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Samba da contradição: Tema do Carnaval em 2026 já teve evento gratuito impedido de acontecer em Salvador por questão de horário

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O samba será tema do Carnaval de Salvador em 2026. Na teoria, tudo é lindo, mas e na prática? Antes do gênero ganhar a avenida como um todo na folia do ano que vem, a quantas andam a salvaguarda do samba na capital baiana para que o marco “110 Anos de Samba” seja celebrado?

 

Um dos principais eventos voltados para o gênero na capital baiana passou por uma espécie de censura ao ter a sua realização proibida no bairro da Federação, mais especificamente em frente a Igreja de São Lázaro.

 

Point dos jovens na vida noturna da 1ª capital do Brasil, o Samba do São Lázaro, que foi a febre do verão e das noites de sexta em Salvador durante os anos de 2023 e 2024, chegou ao fim bruscamente após denúncias e a movimentação de vereadores para impedir a realização da festa após as 22h.

 

 

Ao Bahia Notícias, um dos idealizadores do evento, Thiago da Silva, falou sobre a lacuna deixada pelo evento que não acontece desde o início do ano devido ao empecilho do horário. “Infelizmente, sem o samba tá difícil para todos. Eu e Jane estamos correndo atrás para o samba voltar. Muita gente está cobrando. No nosso Instagram do samba, que tem 16 mil pessoas, todos estão cobrando o samba de volta. Fico triste, o projeto lindo, nunca teve uma briga, uma confusão. Várias pessoas estão paradas até hoje, sem movimento nenhum”, contou.

 

Na época em que todo processo iniciou, o site teve acesso aos documentos do Samba de São Lázaro, que garantiam a autorização de órgãos da Prefeitura de Salvador para a realização da festa, entre eles da Semop para o uso do solo, da Secis, da Limpurb e da Sedur. Quanto à Transalvador e a Semob, o evento teve dispensa de aprovação. 

 

Até mesmo a “benção” do padre, já que o samba acontece em frente a igreja de São Lázaro, o grupo tinha. No entanto, o vereador Duda Sanches, que mediou encontros entre os organizadores do samba e síndicos de prédios da região, afirmou que a principal queixa era o barulho após às 22h, o que só poderia ser resolvido se o evento terminasse antes.

 

 

O Samba do São Lázaro chegou a ser defendido pelo cantor Márcio Victor, do Psirico, um dos únicos artistas a se pronunciar de forma pública sobre o evento. Nas redes sociais, o público cobrava um posicionamento dos órgãos municipais e estaduais, além do apoio de personalidades da mídia, mas nada mostrou resultado para impedir a realização do evento.

 

Em março deste ano, o Bahia Notícias chegou a conversar com Jane Santos, uma das organizadoras do samba, que explicitou que as tentativas de realização do Samba de São Lázaro em um novo horário trouxe prejuízo para os comerciantes e esvaziamento do público na região. Atualmente, a organizadora indica que 45 famílias estão sendo afetadas com a não realização do evento.

 

“A gente resolveu parar, porque a gente tinha despesa com o som, a gente tem despesa para tirar licença, a gente tem despesa com os apoios, que a gente coloca os apoios para colocar ordem, tem despesa com banda, com gelo, compra mercadoria fiado e quando terminava de trabalhar a sensação que tinha era de estar enxugando gelo, porque a gente estava devendo banda, som, sem recurso para pagar depósito. Então, foi tudo muito constrangedor.”

 

Foto: Instagram

 

Outra queixa dos comerciantes era a atuação dos órgãos municipais e estaduais, que estavam sendo feita de forma grosseira. “Eles colocaram agentes da Guarda Municipal na frente do palco, fica cheio de polícia ao redor, mas o mesmo clima de insegurança. Eles quiseram fazer o teste do bafômetro com o cara do som que nem estava dentro do carro. Estão constrangendo a gente”, contou Thiago na época.

 

Com todo esse cenário, o evento gratuito deixou de acontecer e a alternativa do público foi recorrer aos eventos pagos da cidade para curtir o bom e velho samba, que segue crescendo no gosto popular, mesmo com tentativas de “minar” o fenômeno.

