





A megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, nessa terça-feira (28/10), já é considerada a mais letal da história do estado. Com 64 mortos — incluindo quatro policiais — e 81 presos, a operação serviu de palco para disputa política e colocou a segurança pública no centro da corrida eleitoral de 2026.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), classificou a ofensiva como “a maior operação da história das polícias do Rio” e acusou o governo do presidente Lula de se omitir diante da escalada da violência. “Fomos deixados sozinhos”, disse.
O Planalto reagiu ao ataque de Castro. Como Lula estava incomunicável — no voo da Malásia para o Brasil —, os ministros Rui Costa (Casa Civil), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), além do presidente em exercício, Geraldo Alckmin, encabeçaram a resposta do Planalto.
Em coletiva de imprensa, na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Lewandowski negou que o governo do Rio de Janeiro tenha solicitado apoio. “Não recebi nenhum pedido do governador”, afirmou.
Na noite de terça-feira, Rui Costa, Gleisi e Alckmin tiveram reunião de emergência em Brasília para debater a crise de segurança no Rio. O encontro ainda contou com a presença dos ministros Jorge Messias (AGU), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Sidônio Palmeira (Comunicação Social).
Nesta quarta-feira (29), o primeiro compromisso de Lula após desembargar da viagem à Ásia será um encontro com Rui Costa para tratar da situação na capital carioca. O Planalto ainda negocia reunião presencial com Cláudio Castro, que ocorrerá em Brasília ou no Rio de Janeiro
A um ano das eleições de 2026, a megaoperação colocou os governos federal e estadual em alerta, tendo em vista a importância do tema para os eleitores. De acordo com pesquisa Genial/Quaest de outubro deste ano, a segurança pública é a principal preocupação dos brasileiros.
O levantamento aponta que 30% da população aponta a violência como a maior preocupação, superando problemas sociais (18%), economia (16%), corrupção (14%) e saúde (11%).
Contexto da operação
- A ação envolveu cerca de 2,5 mil agentes da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Ministério Público do Rio (MPRJ). O objetivo era desarticular a estrutura do Comando Vermelho (CV), principal facção do tráfico no estado.
- Durante o confronto, criminosos ergueram barricadas, lançaram explosivos por drones e abriram fogo contra as equipes policiais.
- O tiroteio se estendeu por várias áreas, deixando moradores em pânico e interrompendo o funcionamento de escolas, transportes e serviços públicos.
Politização
Em entrevista ao Metrópoles, o governador Cláudio Castro intensificou os ataques a Lula e apontou suposta fragilidade do governo federal com a pauta da segurança pública.
“É uma crítica recorrente que eu faço: entendo que esta gestão não vê segurança pública como prioridade. É uma crítica que eu faço recorrentemente e mantenho”, declarou.
Castro disse, na entrevista, que “não adianta o ministro ficar chateado porque [a segurança] não é prioridade deles, sobretudo a questão de fronteiras”. “Ano passado, o Rio apreendeu 732 fuzis – e o Rio de Janeiro não produz armas. Essas armas estão entrando pelas fronteiras federais. Não há, pelo que a gente tem visto, ações. Elogiei a PF por ter estourado fábrica de fuzis em SP. Mas, mais uma vez: esses fuzis entram pelas estradas federais”, declarou.
Mais cedo, em coletiva de imprensa, Castro também atacou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635 — a chamada ADPF das Favelas — que limita operações em áreas densamente povoadas. “São os filhotes dessa ADPF maldita. Essa operação é de defesa, não é segurança urbana comum”, afirmou.
No pronunciamento, Castro pontuou que não chegou a solicitar auxílio do governo federal para a operação desta terça-feira, uma vez que, anteriormente, pedidos para o uso de blindados teriam sido negados. “Tivemos pedidos negados três vezes. Para emprestar o blindado, tinha que ter GLO [Garantia da Lei e da Ordem], e o presidente é contra a GLO. Cada dia é uma razão para não colaborar”, afirmou.
Reação do governo Lula
O Planalto reagiu às declarações do governador. O Ministério da Justiça informou que a Força Nacional permanece em operação no Rio de Janeiro desde outubro de 2023, com autorização válida até dezembro de 2025.
O ministro Lewandowski ainda negou que o governo do RJ tenha feito pedido formal de GLO e destacou a seriedade da medida.
“O procedimento (de GLO) é complexo e previsto na Constituição de 1988. Um dos requisitos é o governador admitir a incapacidade dos órgãos de segurança e transferir as operações para o governo federal, mais especificamente para as Forças Armadas”, disse o ministro em coletiva de imprensa.
Já a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que a tragédia reforça a urgência da PEC da Segurança Pública, proposta que busca integrar as ações entre União, estados e municípios.
“Ficou mais uma vez evidente a necessidade de articulação entre forças de segurança no combate ao crime organizado. E o fortalecimento da Polícia Federal e outras forças federais no planejamento e na execução das ações conjuntas, não apenas fornecendo armas, equipamentos e tropas para operações decididas isoladamente por governos locais”, declarou.
A PEC é a principal aposta do governo federal na área da segurança pública, mas enfrenta rejeição de governadores de oposição, como Cláudio Castro. A principal crítica é que a aprovação da proposta pode esvaziar competências estaduais sobre o tema.
Entenda a PEC da Segurança Pública
- A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, enviada pelo governo federal ao Congresso, busca integrar de forma mais eficiente a atuação entre União, estados e municípios no combate ao crime organizado.
- O texto dá status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (Susp), criado em 2018, e prevê maior articulação entre forças policiais, criação de fundos nacionais para financiar ações de segurança e sistema penitenciário, além de incluir as guardas municipais no rol de órgãos de segurança.
- A proposta também institui corregedorias e ouvidorias autônomas e transforma a Polícia Rodoviária Federal em Polícia Viária Federal, ampliando sua atuação para ferrovias e hidrovias.
Embate eleitoral
Parlamentares da oposição aproveitaram o episódio para criticar o Planalto e reforçar o discurso de endurecimento policial. “Policiais militares e civis lutam nas ruas contra o crime organizado, enquanto de Brasília o presidente Lula diz que ‘traficante também é vítima’. O povo do Rio sabe quem é vítima de verdade”, afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), alfinetando o petista.
Líderes petistas, por outro lado, acusaram Castro de politizar a tragédia. “O governador tem uma postura vergonhosa e tem que vir a público explicar por que se posiciona contra a PEC da Segurança. Essa operação deveria ter sido planejada junto ao Ministério da Justiça”, rebateu o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias.
Avanço das facções
O confronto no Rio reforça a percepção de que o crime organizado no Brasil opera de forma cada vez mais integrada, com ramificações em diversos estados e influência sobre as dinâmicas locais de segurança.
Em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) mantém rede de atuação que ultrapassa fronteiras estaduais e internacionais, baseada em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Nos últimos meses, o PCC esteve no centro de investigações por planejar atentados contra promotores e autoridades.
O Ministério Público de São Paulo e a Polícia Civil frustraram planos de assassinato contra o promotor Lincoln Gakiya, o coordenador de presídios Roberto Medina e o promotor Amauri Silveira Filho, todos alvos de ameaças diretas da facção.
Em setembro, o ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes foi morto a tiros em Praia Grande, no litoral paulista
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