Vivemos uma realidade política em que o dinheiro se sobrepõe à dignidade da pessoa, onde o capital financeiro assume o papel de protagonista, encobrindo os valores morais e éticos que deveriam nortear a administração pública. O cenário atual é marcado pela prevalência do poder econômico em detrimento de ideias inovadoras e projetos que poderiam trazer transformações reais à sociedade. A política, que deveria ser a expressão máxima da busca pelo bem comum, tem se tornado um jogo de interesses onde o valor humano é frequentemente relegado ao segundo plano.
As campanhas políticas, especialmente em tempos eleitorais, tornam-se arenas de uma disputa desigual, na qual o peso do dinheiro fala mais alto que qualquer proposta voltada para a coletividade. Candidatos com boas intenções, mas com poucos recursos, são esmagados por máquinas eleitorais milionárias, financiadas por interesses privados que pouco ou nada têm a ver com o bem-estar da população. O que vemos é uma inversão de prioridades: o foco não está mais na qualidade dos projetos, mas na capacidade de mobilizar recursos financeiros, muitas vezes oriundos de práticas obscuras e contrárias à ética.
Essa lógica perversa não afeta apenas os processos eleitorais, mas também a gestão pública. Políticos eleitos com o apoio de “amigos” financiadores ficam reféns de acordos e compromissos que muitas vezes contrariam os interesses da população. O que deveria ser um mandato focado na promoção da justiça social, na melhoria da qualidade de vida e na construção de políticas públicas eficientes, torna-se uma administração voltada para atender a demandas privadas. Projetos importantes são engavetados ou sabotados para favorecer quem investiu financeiramente na campanha, e o desenvolvimento da sociedade é prejudicado.
Nesse contexto, a dignidade da pessoa humana é violentada. Cidadãos são tratados como números ou estatísticas, sem que suas reais necessidades sejam levadas em consideração. A busca por votos se resume à distribuição de benefícios imediatos e superficiais, em vez de promover políticas estruturantes que poderiam, de fato, transformar suas vidas. A política assistencialista, que em muitos casos é apenas uma fachada para perpetuar o controle eleitoral, torna-se mais uma ferramenta para manter o status quo, ao invés de proporcionar um verdadeiro progresso.
A inversão de valores é gritante. O que deveria ser uma disputa saudável de ideias e propostas, na busca pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária, se transforma em uma corrida desenfreada por poder e dinheiro. Ética, integridade e compromisso com o bem comum parecem conceitos cada vez mais distantes na prática política atual. Aqueles que ousam colocar a dignidade das pessoas em primeiro lugar e defender projetos que vão de encontro aos interesses dos grandes financiadores, muitas vezes são marginalizados e têm suas vozes silenciadas.
A situação torna-se ainda mais grave quando percebemos que essa lógica acaba sendo naturalizada pela população. Muitos cidadãos, desiludidos com a política, passam a acreditar que não há outra forma de se fazer gestão pública, aceitando como normal essa relação de subordinação entre dinheiro e poder. Esse é um dos maiores desafios que enfrentamos: quebrar esse ciclo vicioso e resgatar a política como instrumento de transformação social.
Precisamos urgentemente de uma nova postura política, baseada em princípios éticos e no verdadeiro compromisso com o bem-estar da população. Projetos que visem o desenvolvimento sustentável, a justiça social e a dignidade das pessoas devem ser priorizados em detrimento de interesses econômicos de alguns privilegiados. Somente assim será possível devolver à política o seu verdadeiro sentido: a construção de uma sociedade mais justa, solidária e humana, onde o ser humano seja, de fato, o centro das decisões.
A política não pode ser reduzida a um jogo de interesses financeiros. Quando isso acontece, todos perdem. É preciso resgatar o sentido de dignidade humana, onde cada pessoa seja respeitada e valorizada por aquilo que é, e não pelo quanto pode oferecer em retorno. Esse é o grande desafio da atualidade, e ele só será superado quando a ética, a transparência e o compromisso com o bem comum voltarem a ser os pilares da gestão pública.
Autor: Rubenilson Silva Campos (@rubenilson_campos_)
Advogado, servidor público estadual e atual vice-prefeito de Euclides da Cunha.