 

BOM MOMENTO DO SAMBA
A homenagem feita pela Prefeitura de Salvador ao samba tem como marco a primeira gravação de um samba, a música ‘Pelo Telefone’, de Donga e Mauro de Almeida, que aconteceu em 1916.

 

“Ai, ai, ai… É deixar mágoas pra trás, ó rapaz, ai, ai, ai… Fica triste se és capaz e verás…”

 

A letra divertida de Donga e Mauro, já dava uma prévia do que poderia vir por aí desse ritmo, nascido na Bahia e exportado para o Brasil. Uma diversidade musical não só em letra, com a possibilidade de tanto fazer rir, como fazer chorar, quanto também, uma diversidade de estilos dentro do gênero.

 

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Reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 2007, o samba passou por diversas transformações ao longo dos anos, com a criação de novas vertentes.

 

Atualmente, uma delas é a mais ouvida das plataformas digitais no primeiro semestre de 2025, o pagode. De acordo com o levantamento feito pela Pro-Música, o ritmo disputava espaço com o sertanejo, responsável por dominar as paradas nos últimos sete anos.

 

Em Salvador, é notório como o samba e seus derivados tem ganhado espaço com o público pagante. São diversas as ofertas de festas voltadas para o estilo, a exemplo do Samba de Quinta, Fragmentos do Samba, Suco de Bahia, Banjo Novo, Samba do Quiabo, Samba de Terreiro, Síbí Dúdú e tantas outras.

 

Foto: Divulgação

 

Ao Bahia Notícias em 2024, o publicitário Samora Lopes, idealizador do Banjo Novo, celebrou o bom momento que o estilo vive.

 

“A gente também está vivendo um bom momento do samba nos streams. O samba, acho que na última semana, bateu o top 1 nos streams, coisa que não tinha acontecido com a música pelo domínio de outros ritmos. Mas ele sempre esteve perene, na sociedade soteropolitana. Eu percebo também que os artistas que não faziam parte do movimento do samba, agora estão apostando no ritmo.”

 

A prova de que o gênero musical tem atraído até mesmo quem é de fora, são os eventos que surgiram de 2015 para cá, de artistas que não originalmente cantavam samba, mas decidiram investir na área.

 

Atualmente, entre os grandes nomes com labels dedicadas ao samba estão Ludmilla com o ‘Numanice’; Gloria Groove com ‘Serenata da GG’; e Léo Santana com o ‘Paggodin’.

 

Foto: Divulgação

 

Uma das últimas estrelas da música a apostar no samba foi a cantora Ivete Sangalo, uma estrela do axé, que anunciou o show ‘Ivete Clareou’.

 

“Samba é uma coisa que faz parte da minha vida desde pequena. Eu não sou uma pessoa de me deixar não fazer as coisas, especialmente as que me dão prazer. E justamente por conta dessa tranquilidade que eu tenho, que consigo colocar em prática alguns sonhos, como uma memória afetiva”, contou durante o lançamento do evento.

 

A situação com São Lázaro é apenas um dos eventos da capital baiana que pede por apoio e auxílio dos órgãos públicos. A promessa feita pela Prefeitura de Salvador é de lançar nos próximos meses a campanha oficial com intervenções urbanas, conteúdos digitais e promoções colaborativas com artistas, blocos afros, comunidades e escolas de samba.

 

Foto: Igor Santos/ Secom PMS

 

Fora do período carnavalesco, o samba é lembrado pelos órgãos públicos em dezembro, quando é comemorado o Dia Nacional do Samba. No período, a capital recebe celebrações como a Caminhada do Samba, com trios elétricos percorrendo do Campo Grande à Praça Castro Alves, e no dia 3 de dezembro, o Samba Pelô vai animar os largos e ruas do Pelourinho, no Centro Histórico. 

 

Em 2026, o gênero será protagonista do Carnaval de Salvador para além da Quinta do Samba, tradição na folia baiana no Circuito Osmar com o desfile dos blocos Alerta Geral, Pagode Total, Amor e Paixão e mais, que, vale lembrar, são de iniciativas privadas. Mas fora os seis dias de festa na avenida, será que o gênero terá apoio público para sobreviver fora do Carnaval?


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