Em 2022, Wagner salvou o PT; agora, precisa do partido para sobreviver politicamente, por Raul Monteiro*

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Em 2022, Wagner salvou o PT; agora, precisa do partido para sobreviver politicamente, por Raul Monteiro*

Foto: Edilson Rodrigues/Arquivo/Agência Senado
O senador Jaques Wagner 20 de fevereiro de 2025 | 08:03

Em 2022, Wagner salvou o PT; agora, precisa do partido para sobreviver politicamente, por Raul Monteiro*

Previstas para julho próximo, as eleições à sucessão no comando do PT baiano devem reproduzir o mesmo clima de disputa entre os aliados do senador Jaques Wagner e do ministro Rui Costa (Casa Civil) observado há seis anos, quando Éden Valadares foi escolhido presidente estadual. Primeiro, porque ele continua como prioridade do grupo do senador para permanecer no comando da legenda. Depois, porque o partido já tem pelo menos quatro nomes na oposição interessados em partir para o embate contra ele, um dos quais o experiente Everaldo Anunciação, ex-presidente da sigla, assim como todos os demais de olho no apoio do ministro.

Então assessor direto de Wagner, Éden concorreu à presidência petista em 2019 por orientação do senador, na época preocupado em assegurar o controle do partido a fim de influir no jogo sucessório estadual de 2022. Foi o primeiro sinal público de que a relação entre ele e Rui, a quem fizera seu sucessor no governo da Bahia, não se baseava mais na confiança. Naquele momento, sentindo que o governador já não se alinhava mais tão bem com ele, Wagner queria ter o poder de definir a formação da chapa liderada pelo PT, inclusive plenas condições para impor seu nome de novo ao governo, se assim achasse conveniente.

O resultado foi outro, mas igualmente valioso para o senador. O controle sobre o PT acabou permitindo que ele pudesse abortar o projeto individualista de Rui de disputar o Senado, o que teria transferido automaticamente o comando do Estado para o vice-governador João Leão, do PP, iniciativa cuja consequência mais provável seria a de que hoje o PT não estivesse mais governando a Bahia. Sob essa ótica, Wagner, portanto, salvou o partido, razão porque a totalidade da legenda lhe agradece, bem como o governador Jerônimo Rodrigues, apesar do intenso suor vertido por Rui na campanha que levaria seu secretário de Educação a conquistar o Palácio de Ondina.

Agora, a batalha se desenvolve em um outro cenário, em que não está em jogo somente o futuro do PT baiano, mas a sobrevivência política do próprio Wagner. O senador é, de longe, a maior liderança local do partido, não apenas pelo charme e carisma, mas por ter liderado uma inédita tomada de poder na Bahia, conquistando para a sigla, pela primeira vez na história, o governo estadual. É dele o recorde de ter dado partida à mais bem sucedida trajetória eleitoral da legenda num Estado da federação, cuja longevidade de quase 20 anos é um marco. Mas já fazem quase 10 anos que Wagner deixou o governo, tendo concentrado sua atuação em Brasília.

Não espanta, portanto, que muitas de suas conexões com as lideranças municipais tenham se desfeito e que, para completar, seja desconhecido de toda uma nova geração de eleitores. Por esta razão, mais do que nunca, precisa do aval do PT para sustentar sua candidatura à reeleição na chapa a ser encabeçada por Jerônimo em 2026, onde o candidato majoritário que aparece como mais forte eleitoralmente entre os três, segundo as pesquisas, é exatamente Rui. Numa eleição direta, onde são eleitores todos os filiados e não mais cerca de 350 delegados, portanto, mais suscetíveis a influências, Wagner precisará do apoio de Jerônimo se quiser reeleger Éden.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*



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