de informação e responsabilidade social. Embora, para alguns, possa parecer uma tentativa de “ocultar a verdade”, especialistas alertam que a medida é fundamentada em critérios de saúde pública.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a divulgação de suicídios de forma detalhada pode provocar o chamado efeito Werther — fenômeno em que notícias sobre esse tipo de morte aumentam a probabilidade de ocorrências semelhantes, especialmente entre pessoas emocionalmente fragilizadas. Estudos internacionais indicam que a exposição a esse tipo de informação, com detalhes sobre o método, está associada a surtos localizados de novos casos.

No Brasil, órgãos como o Ministério da Saúde e o Centro de Valorização da Vida (CVV) orientam que, sempre que possível, a cobertura evite a menção explícita ao método e inclua informações sobre canais de ajuda, como o telefone 188, disponível 24 horas por dia. Muitos veículos optam por não noticiar casos individuais, exceto quando envolvem figuras públicas e houver relevância jornalística incontornável.

Além da questão da prevenção, há também o fator humano. A divulgação de um suicídio pode gerar sofrimento adicional aos familiares e amigos da vítima, expondo-os a estigmas e comentários nocivos. Por isso, protocolos policiais e laudos oficiais, em muitos casos, registram de forma genérica a causa da morte, evitando a palavra “suicídio” até que haja confirmação e consentimento da família.

A discussão permanece viva: enquanto defensores da prática ressaltam seu papel na preservação da vida, críticos afirmam que a falta de transparência pode alimentar boatos e desinformação. Entre a liberdade de informar e a responsabilidade de proteger, a imprensa e as autoridades seguem equilibrando-se sobre uma linha delicada, onde o silêncio pode ser, paradoxalmente, uma forma de cuidado.

Washington Logan


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