O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), relator da MP que aumenta impostos 08 de outubro de 2025 | 13:30
Relator diz que governo pode adotar medidas unilaterais contra setores se MP dos impostos for derrubada
O relator da MP (medida provisória) de aumento de impostos, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), afirmou que há risco de que a proposta que garante arrecadação para o governo Lula (PT) caia e, se isso acontecer, o Ministério da Fazenda poderia editar decretos para elevar a tributação de forma a manter a previsão de receitas.
Segundo Zarattini, a MP pode perder a validade por causa de uma disputa eleitoral antecipada capitaneada por partidos do centrão e pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é tido como o nome favorito da oposição para enfrentar Lula na corrida presidencial. Tarcísio nega qualquer atuação contra a MP.
“Tem várias coisas que podem ser feitas por decreto, há definições de alíquotas de imposto que não precisam de lei, como IPI, IOF e outros. Tem portarias, tem uma série de coisas que podem ser adotadas. […] O Supremo reconheceu que o governo tem autonomia para aumentar ou diminuir a alíquota [do IOF] e não tem que consultar o Congresso”, afirmou à imprensa.
Logo antes, em entrevista ao PT, Zarattini afirmou que a MP é fruto de um grande acordo e que a alternativa seria “uma posição unilateral do Ministério da Fazenda”.
A MP precisa passar nesta quarta-feira (8) pelo plenário da Câmara dos Deputados e do Senado ou perderá a validade —até o momento, líderes governistas reconhecem que faltam votos para a aprovação.
A medida foi publicada pelo governo em junho para compensar a perda de arrecadação com a derrubada parcial do decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) —o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou inconstitucional o trecho que tributava o risco sacado (operação financeira onde um banco ou instituição antecipa pagamentos a fornecedores).
O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), adotou a mesma linha, afirmando que setores afetados pelo aumento da tributação tiveram oportunidade de negociar o texto da MP, mas, caso votem contra a proposta, poderiam ser alvos de medidas ainda mais duras.
“O governo tem instrumentos. Se essa turma desses lobbies estão achando que vão conseguir se safar, pelo contrário, eu acho que a situação para eles pode ficar pior. Essa turma do agro, essa turma que acha que está se livrando, em vez de um bom acordo, pode estar cavando uma medida unilateral do governo que pode prejudicá-los muito mais”, afirmou a jornalistas.
Nesta terça-feira (7), a MP foi aprovada na comissão mista por um voto de diferença. O placar de 13 a 12, segundo Zarattini, mostrou que partidos do centrão, além da frente agropecuária, não cumpriram o acordo de votar a favor mesmo após o relator ter feito concessões no texto para contemplá-los. A principal foi manter isenta a tributação das LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio).
Na terça pela manhã, Zarattini já havia apresentado uma nova versão de seu relatório com concessões que diminuíram a previsão de arrecadação para o ano que vem, dos R$ 20,9 bilhões iniciais para cerca de R$ 17 bilhões, segundo cálculos do relator. Se a MP perder validade, o governo fica sem uma medida importante para sustentar o Orçamento em 2026, ano eleitoral. Na proposta original, a previsão de receitas era de R$ 35 bilhões até 2027.
Zarattini cobrou partidos que integram o governo federal, como PP, Republicanos, União Brasil e PSD, a cumprirem um acordo para aprovação do texto. “Claro que tem receio de não ser aprovada. Estamos vivendo um momento hoje de disputa. Pode ser que esses partidos se posicionem contra. Aí caiu a medida provisória”, disse.
“Nós entramos no modo disputa eleitoral. O Tarcísio, em vez de governar São Paulo, fica telefonando para deputado para pressionar, para não aprovar. É evidente que tem uma campanha eleitoral em andamento e o objetivo é prejudicar o governo. Dane-se o país”, completou o relator. À coluna Mônica Bergamo Tarcísio negou que esteja ligando para deputados ou atuando nessa votação.
Para Lindbergh, Tarcísio está “se movimentando claramente contra o Brasil”.
“Infelizmente, falta palavra. E quando falta palavra aqui no parlamento é grave”, disse Zarattini. “O senador Ciro Nogueira [presidente do PP] está impondo, pelo que a gente apurou, essa situação de levar o PP para a oposição. É muito ruim isso, porque o PP é um partido que participa do governo.”
O relator cobrou especificamente o PSD, cujo líder, Antonio Brito (BA), foi relator de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) aprovada na Câmara que dá aposentadoria especial a agentes de saúde —uma pauta-bomba para a União.
“O Antonio Brito não pode aumentar gasto e, do outro lado, não permitir que tenha aumento de receita. Tem que aumentar a receita também para cobrir o gasto, se não é uma loucura.”
Lindbergh minimizou a contagem da oposição, de que parte do MDB e do PSD votariam contra a medida. Segundo o líder do PT, os líderes desses dois partidos são favoráveis.
O petista disse que é preciso fazer “um alerta político” de que, ao derrubar a MP, o Congresso está abraçando uma nova pauta-bomba e seguindo “o velho método de Eduardo Cunha”. “Eu chamo isso de movimento de sabotagem contra o Brasil. Se a Câmara embarcar nessa, vai estar dando outro tiro no pé”, completou.
Segundo Zarattini e Lindbergh, as conversas e negociações continuam ao longo da tarde na tentativa de angariar votos até a sessão plenária. O relator afirmou, porém, que, por enquanto, não há previsão de novas mudanças no texto, que teriam que ser feitas via destaques no plenário.
“Pode ter algum destaque combinado, mas ninguém falou nisso até agora. O combinado ontem, antes da votação, era que não seria aceito nenhum destaque”, disse Zarattini.
A aprovação na comissão envolveu uma série de conversas entre líderes da Câmara e do Senado, além do presidentes Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), com a participação inclusive do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que esteve no Congresso nesta terça.
Com ampla resistência entre parlamentares, a votação da proposta na comissão foi adiada quatro vezes desde que o relator apresentou seu parecer no último dia 24.
Entre as principais alterações no texto original, Zarattini poupou as bets (casas de apostas) da alta na tributação, manteve a isenção sobre rendimentos de títulos imobiliários e do agronegócio, e unificou a alíquota do Imposto de Renda sobre aplicações financeiras e investimentos (exceto os isentos) para 18%, contemplando inclusive a JCP (Juros sobre Capital Próprio).
Carolina Linhares, Folhapress
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