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Sabino entrega carta de demissão a Lula após ultimato do União Brasil, mas ainda tenta ficar

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Sabino entrega carta de demissão a Lula após ultimato do União Brasil, mas ainda tenta ficar

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/Arquivo
O ministro do Turismo, Celso Sabino, em seu gabinete 26 de setembro de 2025 | 14:51
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Sabino entrega carta de demissão a Lula após ultimato do União Brasil, mas ainda tenta ficar

O ministro do Turismo, Celso Sabino, anunciou nesta sexta-feira (26) que pediu demissão ao governo Lula (PT) após ultimato dado pela cúpula do seu partido, o União Brasil. No entanto, ele diz que vai seguir dialogando com a cúpula da legenda para tentar ficar no cargo.

A decisão ocorreu após Sabino não conseguir convencer os dirigentes partidários e, sobretudo, o presidente da sigla, Antonio Rueda, a ficar no cargo ao menos até o final do ano —ele é deputado federal licenciado. Ele esteve com Lula no início da tarde e entregou sua carta de demissão.

“Tive uma conversa hoje com o presidente da República, em virtude da decisão do partido ao qual eu sou filiado tomou, de deixar o governo. E vim hoje aqui cumprir o meu papel, entreguei ao presidente a minha carta e o meu pedido de saída do Ministério do Turismo, cumprindo a decisão do meu partido”, disse Sabino em entrevista coletiva após encontro com Lula.

“Vou seguir conversando com lideranças do meu partido (…) Acredito no diálogo e que os homens públicos que têm compromisso com a nação vão trabalhar juntos pelo bem do país”, acrescentou.

Sabino afirmou que Lula pediu que ele seguisse no cargo na próxima semana, quando o petista irá ao estado do Pará para inaugurar obras relacionadas à estrutura para receber a COP-30, a conferência do clima das Nações Unidas, que será realizada em novembro. “Está a cargo do presidente Lula [aceitar ou não a carta]”, afirmou Sabino.

“Na próxima semana, na quinta-feira, o presidente irá ao estado do Pará para inaugurar boa parte dessas obras. O presidente pediu que eu o acompanhasse nessa missão na cidade de Belém na quinta-feira. Vou como ministro [a Belém]”, disse Sabino, que é deputado federal licenciado pelo Pará.

O ministro pretende usar esse período em que continuará no cargo para dialogar com a cúpula do partido a fim de tentar permanecer na função.

O ministro se encontrou com Lula nesta tarde no Palácio do Planalto. Ele vinha defendendo à cúpula do União Brasil que pudesse se licenciar da legenda para poder seguir à frente da pasta até o fim da COP30, a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, que ocorre em novembro, em Belém.

Com domicílio eleitoral no estado, Sabino é uma das autoridades do governo petista mais atuantes na realização do megaevento e avalia que isso poderá ajudar a consolidar sua candidatura ao Senado, em 2026.

Integrantes do partido diziam que Sabino tinha até esta sexta para deixar o cargo. O próprio ministro já tinha sinalizado a interlocutores que isso ocorreria, já que ele não sairia do partido —ele preside o diretório nacional da sigla. Ele tenta emplacar a secretária-executiva da pasta, Ana Clara Machado Lopes, para o seu lugar, caso a demissão se concretize.

No último dia 19, o ministro se reuniu com Lula e avisou que pediria demissão do cargo nesta semana, após a executiva nacional do seu partido aprovar por unanimidade a exigência de que seus filiados antecipassem a saída da gestão federal, que originalmente estava prevista para o próximo dia 30.

A orientação do União foi dada após reportagem publicada pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta) e pelo UOL revelarem acusações feitas por um piloto de que o presidente do partido, Antonio Rueda, é dono de aviões operados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Rueda nega a acusação.

A relação de Rueda com o governo federal já estava estremecida. O dirigente partidário reclamava a aliados pelo fato de nunca ter sido recebido pelo petista. A primeira reunião ocorreu em julho, um dia após o Congresso derrubar um decreto do governo com mudanças no IOF (Imposto sobre Circulação), e foi descrita por integrantes do União Brasil como “péssima”.

De lá para cá, o presidente da República se queixou de declarações públicas do dirigente partidário com críticas ao governo federal. Rueda é presidente da federação com o PP e tem se posicionado na oposição à gestão petista e em apoio a uma candidatura da centro-direita em 2026. Em agosto, em reunião ministerial, o presidente cobrou fidelidade dos ministros do centrão e citou nominalmente Rueda, afirmando que não gostava dele e sabia que a recíproca era verdadeira.

Após o ultimato do União Brasil, políticos procuraram tanto Rueda quanto integrantes do Planalto numa tentativa de distensionar o clima. Entre eles estaria o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o presidente do PT, Edinho Silva. Não está descartada a possibilidade de uma reunião entre os dois nos próximos dias —apesar de ainda não ter data marcada.

Um integrante da cúpula do partido diz que há uma disposição dos dois lados para baixar o tensionamento. Ele reconhece que uma ruptura total da sigla com o governo não é vantajosa para nenhum lado. Além disso, integrantes da sigla têm indicações em cargos federais e não estariam dispostos a abrir mão desses postos neste momento.

Apesar disso, diz que esse movimento não estava atrelado à permanência ou não de Sabino no ministério. Isso porque a decisão de desembarque foi da executiva nacional da sigla e não caberia rever esse posicionamento de forma monocrática.

Sabino é o único nome indicado pelo partido para integrar a Esplanada petista. Mesmo de saída do governo, ele recebeu sinalização do próprio Lula de que terá o apoio dele na disputa eleitoral.

Os ministros Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) são da cota de Alcolumbre e não deverão deixar os cargos. Integrantes do primeiro escalão do Planalto avaliam que a aliança da gestão com o União Brasil se sustenta, há algum tempo, numa relação com o presidente do Senado, e não com a direção da sigla.

Além de Sabino, a federação entre União Brasil e PP tem outro indicado, ministro André Fufuca (Esportes). Para evitar deixar o comando da pasta na próxima terça (30), Fufuca, que é deputado federal licenciado, tenta costurar um acordo com a cúpula do PP para que possa permanecer no posto até o fim do ano. A ideia seria que ele se licenciasse da sigla neste período.

De acordo com políticos do PP, o presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), não se opõe à ideia. Há uma avaliação, no entanto, que com a saída de Sabino a pressão aumente para que Fufuca também deixe a Esplanada.

Diante desse cenário, aliados do presidente apostam na tentativa de reacomodar os partidos da própria base aliada, inclusive do centrão, nesses espaços. Entre as legendas que podem ser contempladas estão PSD, PDT, PSB e até Republicanos.

Auxiliares do presidente afirmam que, diferentemente do momento de montagem do governo, ainda na transição, quando a prioridade era garantir governabilidade, agora pesa também a construção de alianças regionais para 2026, buscando apoio à reeleição do petista.

José Matheus Santos e Victoria Azevedo, Folhapress



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