Pesquisadores da UFBA implementam 2° Observatório do Calor na América Latina em Salvador

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Pesquisadores da UFBA implementam 2° Observatório do Calor na América Latina em Salvador

Salvador será a segunda cidade da América Latina a receber um Observatório do Calor, mecanismo conhecido como Heat Watch. A informação foi divulgada, na última quarta-feira (22), pela Defesa Civil de Salvador (Codesal), que coopera com o projeto realizado pela Universidade Federal da Bahia em parceria com organizações climáticas norte-americanas. O Bahia Notícias conversou com o co-coordenador do projeto, o geógrafo e pesquisador Paulo Cesar Zangalli Junior, sobre o andamento das pequisas. 

 

Docente do Departamento de Geografia da UFBA, Zangalli é geógrafo, formado pela Universidade de São Paulo (USP), e atua na observação de fenômenos climáticos e seus impactos sociais. “Aqui na Universidade Federal da Bahia (UFBA), a minha temática é clima e política pública, ou alterações climáticas e política pública, e o que eu busco entender mesmo é como o impacto do tempo e do clima afeta a vida cotidiana das pessoas. Então, esse projeto que a gente está tocando, o Heat Watch ou o Observatório do Calor, ele é um projeto que tem esse mesmo princípio”, define o pesquisador. 

 

Segundo o geógrafo, por meio do Observatório, é possível mapear as influências no calor em locais, bairros e ruas específicos na capital baiana. Ele afirma ainda que no caso de Salvador, esse modelo de estudo climático deve expor questões sociais latentes como a desigualdade social e até mesmo o racismo. 

 

“Salvador é uma cidade muito complexa, ela é muito desigual e com certeza isso vai reverberar também na desigualdade da distribuição do calor. E é exatamente essa desigualdade que torna ela tão difícil da gente poder pesquisar”, delimita. “Numa cidade tão desigual como Salvador, o calor vai ser o mesmo para quem mora em Cajazeiras, no subúrbio ou na Ola Atlântica? Vai ser o mesmo para quem mora na Graça, na Vitória? É evidente que não”, conclui.

 

Além de Paulo, a professora Grace Alves, também vinculada ao departamento de Geociências da Universidade, é responsável pela dimensão técnico-científica. Ao Bahia Notícias, o cientista detalha que a pesquisa nasce a partir de uma parceria com NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), agência americana de monitoramento da atmosfera e oceano, e a CAPA Strategies (Accelerating Community Adaptation to Climate Change), entidade de promove ações de planejamento e prevenção a mudanças climáticas junto ao grupo de pesquisa Colapso, o qual ambos fazem parte. 

 

A primeira cidade a promover um projeto deste tipo na América Latina foi o Rio de Janeiro, em 2023. No entanto, os pesquisadores da universidade baiana prometem que Salvador inova na aplicação deste tipo de pesquisa. 

 

“Rio de Janeiro é uma cidade muito parecida com Salvador, muito contraditória, com muitas favelas, uma diferença entre área rica e área pobre muito marcada, com limites muito bem definidos. E o que Salvador inova, que o Rio de Janeiro não fez, é que a gente vai projetar esse clima futuro. Então, a gente vai conseguir dizer até 2030, até 2050, até 2100, como é que os diferentes lugares, os diferentes bairros de Salvador vão sentir os efeitos das mudanças climáticas. Aí, nesse sentido, Salvador é pioneiro”, defende Paulo Zangalli. 

 

Foto: Jefferson Peixoto / PMS

 

Para a realização na capital baiana, o grupo ainda buscou o suporte da Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis) e a própria Codesal. O suporte dos órgãos públicos se dá especialmente no momento da coleta e depois da disponibilização dos dados. Ele detalha de que forma ocorre a coleta de dados, iniciada a partir do mapeamento de rotas pré-definidas no município. 

 

“Esse projeto começou já tem um tempo, com a seleção das rotas, então a gente selecionou pontos de interesses que geralmente eram pontos de ônibus, lugares de grande circulação de pessoas, metrô, escolas, hospitais e a partir disso, a gente definiu as rotas, a rota não passa necessariamente por todos os bairros, mas passa por muitos. O importante para gente é cobrir a maior quantidade de área possível de Salvador. E com as 16 rotas que a gente estabeleceu, a gente conseguiu cobrir praticamente todo o continente e Ilha de Maré, como aquela ilha representativa das ilhas de Salvador, colocando também nesse mapa de calor que a gente vai produzir”, define.

 

“São mais de 60 mil dados que depois, por meio de uma modelagem, vão se tornar ainda mais dados. A gente vai pesquisar, vai coletar, já está coletando. Então, a robustez do dado dá para a gente entender, no nível micro, como é a temperatura desses lugares e como a estrutura da cidade ela interfere ou ela produz essa temperatura”, completa. 

 

Com relação ao diálogo com Prefeitura de Salvador, para a criação de políticas públicas a partira das informações produzidas, Paulo conta que “a estratégia foi buscar o apoio institucional para que nessa cidade tão difícil, tão contraditória como é Salvador, a gente tivesse a possibilidade logística de mapear toda a área”. Assim, junto aos 20 voluntários que atuam em campo durante o mapeamento, os agentes da Prefeitura utilizam carros oficiais para fazer os percursos com maior segurança. 

 

“Sóstenes [Macedo, superintendente da Codesal] prontamente abraçou a campanha e viabilizou todos os carros da Codesal, identificados com seus motoristas, que estão contribuindo muito, inclusive, com essa campanha, com seu conhecimento de área, um conhecimento de campo imprescindível. E é isso que está fazendo com que a campanha até aqui seja um sucesso”, completa. 

 

Com relação à importância do material produzido, “esses dados que a gente está gerando são dados de plataforma pública de acesso aberto para todo mundo poder botar a mão e fazer junto”. “Então a importância para a cidade é nesse sentido, da gente hoje oferecer uma quantidade cada vez mais precisa de dados, que vai inclusive dar para gente a possibilidade de direcionar ações e políticas cada vez mais no nível do detalhe”, conclui Zangalli. Segundo informações do grupo de pesquisa, ainda não há uma previsão exata para a conclusão da implementação do Observatório. 


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