Alterações em ecossistemas, extinção de lagoas e morte de espécies são algumas das consequências identificadas.

Os parques eólicos, pilares da transição energética brasileira, têm gerado preocupações crescentes devido aos impactos ambientais observados, especialmente no Nordeste. A região, que concentra a maior parte da produção eólica do país, está sofrendo com mudanças significativas em seus ecossistemas, alertam pesquisadores.

Alterações no meio ambiente

No litoral do Ceará, estudos apontam que as torres eólicas, estrategicamente posicionadas em dunas e áreas litorâneas, interferem na dinâmica natural dos sedimentos, prejudicando a vegetação e alterando o fluxo dos lençóis freáticos. Essa situação já levou à extinção de lagoas que antes eram fundamentais para as comunidades locais.

Adryane Gorayeb, geógrafa da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que a instalação de parques eólicos cria barreiras artificiais que modificam as dunas, afetando diretamente as populações que dependem dessas áreas para agricultura e pesca.

Impactos na fauna

A fauna aérea também tem sofrido. Segundo o professor Enrico Bernard, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), espécies de aves e morcegos são frequentemente vítimas de colisões com as turbinas. Um único parque eólico pode causar milhares de mortes de animais por ano, agravando o risco de extinção de algumas espécies.

Além disso, o estresse causado pelo ruído constante das turbinas e as sombras geradas pelas hélices interferem no comportamento animal, afetando a reprodução e a comunicação de diversas espécies.

Sustentabilidade em debate

Embora a energia eólica seja considerada limpa e renovável, os impactos locais levantam um debate importante sobre planejamento e sustentabilidade. Especialistas defendem a adoção de políticas mais rigorosas, incluindo estudos de impacto ambiental detalhados e maior participação das comunidades afetadas.

“A transição energética precisa ser feita, mas sem ignorar as consequências ambientais e sociais,” ressalta Gorayeb.

Caminhos para o futuro

Para que a expansão da energia eólica ocorra de forma responsável, é crucial equilibrar a geração de energia com a preservação ambiental. Soluções como a relocação de parques para áreas menos sensíveis e o monitoramento contínuo da fauna são caminhos possíveis.

A discussão se intensifica à medida que o Brasil busca consolidar sua liderança em energia renovável, mas enfrenta o desafio de garantir que essa liderança não custe caro ao meio ambiente e às comunidades tradicionais.

DA REDAÇÃO DO EUCLIDES DIÁRIO