N/A

O show tem que continuar? Quatro meses após denúncias, Samba de São Lázaro ainda sonha com retomada do evento em Salvador

3 views

A declaração de Arlindo Cruz antes de começar a começar a cantar ‘O Show Tem Que Continuar’ no MTV Ao Vivo Vol.2 poderia ser um prenúncio da matéria. 

 

Na gravação, o sambista fala sobre a lição deixada pelo poeta Luiz Carlos da Vila com a canção: “Não importa o que aconteça, a nossa vida sempre será um grande show e todo show vocês já sabem, tem que continuar.”

 

O desejo era de continuação, mas, após quatro meses da denúncia que minou o Samba do São Lázaro, realizado em frente a Igreja de São Lázaro, na Federação, a voz sufocou o violão, os duetos não mais se encontraram e os solos perderam a razão. “Depois que teve a denúncia do vereador, o samba automaticamente impactou”, afirmou Jane Santos, uma das organizadoras do samba.

 

Em novembro de 2024, o evento, que já tinha se tornado uma tradição para quem curtia a vida noturna em Salvador, passou por uma mudança de grande impacto após denúncias de moradores devido ao barulho na região. O samba, que começava por volta das 21h e seguia madrugada adentro, teve o horário reduzido e o início antecipado para 20h com duração até as 22h.

 

De acordo com Jane, em entrevista ao Bahia Notícias, toda situação envolvendo o evento prejudicou, na época, cerca de 30 famílias que aproveitavam a realização do samba para vender comida e bebida na região. Atualmente, a organizadora indica que 45 famílias estão sendo afetadas com a não realização do evento.

 

“Prejudicou mais de 30 famílias. São cerca de 45 famílias que trabalhavam ali e ficou todo mundo parado. Se você vir sexta-feira aqui ou sábado, está tudo vazio, os bares, que já são fixos, estão fechados, o samba tirou a renda, tirou o lazer do público, tirou a renda de quem trabalhava. Prejudicou todo mundo. Muitas famílias dependem o Samba de São Lázaro, pais de família, pessoas que moram de aluguel, desestruturou tudo, porque era o local que você teria aquela renda. Era onde você sabia que podia contar com aquele recurso para você pagar o seu aluguel, você fazer suas compras. Entendeu? Isso começou no final de setembro para outubro. E aí, de lá para cá, foi ladeira abaixo.”

 

POLÊMICA COM ‘SAMBA DO SÃO LÁZARO NO PELOURINHO’
No início do ano, o Samba de São Lázaro se envolveu em uma “polêmica” que movimentou as redes sociais. Isso porque, o nome do samba foi utilizado para divulgar uma festa que aconteceu no Pelourinho com a banda que tradicionalmente se apresenta no Samba do São Lázaro, o grupo Oz Favoritos.

 

Ao site, Jane esclareceu toda situação e garantiu que a festa não teve uma edição realizada no local, apenas autorizou a banda a utilizar o nome da festa para a divulgação.

 

 

“A banda, por não ter o nome tão conhecido, pediu a permissão para mim e para Thiago, para usar o nome e teve aquela repercussão.”

 

Thiago da Silva, que organiza a festa junto com Jane, também chegou a falar sobre a situação, na época, e explicou que tinha sido procurado por empresários do Largo da Tieta, interessados em levar o Samba de São Lázaro para o local. 

 

“Ele chamou a gente para fazer um acordo. Aí, no caso, a gente ganha 15% no valor da bilheteria. Mas a entrada, a bebida, é tudo com ele. Se der gente, a gente ganha, se não dá, não ganha nada”, contou.

 

A festa, no entanto, não continuou com o mesmo nome.

 

TENTATIVA DE RETOMADA
Após diversas reuniões e acordos, com a emissão de todos os documentos necessários para a realização de um evento em um espaço público, o Samba do São Lázaro voltou a ser realizado. 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias no Ar, na Antena 1, no início de 2025, o vereador Duda Sanches, que mediou os encontros entre os órgãos da Prefeitura e os organizadores do samba, a retomada no novo formato, com horário reduzido, foi avaliada com um saldo positivo e sem prejuízo para comerciantes e moradores.

