N/A

Técnicos da Anvisa dizem que acelerar rivais do Ozempic pode travar remédios prioritários

27 views
Técnicos da Anvisa dizem que acelerar rivais do Ozempic pode travar remédios prioritários

Anvisa alerta que aceleração de análise de canetas emagrecedoras pode atrasar tratamentos para doenças graves
Técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiram um alerta sobre o plano de acelerar a análise de canetas emagrecedoras, afirmando que isso pode atrasar o lançamento de tratamentos para doenças graves, como câncer, epilepsia, Parkinson avançado e AME (Atrofia Muscular Espinhal). O alerta foi registrado em duas notas técnicas elaboradas no início de agosto, antes da publicação de um edital que permite a análise prioritária de produtos com liraglutida ou semaglutida, ativos de medicamentos como Saxenda e Ozempic.

Em resposta às preocupações levantadas pelos técnicos, a Anvisa declarou que os documentos tinham como objetivo avaliar “todos os aspectos de uma intervenção regulatória”. A agência garantiu que os riscos foram considerados e que um limite foi estabelecido para os processos priorizados, visando não prejudicar outras terapias. Segundo a Anvisa, existem regras que asseguram a priorização de análises de produtos voltados para condições graves, doenças raras e emergências em saúde pública. A agência também destacou que a capacidade operacional tem sido um desafio, sendo enfrentado com medidas como reorganização de processos, investimentos em novas tecnologias e reestruturação do quadro de técnicos.

Publicidade

A Anvisa priorizou 20 canetas e estima que se manifestará em 2025 sobre os pedidos das empresas EMS, Megalabs e Momenta. Uma das notas obtidas pela reportagem, contrária à aceleração do registro das canetas e elaborada pelo setor de avaliação de segurança e eficácia dos medicamentos, aponta que a mudança na ordem de análise poderia gerar questionamentos da indústria e da sociedade. Os técnicos alertam que outros pedidos com alta relevância clínica e impacto na saúde pública poderiam ser preteridos.

O documento também ressalta que a aceleração do registro de concorrentes como Ozempic não impediria a falsificação e a manipulação indiscriminada de medicamentos, além de não garantir a disponibilidade dos produtos no mercado. A Anvisa justifica a aceleração da análise dos concorrentes citando o risco de desabastecimento e relatos de falsificações. A prioridade foi inicialmente sugerida pela gerência de fiscalização do órgão. No edital de agosto, a Anvisa mencionou que o Ministério da Saúde defendeu a priorização para “reduzir a dependência tecnológica” e promover “soberania e autonomia nacional”.

Antes de acionar a Anvisa, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, divulgou os emagrecedores lançados pela farmacêutica EMS, que são os primeiros de fabricação nacional contendo liraglutida. Esses medicamentos são controlados, o que proíbe ações de marketing, como propaganda e entrega de amostras grátis. O aumento do consumo para fins estéticos tem gerado preocupação entre associações e sociedades médicas.

Durante a discussão do edital, outra área técnica da Anvisa, responsável pela avaliação da qualidade de medicamentos sintéticos, apontou que a agência apresentou dados com “fragilidade conceitual” sobre a concentração de mercado e o risco de desabastecimento ou falsificação. Os técnicos afirmaram que a argumentação da Anvisa não considerou que parte dos princípios ativos das canetas ainda está protegida por patente, levando a uma percepção equivocada sobre a concentração de mercado. O mesmo documento destaca que a falsificação dos medicamentos deve ser combatida por meio de ações de fiscalização e repressão sanitária.

A introdução de cópias não seria uma estratégia eficaz a curto prazo, pois, mesmo aprovadas, essas não seriam competitivas em preço em relação aos medicamentos falsificados, nem garantiriam a aquisição dos produtos falsificados apenas por questões de abastecimento. A nota também indica que a força-tarefa para avaliar as canetas ultrapassaria a capacidade de trabalho do setor. O departamento se opõe à “priorização ampla” e sugere que, se a Anvisa decidir seguir com a medida, no máximo três pedidos devem ser analisados por semestre. Essa sugestão foi acolhida pela direção da agência.

A área de avaliação de segurança e eficácia ressalta que a priorização pode atrasar a análise de medicamentos inovadores destinados ao tratamento de condições sérias e debilitantes, que possuem alternativas terapêuticas limitadas ou ausentes, como câncer colorretal metastático, epilepsia refratária, esclerose múltipla secundária progressiva e doença de Parkinson em fase avançada. O plano de acelerar o lançamento das drogas recebeu críticas de entidades como Interfarma e Sindusfarma, que apontaram riscos de insegurança jurídica e atrasos em outras avaliações. A PróGenéricos, por sua vez, afirmou que o aumento da procura pelos fármacos justifica a medida por “razões excepcionais de interesse público”.

Euclides Diário – Informação que importa, visibilidade que transforma – Anuncie com a gente – 75 99155-2806 (Whatsapp).

Publicidade

Descubra mais sobre Euclides Diário

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Rolar para cima