N/A

Um peixe comum na sua dieta tem um dom: um olho migra para o outro lado da cabeça em nome da evolução

0 views

O linguado é conhecido por ser um peixe versátil na culinária, podendo ser usado com diferentes combinações e receitas. Esse animal faz parte do grupo dos peixes chatos, que possuem corpo oval e achatado.

Uma outra característica da família dos linguados é bastante peculiar e chama atenção de pesquisadores: ele nasce com um olho de cada lado da cabeça, mas, durante a vida, um dos olhos migra para o outro lado. No final das contas, os peixes desse grupo ficam com dois olhos de um só lado da face.

Essa peculiaridade levantou dúvidas na comunidade científica sobre a evolução desses animais. Alguns pesquisadores chegaram até a duvidar da Teoria da Evolução de Darwin, a mais estabelecida na ciência. Agora, já sabemos o que acontece. Confira.

Peixe chato vive no fundo do mar, com apenas uma face virada para cima (Imagem: I, Luc Viatour/Wikimedia Commons)

Linguado e outros peixes têm dois olhos de um mesmo lado da cabeça

A anatomia é estranha, mas tem suas vantagens. O linguado e mais outras 800 espécies de peixes chatos vivem deitados no fundo do mar, com os olhos fixos na água acima. Quando alguma presa passa, eles atacam. Nesse caso, ter um dos olhos fechados na areia não seria de muita utilidade.

Mas essa característica intriga pesquisadores. A teoria da evolução mais conhecida é a de Charles Darwin, que propõem que os animais evoluem através da seleção natural. Aqueles que têm características mais vantajosas sobrevivem e passam essas características para as próximas gerações. Aqueles que não as têm, desaparecem.

O linguado e seus parentes fizeram alguns cientistas duvidarem dessa teoria. Um deles foi o biólogo britânico St. George Jackson Mivart. Ele argumentou que seria impossível que a migração lenta de um dos olhos para o outro lado da cabeça seria vantajosa em todas as etapas. Ou seja, em algum momento durante esse movimento, a característica não seria uma vantagem e poderia eliminar os animais.

evolução do peixe chato
São mais de 800 espécies na família dos peixes chatos (Imagem: Alfred Brehm – Tierleben/Wikimedia Commons)

Mas a teoria de Darwin prevaleceu, graças a outros parentes do linguado. Segundo o The New York Times, no começo dos anos 2000, pesquisadores descobriram que os parentes genéticos mais próximos do peixes chatos não são nada como eles. Na verdade, são grandes nadadores que passam a vida em mar aberto, como atuns e barracudas.

Isso sugere que, em alguma etapa da evolução, o linguado evoluiu para ganhar essa característica e se diferenciou de seus ancestrais. Uma pesquisa de 2018 descobriu que isso aconteceu há 66 milhões de anos, quando um asteroide atingiu a Terra e eliminou mais da metade das espécies daqui. A extinção em massa separou várias linhagens e forçou esses peixes a se estabeleceram no fundo do mar.

Linguado é um dos peixes chatos que mais conhecemos, por sua popularidade na alimentação (Imagem: yamada taro/Domínio Público)

Como essa migração acontece?

A mudança de hábitos levou à adaptação evolutiva. Um estudo de 2008 analisou fósseis de duas espécies antigas de peixes chatos e descobriu que eles tinham olhos dos dois lados da cabeça. No entanto, em algum momento, um dos olhos passou a ficar mais perto do topo do crânio.

A pesquisa documentou essa migração, com o olho indo aos poucos para o outro lado da cabeça.

Atualmente, sabemos como esse processo funciona:

  • O linguado e seus parentes nascem com um olho de cada lado;
  • Durante a metamorfose para a vida adulta, hormônios da glândula tireoide ativam genes do crânio do peixe que fazem o olho mudar de forma. Ele passa a ser empurrado para uma nova posição, do outro lado da cabeça.
  • Nesse processo, outros genes estimulam o crescimento de neurônios para que o olho continue conectado ao cérebro enquanto ‘viaja’ para o outro lado.

Leia mais:

E o que acontece depois que essa mudança é concluída?

Uma vez que a migração está completa, os peixes ficam com uma visão binocular para cima. Eles vivem deitados na areia no fundo do mar, escondidos, enxergando tudo que passa acima deles.


Descubra mais sobre Euclides Diário

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Rolar para cima