 

“As últimas edições foram muito tranquilas, não trouxeram prejuízos a ninguém e a gente está ajudando eles a se organizarem através de pessoas jurídicas, através de uma retirada de alvarás conforme a quantidade de pessoas que eles têm de fato para que a gente consiga fortalecer a festa, mas também garantir o que a legislação manda, que é o som até determinado horário e o sossego e o descanso de moradores da região.”

 

 

A retomada foi feita em um novo dia da semana, o sábado, por entender que neste dia a festa poderia começar mais cedo. No entanto, Jane garante que as tentativas de realização do Samba de São Lázaro no novo horário trouxe prejuízo para os comerciantes e esvaziamento do público na região.

 

“Foram várias tentativas de retornar, sem sucesso nenhum porque um pouco das vezes que a gente tentou persistir para fazer a edição, a Sucom vinha, a Transalvador vinha, e ficavam todos antes do período que era para acabar, na frente do largo tentando impedir. Parecia que eles estavam fazendo uma operação policial para combater algum crime e isso foi enfraquecendo muito o samba.”

 

A empreendedora afirmou que toda situação foi constrangedora para os comerciantes que acabaram ficando em débito para tentar colocar o samba para acontecer. 

 

“A gente chegou a fazer, se eu não me engano, acho que uma edição no sábado. E foi o mesmo processo, teve a fiscalização, teve aqueles protocolos todos. E aí, eu sei que a gente resolveu parar, porque a gente tinha despesa com o som, a gente tem despesa para tirar licença, a gente tem despesa com os apoios, que a gente coloca os apoios para colocar ordem, tem despesa com banda, com gelo, compra mercadoria fiado e quando terminava de trabalhar a sensação que tinha era de estar enxugando gelo, porque a gente estava devendo banda, som, sem recurso para pagar depósito. Então, foi tudo muito constrangedor.” 

 

NÃO DEIXE O SAMBA MORRER
Ao BN, Duda Sanches desconsiderou a possibilidade da festa voltar a ter o horário de antes, que entrava pela madrugada. 

 

“O que a gente está debatendo é a diminuição do volume do som. Aconteceu na última edição da gente conseguir às 22 horas fazer, desligar o som mecânico e funcionar o som acústico, que funcionou e que foi bacana para todo mundo lá. Infelizmente, a gente não consegue fazer uma festa que acontece com essa regularidade, se autorizando a passar do horário das 22 horas, todas as sextas-feiras.”

 

Mas, em outro samba, este composto por Edson Conceição e Aloísio Silva, e famoso na voz de Alcione, o pedido final é outro: “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar. O morro foi feito de samba, de samba para gente sambar”.

 

 

A esperança de Jane é de que o evento volte a ser realizado pelo bem de todos os atores envolvidos no Samba do São Lázaro.

 

“A gente tem muita esperança de voltar. São muitas famílias que dependem da gente, muitas pessoas passando dificuldade, com aluguel atrasado. E além dessa questão, o samba é um movimento cultural necessário em Salvador. Esse é o nosso samba. Samba do São Lázaro, que a gente abria as portas para os ambulantes vender, porque a partir do momento que o samba era ali no lago, beneficiava todo mundo ali fora para trabalhar, e todas as pessoas que queriam curtir. Esse é o nosso desejo.”

 

Nesta sexta-feira, o bar Recanto da Dilma, localizado em São Lázaro, abre as portas para o público e promove o samba, que antes era cobrado a entrada, de forma gratuita. No anúncio divulgado pelo perfil Te Vi No São Lázaro, é informado que a decisão foi uma forma de manter vivo o samba na região.

 

“A partir da próxima sexta-feira o Samba Criolo Show terá a entrada gratuita e é muito importante manter esse espaço vivo, com isso também é de extrema importância a participação de vocês que lutaram e continuam lutando para manter viva a essência do Samba em São Lázaro então finjam que é fofoca e compartilhem pros amigos e para os inimigos que agora o Samba no Bar Recanto da Dilma é grátis, é GRATUITO!”, indica o comunicado.

Rolar para cima