Ferramentas cada vez mais comuns no dia a dia dos pacientes, os chamados “Wearables” – dispositivos como relógios inteligentes, óculos de realidade virtual e até anéis capazes de compilar informações das pessoas – se tornaram um possível aliado dos profissionais de saúde na obtenção de dados. Porém, é importante saber reconhecer quando essas informações são minimamente confiáveis. E isso traz um novo desafio para os médicos que recebem esses dados e as dúvidas de quem chega ao consultório.
Em entrevista ao Bahia Notícias, o cardiologista e professor Eduardo Lapa avaliou que mesmo aqueles médicos não tão afeitos à tecnologia precisam estar preparados para avaliar esse tipo de conteúdo. “É interessante que ele saiba o quão confiável é cada instrumento. ‘Ah, eu vou saber todos os relógios do mundo?’. É inviável. Mas pelo menos as principais marcas têm trabalhos publicados. Exemplo: é muito confiável esse relógio pra medir a frequência cardíaca, mas não é confiável pra ver sono”, apontou.
SEPARANDO O JOIO DO TRIGO
Criador e editor-chefe do site Afya CardioPapers, uma das principais referências em Cardiologia no Brasil, Lapa se aprofundou no debate sobre a inclusão de IA no mundo da Medicina. Durante o evento Afya Summit, realizado no final de agosto em São Paulo, ele apresentou a palestra “IA na Medicina: Ficção Científica ou Realidade”, em que trouxe exemplos de filmes sobre inteligência artificial para provar que muito do que se imaginava que haveria “no futuro” já é presente quando se fala do cuidado médico. Entre os exemplos, estavam equipamentos de inteligência artificial que são criados em filmes como “Homem de Ferro” e “Avatar”. Para cada filme, uma tradução prática dessas experiências que já estão nos consultórios.
Em sua visão, todo médico tem que ter uma formação sólida em Medicina baseada em evidências. “Ou seja: ele tem que saber interpretar artigos científicos. Não quer dizer que ele vai virar um pesquisador, ele pode só clinicar, mas precisa separar o joio do trigo”, frisou.
O especialista alertou que estudos experimentais tomam a internet, mas que para serem considerados cientificamente comprovados são necessários vários anos e um aprofundamento das pesquisas: “A ciência não dá saltos, ela tem que seguir toda uma tramitação para você ver se aquilo é eficaz e seguro”.
Foto: Fábio Mendes / Divulgação / Afya
O professor crê que o ponto-chave da Inteligência Artificial é o banco de informações que a alimenta. Por isso, como plataformas como ChatGPT se alimentam de todo o banco da internet – inclusive fontes não confiáveis -, é preciso acender o sinal de alerta, já que, na Medicina, um erro pode custar caro.
“A gente lançou a IA que é alimentada só pelo conteúdo da Afya, que é curada por mais de 200 médicos especialistas. Então tende a ser muito mais confiável, porque tem toda uma equipe de humanos que já criou”, sugeriu. Por isso, Lapa sugere que, no cenário ideal, sejam consideradas apenas ferramentas “treinadas” especificamente com conteúdos médicos.
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