A reforma da sede do Ilê Aiyê, um dos principais espaços culturais do Curuzu, em Salvador, terá uma nova empresa. A Superintendência de Obras Públicas (Sucop) e a empresa Ouriço Construções e Empreendimentos Ltda. formalizaram a rescisão consensual do contrato firmado para a obra.
O contrato, registrado sob o número 31/2024 e assinado em novembro do ano passado, previa a execução das obras de reforma parcial e ampliação do espaço. Segundo o documento oficial, o fim do vínculo foi motivado por interesse mútuo das partes, sem inadimplências ou pendências financeiras.
De acordo com o termo de rescisão, ambas as partes declararam que todos os créditos estão quitados e que não existem obrigações pendentes. O contrato foi originalmente resultado de uma licitação pública, e a Sucop informou, por meio de nota, que a rescisão foi solicitada pela própria empresa responsável pelas intervenções.
A superintendência anunciou ainda que convocará a segunda colocada na licitação para assinatura do contrato e assumir a continuidade dos serviços. A data para assinatura do novo contrato e o cronograma atualizado das obras ainda não foram divulgados pela Sucop. A rescisão foi formalizada no último dia 27 de maio.
A obra anunciada para o espaço tinha como valor global R$ 5,68 milhões para a total requalificação. O projeto do espaço foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF).
Na descrição da licitação, divulgada em novembro de 2024, foi informado alterações no espaço físico, na climatização, melhoria de acessibilidade, construção de sanitários PCD, substituição das instalações elétrica e hidráulica, além da compra de novos equipamentos e melhorias das condições da Escola Mãe Hilda.
Foto: Valter Pontes/ Secom PMS
A ordem de serviço para o início das obras foi assinada em fevereiro deste ano. Na época, o prefeito Bruno Reis (União) reforçou a importância da requalificação para a comunidade e revelou a possibilidade da Senzala se tornar mais um espaço ‘Boca de Brasa’.
“A ideia é que aqui também seja um centro profissionalizante. A Prefeitura está na iminência de assinar o contrato com o Banco de Desenvolvimento da América Latina, onde nós vamos ter recursos para a qualificação de mão de obra. E vamos aproveitar essa estrutura aqui existente para qualificar profissionais da área da cultura. Além da escola (Mãe Hilda), também iremos oferecer, no contraturno para as crianças, os serviços da Fundação Cidade Mãe”, afirmou.
No mesmo evento, Vovô do Ilê celebrou o investimento anunciado para o espaço e reforçou o impacto positivo da existência da Senzala para os jovens da comunidade.
“Tivemos muitas propostas para o Ilê, quando começou a crescer, sair daqui do Curuzu e ir para outro bairro, mas eu resisti. Somos o maior centro cultural, não só da Bahia. A maioria dos profissionais formados, entre cantores, dançarinos e percussionistas, chegou aqui com seis, sete anos. Muitos deles estão morando fora do Brasil, dando continuidade a esse trabalho que chamo de Revolução dos Tambores. A Senzala é um lugar de entretenimento, educação e de parcerias. Então, estou muito feliz por essa parceria com a Prefeitura que vai ampliar tudo o que já desenvolvemos.”
O prazo dado para a execução dos serviços previstos no Edital de Concorrência foi de 150 dias, a partir da data da assinatura da ordem de serviço, como aponta o cronograma físico-financeiro.
Com a suspensão do serviço, consequentemente, o prazo para a conclusão das obras, que era previsto para meados do segundo semestre de 2025, também é postergado.
SOBRE A SENZALA DO BARRO PRETO
Inaugurada em 27 de novembro de 2003, a Senzala do Barro Preto se tornou mais do que uma casa do primeiro bloco afro do Brasil.
O espaço, desenhado pelo arquiteto Pedro Rocha, construído em 2 anos com o apoio e financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), Petrobras e Eletrobras, alinhou-se aos desejos do Ilê Aiyê, e se tornou uma referência e liderança na luta por espaço, direitos e liberdade para o povo negro.
Foto: André Furtuoso
Em suas instalações, com mais de 5 mil m² de área construída, funcionam a sede administrativa do Ilê, o estúdio, a Escola Mãe Hilda, que educa de forma gratuita crianças entre 4 e 11 anos, e a Senzala se tornou um espaço de festas que conversam com a proposta do bloco. A sede do Ilê Aiyê tem oito andares e conta com laboratórios de informática, salas de aula, salas de pintura, cozinha industrial, entre outros espaços.
Em 2020, o espaço quase foi a leilão pela falta de pagamento em uma condenação trabalhista. Na época, o imóvel foi avaliado em R$ 295.603,57.
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